O processo de demissões de diversas startups brasileiras ocorreu de forma natural. Pensando bem, até demorou para que isso acontecesse aqui, pois já estava muito bem desenhado. Isso acontecerá na sequência também com outros países em desenvolvimento — em estágios mais atrasados que o Brasil. É um segmento que está muito carregado de “ideias disruptivas” e com uma voracidade por parte dos investidores muito acima do esperado. Eles investiram em projetos que não eram bem validados pelos mercados consumidores e que não tinham um propósito definido. Muitos deles miraram o ralo e, de fato, acertaram.

O resultado desse “desequilibrado crescimento” veio seguido de uma supervalorização da mão de obra de desenvolvedores e uma certa banalização da tecnologia com a retirada de quase todo valor e diferencial que ela poderia proporcionar aos mercados. Viu-se um movimento de profissionais não capacitados na área de programação sendo recrutados por salários de 10 a 15 mil reais mensais, vencimentos que engenheiros e advogados com dez anos de profissão não ganham. Assim, os custos dessas startups aumentaram consideravelmente e, consequentemente, não conseguiram manter mais a formação de caixa positivo, pois os preços dos seus produtos começaram a cair de forma drástica. Devido a isso, os negócios começaram a ficar inviabilizados e os investidores começaram exigir as devidas adequações.

Houve um superdimensionamento do mercado brasileiro por parte das empresas. Temos o exemplo do iFood que, em apenas uma tacada, tirou do campo duas companhias multibilionárias: a Glovo e a Uber Eats. Tudo porque essa ideia já era bem explorada. As empresas que saíram fizeram contratações, investiram e se movimentaram, porém, o segmento e os investidores esqueceram de combinar como seria o relacionamento. O resultado foi o que vimos. Quem paga ou quem consome não está disposto a validar uma super ideia que muda a barra de pesquisa de um app de lugar na tela, ou que a plataforma X pague 5% a mais de comissão para o entregador. O mercado de startups é voraz e não adianta apenas ter dinheiro, ele não sustenta uma startup por mais do que três anos, elas precisam ser sustentáveis. É preciso que essa ideia seja validada por quem usa ou por quem paga.

Ainda teremos muitos cortes no setor e ele seguirá se reacomodando. Vagas de emprego na área de TI continuarão sendo eliminadas no Brasil. Porém, enquanto estivermos com o câmbio num patamar de cinco para um, teremos uma demanda aquecida vindo de mercados estrangeiros, e essa mão de obra poderá seguir trabalhando em projetos internacionais no país. Não vejo com preocupação instantânea o índice de desemprego em TI no Brasil. Eu, por exemplo, trabalho com pessoas que são fluentes em inglês, e isso é o necessário para executar projetos internacionais, ganhar bem em dólar e custar barato para as empresas estrangeiras. O setor seguirá aquecido — apesar de não quente como há alguns anos — e crescendo organicamente, mas em volume bem menor.

Existe um mercado completamente novo que está nascendo — que eu costumo dizer que é a nova internet — e quem navegar nessa primeira onda de forma profissional e correta vai, com certeza, estar à frente de uma empresa unicórnio e esse mercado chama-se blockchain. O blockchain será a nova internet. Bill Gates afirmou em 1994 que em 2010 existiria apenas um tipo de empresa: a que estaria na web. E ele estava certo mais uma vez. E afirmo aqui: até 2040 todas empresas terão que ter suporte ao blockchain. Isso empodera o validador do negócio, nesse caso o consumidor. A oportunidade está aí, diante dos seus olhos.

Sem uma ideia consumada, fortalecida e validada não há trade. Sem trade não há business. E o grande desafio aqui, para gestores de startups ou de fundos, é saber o exato momento em que determinado projeto deixa de ser criança e passa a ser adolescente — como pessoa jurídica. E tratar adolescente como criança, nós sabemos bem o que acontece. Nas empresas é a mesma coisa… saiba mais em meio&mensagem 09/09/2022