Repetindo um movimento observado em outros segmentos econômicos, o mercado de tecnologia da informação (TI) vem se caracterizando por um forte processo de consolidação. Dados da Ernst & Young mostram que em 2010 o número de fusões e aquisições no setor cresceu 41% e alcançou a marca de 2,6 mil acordos.

A americana Attachmate – especializada em sistemas de gestão de infraestrutura de TI – é uma das companhias que vem contribuindo para impulsionar esses índices. Desde 2005, a empresa pertencente aos fundos Francisco Partners, Golden Gate Capital, Elliot Management e Thoma Bravo investiu mais de US$ 2,5 bilhões em aquisições para ganhar corpo.

Com as aquisições da Net IQ, em 2006, e da Novell, em 2010, a Attachmate saltou de uma receita inferior a US$ 500 milhões para um faturamento estimado de US$ 1,1 bilhão, em menos de dois anos. Por outro lado, a companhia vem enfrentando um desafio comum em processos desse porte: a integração das novas operações.

“Nossa filosofia é manter as coisas simples. Não queremos montar um mosaico complexo de ofertas”, diz Jeff Hawn, presidente do conselho e executivo-chefe do Attachmate Group.

No comando da companhia desde o início da estratégia de aquisições, Hawn teve uma passagem anterior de dez anos como sócio da consultoria McKinsey. A partir das diversas fusões e aquisições de que participou ao longo desse tempo, ele diz acreditar que a busca pela simplificação é o ponto-chave para ser bem-sucedido nesses processos.

Essa abordagem no caso do Attachmate Group refletiu-se na decisão de manter quatro empresas com atuação e estruturas independentes. Além da Net IQ e da Novell, a relação inclui a própria Attachmate e a SuSE, companhia criada a partir das ofertas de Linux – sistema operacional de código aberto – da Novell.

Hawn afirma que a escolha por dar autonomia a cada uma das empresas aprimora e torna mais ágil o atendimento a demandas específicas dos clientes. Ao mesmo tempo, ele ressalta que esse modelo não exclui a possibilidade de aproveitar as oportunidades de vendas cruzadas de produtos. Os portfólios são complementares e isso abre espaço para ampliar a presença nos clientes, afirma.

Reforçando essa visão, o executivo diz que apesar da oferta de sistemas com diferentes finalidades e aplicações, há uma filosofia comum no grupo. “Nossa ideia é reduzir a complexidade nos ambientes de TI”, afirma.

Sob o cenário recente de crescimento da operação, outra estratégia adotada pelo grupo foi manter-se como uma empresa de capital fechado. Essa decisão estendeu-se à Net IQ e à Novell, empresas que tinham ações negociadas na Nasdaq antes de ser adquiridas pelo grupo.

Hawn afirma que não há intenção de mudar essa abordagem em longo prazo. Para ele, as empresas de capital aberto acabam ficando muito sujeitas às oscilações das expectativas do mercado financeiro. Esse contexto se agrava no caso das companhias de software. “Há uma grande preocupação do mercado financeiro pelo próximo passo, pela inovação. E nem sempre o que é atraente para esses investidores é igualmente interessante para os clientes. Preferimos gastar nossa energia com nossos usuários”, diz.

Em meio ao panorama de mudanças, o Brasil é apontado como um dos mercados de maior potencial e de crescimento mais rápido para a Attachmate. Atualmente, o país responde por 50% das receitas na América Latina.

Embora não revele mais números da operação local, Hawn explica que parte dessa expectativa está relacionada ao fato de que muitas empresas brasileiras estão investindo na expansão global de seus negócios, o que demanda mais investimentos em infraestrutura de TI. Esse mesmo movimento ocorre no plano das companhias globais que estão reforçando suas operações no país. Os segmentos apontados como mais promissores no Brasil são finanças, governo, varejo e transportes.

Mesmo sinalizando perspectivas mais positivas para a oferta dos sistemas da Net IQ e SuSE no Brasil, o executivo diz que as quatro empresas do grupo têm o mesmo potencial de crescimento no país. “Tenho quatro crianças. Fica difícil dizer de qual delas gosto mais”, brinca.

Como parte da relevância que o Brasil e a América Latina vêm assumindo para a Attachmate, Hawn diz que o grupo prevê em curto prazo a ampliação do quadro de funcionários na região, que hoje é de 100 pessoas. Por Moacir Drska
Fonte:Valor06/10/2011