Ruptura na cadeia contábil
Inteligência Artificial e machine learning geram 98% de precisão em cenários tributários e reduzem gargalos do setor.
Não se trata de um mercado fácil. O emaranhado fiscal brasileiro criou um universo que movimenta R$ 158 bilhões, fatiado entre pelo menos 84 mil escritórios de todos os portes para atender empresas igualmente heterogêneas — tributadas em MEI, Simples Nacional, lucro presumido e lucro real. Um ecossistema fragmentado que emprega 522.840 profissionais, segundo o Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
Mas o complicador desse universo não está no número elevado de players, ou de contadores. Está no imbróglio fiscal brasileiro, em que leis federais, estaduais e municipais muitas vezes se sobrepõem ou, pior, se opõem.
Foi vislumbrando esse caos que a startup Roit viu uma gigantesca oportunidade. Por meio do uso intensivo de tecnologia, a empresa paranaense nascida em 2016 tem 150 funcionários, carteira de mais de 300 empresas e um plano ambicioso: se tornar um unicórnio — aquelas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. São 1.164 unicórnios no mundo, sendo 17 brasileiros, segundo o relatório da CBInsights. E quem lidera essa marcha de inovação contábil é Lucas Ribeiro, o CEO de 35 anos da Roit. “O principal problema do mercado contábil ainda hoje é a cultura: das empresas e das pessoas”, afirmou à DINHEIRO. “É uma área pouco inovadora, que ficou para trás na tecnologia.”
Ao utilizar modelagem de Inteligência Artificial e outras soluções tecnológicas, a empresa ataca gargalos históricos do segmento. O que atraiu certa ira por parte de escritórios contábeis, contadores e dos próprios conselhos de contabilidade. “Até hoje, o CRC do Paraná nos notifica e é custoso manter uma equipe para responder todas as notificações”, afirmou Ribeiro. “Eles imaginam que vamos substituir ou eliminar os profissionais de contabilidade, mas isso é falso.” Uma atitude parecida à de taxistas que atacavam motoristas de aplicativos para manter artificialmente uma reserva de mercado. Procurado, o CRC do Paraná não respondeu à reportagem.
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“O principal problema do mercado contábil ainda hoje é a cultura: das empresas e das pessoas. É uma área pouco inovadora, que ficou para trás” Lucas Ribeiro, CEO da Roit
Com a IA e a robotização, a Roit simplesmente automatiza as operações possíveis. O próximo passo, no entanto, deve preocupar mais a categoria. Já é possível utilizar a tecnologia em funções analíticas e estratégicas. Isso não quer dizer que o contador vai ficar sem trabalho, mas que suas atividades mudarão e que ele terá que se atualizar — como advogados iniciantes que deixaram de fazer copy-paste em processos e largaram isso para máquinas.
Glaydson Trajano, conselheiro do CFC, não tem nada contra a corrente. Ele disse que a tecnologia contribui para que os escritórios entreguem cada vez mais um produto impactante para os negócios do cliente. “O trabalho do profissional ficará muito mais estratégico”, afirmou. “Há um público cada vez mais ávido por respostas rápidas e eficazes, e a automação e a IA resolvem isso.”… leia mais em Isto é Dinheiro 24/06/2022