Quase metade (49%) das fintechs – startups que aplicam tecnologia e inovação a produtos e serviços financeiros – receberam investimentos nos últimos anos no país. A maior parte desses recursos vieram de investidores-anjo (41,8%). Já entre as que ainda não receberam investimentos, a maioria (72%) está se preparando para buscar esses recursos no mercado. Somente 10,5% ainda não conseguiram um investidor. É o que mostra a pesquisa “Mapeamento Fintech 2022”, elaborada pela Deloitte, maior organização de serviços profissionais do mundo, junto com a Abstartups (Associação Brasileira de Startups).

  • Entre as que receberam investimento, maior parte foi de investidor-anjo (41,8%); maioria dos investidores são da cidade ou do estado de origem da fintech (53,6%);
  • 23,1% das fintechs mapeadas tiveram faturamento acima de R$ 1 milhão. Já 22,5% não tiveram ganhos no período;
  • Menos da metade (45%) possuem iniciativas relacionadas aos critérios ESG;
  • Apesar dos efeitos da pandemia, mais da metade das fintechs não demitiram colaboradores em 2021. 69% abriram processos seletivos no último ano;
  • A maioria das fintechs apoia a diversidade, mas somente 21% têm alguma ação ou processo seletivo para a inclusão desses grupos.


De acordo com o levantamento, existem 204 fintechs ativas no Brasil. Desse total, mais da metade foi criada entre 2019 e 2021. Cerca de 20,6% têm cinco anos ou mais de fundação. Praticamente um terço das fintechs brasileiras está na fase de tração (32,8%), última etapa antes da consolidação no mercado. A grande maioria (96%) têm até 100 colaboradores na equipe, sendo que mais da metade (51,4%) conta com no máximo 10 funcionários.

As fintechs brasileiras atuam, principalmente, com serviços de backoffice (21,57%), crédito (21,08%) e meios de pagamento (21,08%). Outras 16,18% têm como oferta principal serviços digitais, 12,75% tecnologia, 3,92% investimento e menos de 2% trabalham com gestão de ativos (1,96%), negociação (0,98%) e compliance e gestão de risco (0,48%). Nenhuma atua com custódia digital.

O principal modelo de negócios dessas startups é a taxa sobre transações (39,7%), mas destacam-se também o modelo SaaS, ou software as a service, (29,4%) e o marketplace (10,8%). O público-alvo de 46,1% das fintechs são outras empresas (B2B). Já 42,2% trabalham com empresas e consumidor final (B2B2C). Outras 9,3% estão focadas somente no consumidor final (B2C) e 2,5% no modelo peer-to-peer (P2P).

Mais da metade das fintechs estão concentradas na região Sudeste (52%), em seguida vem o Sul (27,5%), Nordeste (13,2%), Centro-Oeste (3,9%) e Norte (3,4%). São Paulo (39,2%), Santa Catarina (14,7%) e Minas Gerais (8,8%) são os três estados mais representativos. Entre as cidades, destaque para as capitais São Paulo (26,0%), Florianópolis (5,9%) e Curitiba (5,9%). Campinas, Joinville e Uberlândia são os únicos municípios não capitais que aparecem no ranking das 10 cidades com mais fintechs.

Em 2020, 77,5% das fintechs tiveram faturamento, sendo que 23,1% acima de R$ 1 milhão. Já 22,5% não tiveram ganhos no período. Conforme a pesquisa, 15% possuem negócios no exterior. Cerca de 14% têm alguma patente. E 51% já pivotoram a empresa, ou seja, reinventaram o negócio, aproveitando sua estrutura e ideia inicial. A maioria das fintechs mapeadas (94%) já se relacionou com players do mercado, sobretudo com hubs de inovação (32,9%) ou corporates (27,4%), o que é visto como um caminho estratégico para elas.

Investidor-anjo é a principal fonte de investimento

A pesquisa da Deloitte com a Abstartups mostra também que 49% das fintechs receberam investimentos nos últimos anos. A maior parte (41,8%) de investidor-anjo, 22,0% de seed e 20,3% de programas de aceleração. O investidor ou grupo de investimento, geralmente, é do mesmo estado ou cidade de origem da fintech (53,6%). Já 32,3% vêm de outro estado e 14,1% de outro país. Entre as fintechs mapeadas, mais da metade (55,6%) obteve investimentos de mais de R$ 1 milhão.

Entre as fintechs que ainda não receberam investimento, a maioria (72%) está em busca de capital para se desenvolverem. Entre as que ainda não receberam investimento, 45,7% disseram que estão se preparando para buscar esses recursos no mercado, 18,1% estão na fase inicial ou já realizaram bootstrapping (começaram o negócio sem apoio de investidor), e 10,5% afirmaram que estão buscando investidores para o negócio, mas ainda não conseguiram.

Mais da metade das fintechs não demitiu durante a pandemia

Em 2021, em meio à pandemia, mais da metade das fintechs (51,5%) não precisaram realizar nenhuma demissão. Outras 41,2% demitiram de 1 a 5 colaboradores. Entre as que demitiram, o principal motivo foi a incompatibilidade cultural e/ou de valores (53,5%), seguido da reestruturação no time da startup (27,3%). Somente 7,1% demitiram por necessidade de corte de gastos.

No mesmo período, 69% das fintechs abriram processos seletivos para contratação de pessoal. A maioria contratou, no ano passado, de 1 a 5 colaboradores (46%). O principal motivo para o não preenchimento da vaga foi não encontrar profissional com todas as habilidades necessárias para ocupar a posição (39,5%). De acordo com a pesquisa, o cenário de oportunidades das fintechs oferece uma das maiores taxas de contratações do mercado das startups, acima da média nacional (56%).

“A demanda pelas fintechs nunca foi tão alta. Empresas e usuários em geral estão cada vez mais confiando na tecnologia para ajudá-los a navegar em seus produtos e serviços financeiros. Ainda em curva de aprendizado e de adequação, há um celeiro de oportunidades e a tendência é que isso se intensifique cada vez mais, uma vez que o mercado bancário brasileiro ainda tem muitas oportunidades, inclusive de parceria com bancos tradicionais, que tendem a buscar parceiros para apoiá-los em seu processo de transformação digital”, declara Ingrid Barth, vice-presidente da Abstartups.

Diversidade e iniciativas ESG

Os dados também mostram que menos da metade (45%) das fintechs têm alguma iniciativa relacionada aos critérios Ambiental, Social e Governança (ESG, na sigla em inglês). Em torno de 16,2% afirmaram adotar fatores de governança como ética e transparência, código de ética e cultura e compliance; 14,7% ações sociais como valorização do time de colaboradores, diversidade e inclusão e LGPD; 2,5% projetos de impacto do negócio no meio-ambiente, gestão de resíduos, poluição e reciclagem. Somente 11,8% têm iniciativas em todas as frentes do ESG.

As fintechs brasileiras foram fundadas, principalmente, por homens (84,8%), com mais de 36 anos (56%) e ensino superior completo (93%) com alguma especialização (60%). A maioria atua como CEO (77%) na startup. Somente 22,1% se autodeclararam pretos ou pardos. A maioria dos fundadores são brancos (71,6%) e heterossexuais (95,6%). Apenas 1,5% se declararam homossexual e, ninguém, bissexual. Já 2,9% declararam outra orientação sexual ou não quiseram responder.

A pesquisa também mostra que 97% das fintechs afirmam apoio à diversidade, mas somente 21% possuem alguma ação ou processo seletivo para diversidade. Entre as empresas que responderam à pesquisa, 17,2% não têm nenhuma mulher no time, e 22,5% não têm nenhum colaborador preto ou pardo. A maioria não tem colaborador com 50 anos ou mais (60,3%), com deficiência (89,2%) e transexual (91,7%).

Com informação da Ideal H+K Strategies