O fundador do SoftBank, Masayoshi Son, avisou seus principais executivos para que desacelerem os investimentos, diante dos esforços do maior grupo investidor em empresas de tecnologia para levantar dinheiro, em meio à queda das ações do setor e à ofensiva fiscalizadora na China.

O bilionário japonês fez os comentários em recente reunião com a equipe de liderança, segundo fontes que tomaram conhecimento das discussões, como parte da reação do SoftBank ao enorme golpe que o valor de suas participações acionárias sofreu nos últimos meses.

Os comentários, que ainda não haviam chegado a público, permitem um raro vislumbre da crescente tensão dentro do SoftBank, grupo que tem sacudido o cenário mundial dos investimentos em tecnologia desde o lançamento de seu primeiro Vision Fund, em 2017.

O aumento das taxas de juros pelo mundo e a guerra na Ucrânia impactaram suas participações, enquanto a queda livre no valor de seus investimentos na China serviu de amargo lembrete sobre como a sorte pessoal de Son ficou entrelaçada ao grupo fundado por ele – e a seu fundo de US$ 100 bilhões, à mercê do apetite mundial por risco no setor de tecnologia.

Estima-se que a baixa contábil nos investimentos do grupo japonês neste trimestre chegou a estar em US$ 30 bilhões, embora agora ela esteja mais próxima a US$ 20 bilhões, graças à recente recuperação de algumas ações, segundo as fontes.

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SoftBank quer desacelerar investimento

As avaliações de empresas chinesas negociadas no exterior entraram em colapso”, disse uma fonte, próxima à equipe da China do SoftBank. “Não prevemos uma recuperação tão cedo.”

Uma pessoa a par dos planos da empresa acrescentou que o SoftBank está pressionando para que se levante dinheiro e estudando a venda de ativos.

Durante a onda de desvalorização, Son ficou alarmado com a situação dos empréstimos pessoais que captou tendo as ações do SoftBank como garantia, de acordo com pessoas próximas a ele. O SoftBank não quis comentar as informações.

Alguns analistas acreditam que o SoftBank deverá conseguir resistir à tempestade e ressaltam que a firma tem um caixa estimado de US$ 23 bilhões. De acordo com a firma de análises New Street Research, o valor é suficiente para “cobrir juros, resgates de títulos e uma potencial chamada de margem do Alibaba de US$ 6 bilhões”, assim como para dar prosseguimento ao programa de recompra de ações e a novos investimentos, embora em ritmo mais lento. A política financeira do SoftBank também requer que a empresa tenha uma posição de caixa suficiente para cobrir os resgates dos títulos dos próximos dois anos, no mínimo.

O Vision Fund, que conta com capital da Arábia Saudita e de Abu Dhabi, foi originalmente planejado para ser o primeiro de uma série de fundos administrados pelo braço de investimentos do SoftBank. Sua imagem, porém, sofreu duros golpes, por problemas com sua cultura desregrada e a implosão de algumas apostas de alto perfil, como a feita na firma de compartilhamento de escritórios WeWork. O SoftBank não conseguiu levantar dinheiro externo para seu segundo Vision Fund.

As ações do SoftBank desvalorizaram-se mais de 40% em 2021. Um indicador de sua dívida líquida em comparação ao valor das participações – monitorado de perto por Son como termômetro da saúde financeira da empresa – saltou de menos de 10% em meados de 2020 para 22%, aproximando-se dos 25%, um limiar que Son prometeu não cruzar em “tempos normais”.

As dificuldades do SoftBank provocaram ondas de choque pelos mercados de capitais, uma vez que os operadores estão atentos a sinais de problemas na ampla carteira de investimentos da firma japonesa.

No início de março, o SoftBank contratou o Goldman Sachs para vender um bloco de ações de US$ 1 bilhão na empresa de comércio eletrônico sul-coreana Coupang, um dos maiores sucessos do primeiro Vision Fund. O SoftBank vendeu a participação a um preço inferior a US$ 21 por ação, 40% a menos que o da arrasadora oferta pública inicial de ações (IPO) e em 2021, que havia conferido à participação da empresa japonesa na Coupang um valor em torno a US$ 20 bilhões.

Para tentar levantar mais dinheiro, o SoftBank também usou suas ações na Coupang e em outras grandes apostas do Vision Fund como garantia para captar créditos. O grupo de tecnologia japonês também está concluindo operações de empréstimo no valor de US$ 10 bilhões vinculados ao IPO da projetista de chips britânica Arm Holdings, após o naufrágio da da tentativa de venda da empresa por US$ 66 bilhões para a rival norte-americana Nvidia em fevereiro.

Son também fez empréstimos pessoais tendo como garantia a própria participação no SoftBank, elevando recentemente o comprometimento a cerca de um terço de suas participações totais no grupo.

Uma das fontes a par da situação disse que Son está “muito preocupado” com esse aumento. Son é dono de cerca de um terço do SoftBank e usou sua participação para conseguir empréstimos e investir pessoalmente no Vision Fund.

Uma grande parte do valor patrimonial líquido do SoftBank está nos Estados Unidos e na China, onde as autoridades têm se empenhado em enfrentar o poder de mercado das grandes empresas de tecnologia. O valor da participação do SoftBank no Alibaba desabou de cerca de US$ 208 bilhões em novembro de 2020 para US$ 69 bilhões em março, depois que as autoridades chinesas cancelaram a IPO de sua unidade de tecnologia de serviços financeiros, o Ant Group, e passaram a exercer maior controle sobre o setor de tecnologia.

“Quando o Alibaba entrou em colapso há uma ou duas semanas, fiquei preocupado porque a margem de segurança encolheu e a justificativa [a favor] das ações do SoftBank tornou-se menos convincente”, disse um investidor da Ásia, que aposta no crescimento de longo prazo do SoftBank.

Os bilhões investidos pelo Vision Fund em grupos de tecnologia chineses enfrentam fortes perdas. Quase todos seus investimentos em empresas chinesas de capital aberto estão sendo negociados abaixo dos preços de compra e os bilhões investidos em empresas de ensino on-line correm risco de desaparecer, depois que Pequim proibiu o lucro no setor.

A maior aposta do fundo na China, a gigante Didi, de serviços de transporte, está cerca de US$ 9 bilhões abaixo do preço de compra. A empresa está atualmente com seus aplicativos excluídos das lojas locais virtuais, como parte de uma investigação sobre suas operações por preocupações quanto à segurança nacional da China.

A desaceleração nos investimentos chega na esteira de um ano de negócios frenéticos. O SoftBank fez investimentos em 195 empresas de capital fechado em 2021, tornando-se um dos investidores de tecnologia mais atuantes durante um período recorde para investimentos de risco, de acordo com ….. leia mais em Valor Econômico 31/03/2022