A Sonangol abriu a porta a fusões no Banco Comercial Português (BCP), segundo deixou claro, em entrevista à Reuters, o presidente da petrolífera angolana, Sebastião Gaspar Martins, quando questionado sobre a união entre o BCP e o Novo Banco que o governador do Banco de Portugal considerou que traria “sinergias benéficas”.

“Acreditamos que na medida em que qualquer movimento de fusão reforce a nossa posição, no que diz respeito ao aumento de vantagens competitivas e diversificação do risco, vamos continuar a prestar atenção ao comportamento dos mercados e as nossas decisões serão baseadas em avaliações a serem feitas antes de qualquer movimento. Acreditamos, sim, que uma potencial fusão do Banco Millennium bcp deverá ser com outra instituição que promova o aumento do valor do banco e melhore as suas cotações na bolsa”, indicou à Reuters o CEO da Sonangol, empresa que detém 19,49% do capital do BCP, atrás dos 29,95% nas mãos do grupo chinês Fosun.

Na resposta não há uma menção específica à união do BCP ao Novo Banco, já que respondeu de forma mais aberta. O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, afirmou recentemente que é “inevitável” que haja consolidação na banca portuguesa.

Sonangol mantém posição no BCP

BCP e Galp estratégicas

A afirmação de Sebastião Gaspar Martins menciona diretamente a opção de fusão, mas já em 2020 as portas tinham sido deixado abertas: “Embora mantenha a sua estratégia em relação ao banco [a Sonangol] está atenta a eventuais movimentos de consolidação bancária na zona euro e em Portugal, e que, como investidor, analisará, sempre em estreita articulação com o banco e os demais acionistas estratégicos, eventuais oportunidades de criação de valor que possam fazer sentido para a Sonangol, para o banco e para os seus acionistas”, comunicou na altura à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

À Reuters, o CEO da Sonangol voltou a dizer que o banco liderado por Miguel Maya é “estratégico”, na mesma medida em que a Galp Energia. “A Sonangol tem, nos investimentos na Galp e no Millennium bcp, interesses estratégicos e financeiros, e por esta razão mantém a sua participação nas duas empresas, continuando a acompanhar o seu desempenho, no sentido de assegurar a sua valorização e ganhos com dividendos”, continuou o responsável. A Sonangol tem 45% da Amorim Energia, em parceria com os herdeiros de Américo Amorim, uma entidade que é dona de 34% da Galp.

“A Sonangol vai manter os seus investimentos nas duas empresas, enquanto se mostrar estratégica e financeiramente viável”, continua Sebastião Gaspar Martins à agência internacional.

No caso do BCP, a Sonangol mantém-se assim estratégica, mas disponível para avaliar uma mudança acionista, numa altura em que a Fosun, ainda que reafirmando a sua importância, está a alienar ativos para ser capaz de fazer face a problemas de liquidez. O próprio BCP tem rácios de capital com pouca margem face às exigências do Banco Central Europeu, quando comparado com os principais concorrentes, estando há três anos e meio além das suas próprias metas – ainda assim, recentemente fez uma redução de capital para ganhar flexibilidade e mais facilmente distribuir dividendos.

A Sonangol mantém-se assim no BCP quando caminha para a venda de participações acionistas em bancos angolanos, muito por conta do impulso dado ao regime de Luanda pelo Fundo Monetário Internacional.

Sonangol não vai substituir Galp em Angola

Porém, se o investimento no BCP e na Galp faz parte da estratégia, o mesmo não é verdade para as unidades que a petrolífera portuguesa pondera alienar em Angola. “Tratando-se de investimentos maioritariamente do downstream, no qual a Sonangol atualmente tem uma posição dominante, e uma vez que está em curso o processo de consolidação da liberalização do subsector dos derivados do petróleo, não constitui prioridade para a Sonangol a aquisição da participação da Galp nestes ativos, visto ser intenção da companhia contribuir para o aumento da concorrência e a entrada de novos players no sector”, ressalva.

A privatizar está também a própria Sonangol, mas o prazo é longo, como já tinha sido dito: o CEO da petrolífera lembra que espera colocar até 30% do capital na bolsa até 2027… leia mais em MSN 04/01/2023