Após concluir uma reestruturação iniciada há dois anos e registrar um caixa de R$
360,8 milhões, no ano passado, a direção da Itautec já se sente confortável para
fazer planos de investimentos em aquisições e traçar a expansão internacional para
a companhia. O processo de mudanças começou com a reformulação das áreas
administrativa e financeira, a partir da contratação do presidente Mário Anseloni, o
primeiro executivo não pertencente ao grupo Itaú a comandar a companhia, e
agora toma novos rumos.

Anseloni disse que nos primeiros dias de sua gestão encontrou uma empresa com
sérios problemas operacionais. Entre esses fatores figurava, por exemplo, a
ausência de estratégias e portfólios específicos para cada segmento de atuação da
companhia, conhecida pela fabricação de computadores e equipamentos de
automação bancária e comercial. “A mentalidade era muito mais de não perder o
jogo do que tentar ganhar. Eu precisava dar robustez operacional para só então
poder traçar planos mais audaciosos de crescimento”, afirmou.

Para o executivo, a Itautec está agora em um patamar propício para levar à frente
seu projeto de aquisições. Como base para esse movimento, ele ressaltou a posição
financeira da companhia, com um saldo de caixa bem superior ao que encontrou
quanto assumiu, no começo de 2010: R$ 32,7 milhões registrados no fim de 2009.
Na mesma base de comparação, a Itautec saiu de uma dívida líquida de R$ 217
milhões há dois anos para uma dívida líquida de R$ 138,4 milhões no fim de 2011.
Anseloni destacou também alternativas como a captação de financiamentos e
empréstimos, e a possibilidade de realizar acordos por meio de troca de
participação acionária.

A ideia do executivo é apostar na compra de companhias segmentadas de software
e serviços no mercado brasileiro, com o objetivo de ampliar portfólio. Em
detrimento do ganho de escala, Anseloni avalia que adquirir produtos e serviços
que já estão maduros e foram aprovados pelo mercado é a melhor forma de reduzir
os riscos em investimentos desse porte.

O primeiro passo nessa direção foi dado com a aquisição recente da carioca
BioLógica Sistemas, que desenvolve softwares de biometria em vertentes como
reconhecimento facial e por meio de dedos e veias da mão. Os termos financeiros
da transação não foram revelados. A partir do acordo, a BioLógica passará a ser
controlada pela Itautec, mas manterá sua independência operacional. “Compramos
a capacidade intelectual da BioLógica. Não queremos destruir a essência de
inovação que eles têm e que nos dará um forte diferencial competitivo”, disse.

Além da aplicação no segmento de automação bancária, a Itautec vê boas
perspectivas de adoção para as tecnologias de biometria em outras áreas de
negócios, como a autenticação para o uso de computadores nos ambientes
empresariais em substituição ao modelo tradicional de senhas.

O investimento em aquisições reforça a intenção da direção da empresa em
modificar seu foco de atuação: de uma companhia antes voltada prioritariamente à
oferta de equipamentos para um espectro que abrange também software e,
principalmente, serviços. O movimento segue uma tendência observada em outras
empresas de tecnologia, como a IBM e, mais recentemente, a Dell.

Por trás desse redirecionamento de rota estão fatores como a busca por
alternativas às margens de lucro cada vez mais reduzidas em equipamentos. Em
2011, por exemplo, a Itautec registrou um salto de 23,1% no volume de vendas de
PCs. Em contrapartida, a receita líquida do segmento cresceu apenas 1,1%, para
R$ 721,2 milhões.

Com sua experiência de 11 anos na Hewlett-Packard (HP) – três deles no comando
da subsidiária brasileira da companhia -, Anseloni observou que esse cenário é
ainda mais crítico para os fabricantes brasileiros, em meio ao desafio de competir
com multinacionais. “O foco dessas grandes empresas estrangeiras no Brasil é
ganhar participação de mercado. Rentabilidade vem depois. Com o poder de escala
que possuem, elas adotam estratégias agressivas de preços e ‘arrebentam’ com o
mercado”, afirmou.

Por isso, a Itautec ampliou sua presença no varejo, estabelecendo parcerias com
cerca de 30 redes no Brasil. Ao mesmo tempo, a empresa aposta que a cobertura
de sua área de serviços pode ser um diferencial em relação às estrangeiras. A rede
de assistência técnica da Itautec tem 2,5 mil técnicos, 33 filiais e dez laboratórios
de reparos no país.

Na área de computação empresarial, a Itautec tem procurado reduzir a
dependência do segmento de governo, mais restrito a compras sazonais. No
primeiro trimestre, o setor respondeu por 40% das receitas de computação
corporativa, ante uma fatia de 70% em 2011. Entre janeiro e março, os 60%
restantes foram gerados por companhias privadas.

No segmento de automação bancária, a Itautec começa a reforçar a busca por
contratos de fornecimento de caixas eletrônicos (ATM) no exterior. Depois de fechar
um projeto de 3 mil ATMs no México, em 2011, a empresa visa agora novos
acordos em mercados da Europa, Ásia e África. A previsão é de que os projetos
internacionais respondam por um terço das receitas de automação bancária em
médio prazo. O faturamento de automação no ano passado, que inclui automação
comercial, foi de R$ 380,2 milhões.

Anseloni ressaltou que o ciclo para obter retorno financeiro em um contrato de
ATMs é longo, em virtude do tempo necessário para o desenvolvimento de projeto
específico para cada instituição. No entanto, disse acreditar que o mercado
internacional torna-se uma opção de crescimento na medida em que as operações
dessa divisão no Brasil vão enfrentar desafios.

Entre as dificuldades locais, o executivo citou a queda de 40% no preço do ATM,
nos últimos 12 meses. Outro aspecto é a concentração do setor financeiro e o fato
de a Itautec estar muito associada ao Itaú, o que limita a sua entrada em outras
instituições financeiras. “Ao mesmo tempo, os bancos estão reduzindo os
investimentos em novas agências. Por consequência, há uma forte tendência de
queda na compra de ATMs no país”, explicou. Por Moacir Drska
Fonte: Valor Econômico 24/05/2012

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Itautec vai às compras e investe na área de biometria

 A Itautec, companhia de tecnologia do grupo Itaúsa, anunciou nesta segunda-feira, 28/05, a compra da da BioLógica Sistemas, empresa com sede no Rio de Janeiro (RJ), especializada em desenvolvimento de software e serviços na área de biometria computacional e análise de sinais. O valor da transação não foi revelado.

 “A aquisição é estratégica para a Itautec, pois há uma forte tendência de adoção de tecnologias biométricas no segmento corporativo. O acesso a essas tecnologias nos garante entregar soluções avançadas e inovadoras, que proporcionem maior fidelização, comodidade, segurança e ganhos operacionais aos nossos clientes”, comenta Wilton Ruas, vice-presidente de automações da Itautec e novo diretor-presidente da BioLógica.

 Fundada em 2004 pelo empresário Americo Lobo, que tem larga experiência na área de ciência da computação e inteligência artificial, a BioLógica Sistemas desenvolve tecnologia baseada na computação e biologia, oferecendo soluções em biometria para cadastramento, autenticação e identificação. A empresa é referência no Brasil graças à experiência acumulada em biometria e é reconhecida, inclusive, internacionalmente. Em âmbito nacional, a BioLógica Sistemas já desenvolveu diversos projetos para o varejo e para instituições governamentais, tais como Ministério da Educação, Polícia Federal e Polícia Militar do Rio de Janeiro.

 Um dos atrativos do negócio foi a complementaridade dos segmentos de atuação da Itautec e da BioLógica Sistemas. Além de contar com um grande portfólio nas áreas de Computação e Serviços, a Itautec desenvolve atualmente produtos e soluções para automação comercial, bancária e de autoatendimento – mercados importantes para o negócio da BioLógica Sistemas.

 A BioLógica Sistemas será uma empresa controlada pela Itautec, com diretoria executiva própria para a gestão dos seus projetos. A empresa manterá sua independência operacional, comunicação e identidade visual, e ampliará sua atuação no mercado. Americo Lobo continuará à frente da unidade no cargo de diretor-geral.
Fonte:Convergência Digital 28/05/2012