O metaverso como tem sido apresentado ao mercado é apenas a ponta de um iceberg que deve revolucionar hábitos e processos de negócios nos próximos anos e por isso vem sendo apontado como tendência em diversos estudos. O Technology Vision 2022, pesquisa da Accenture que identifica as últimas tendências de tecnologia que terão o maior impacto global nos próximos três anos, vai além.

O estudo, na 22ª edição, explora a tecnologia disruptiva que impacta os negócios digitais e inclui exemplos, previsões ousadas e pontos de decisão críticos para os líderes considerarem investimentos em tecnologia digital. A principal tendência identificada na versão 2022 do estudo é o conceito de metaverso, ampliado para o que a companhia chama de metaverso contínuo, em que as empresas e pessoas se encontram na intersecção de novos mundos. Ali, será possível manter as realidades físicas e virtuais que construíram por si mesmas e fornecer serviços em ambientes criados por outros. Trata-se de um universo onde as pessoas viverão pulando de um mundo ao outro ativamente todos os dias.

De acordo com o diretor da Accenture Daniel Franulovic, que também lidera a área de metaverso e inovação da companhia no Brasil, o metaverso contínuo vai do totalmente físico ao totalmente virtual, envolvendo tecnologias que terão impacto profundo nas empresas e no modo de vida da sociedade. “É uma evolução da internet que habilita que as pessoas passem de somente navegar para habitar uma experiência consistente e compartilhada”, diz.

Como evolução da internet, acredita-se que o metaverso deve conectar pessoas, lugares e coisas, virtuais e físicas, habilitado por tecnologias como DLT (Distributed Ledger Technologies), blockchain, Inteligência Artificial (IA) e conectividade. Essas mudanças já estão em curso e certamente terão grande impacto no modo de operação do mundo corporativo.

Para Franulovic, as transformações devem ser sentidas em todas as áreas e segmentos de negócios já nos próximos oito anos. Alguns exemplos disso podem ser vistos no processo de simplificação dos meios de pagamento, com o uso de moedas digitais; nas experiências imersivas disponibilizadas por algumas marcas; em novas experiências vividas por talentos de grandes empresas, trabalhando de qualquer lugar; e no surgimento de novas cadeias de suprimento, agora mais colaborativas, transparentes e digitais.

O movimento tem sido absorvido pelo mercado em diferentes níveis, de acordo com o grau de entendimento que cada empresa tem sobre o tema. “O fato é que o impacto dessa evolução é algo ainda em construção, mais ou menos como ocorreu com a internet nos anos 90, quando as empresas discutiam se deviam ou não estar ali. Depois disso veio a revolução de um modo que não prevíamos”, afirma, lembrando que há uma revolução cultural e de convergência de tecnologias em curso. “A maioria das organizações reconhece isso, embora nenhuma saiba qual será o final da construção”.

Tendências

Para ajudar o mercado a se preparar para este período de transformação, o Technology Vision, da Accenture, identificou quatro tendências que devem nortear a construção do metaverso contínuo:

WebMe

– explora como a internet é reinventada hoje. Os últimos dois anos estimularam as empresas a buscar novos modos de experiência digital e levaram as pessoas a viver virtualmente de forma jamais experimentada. Agora, o metaverso surge como evolução natural que concilia como a internet é projetada hoje com o que será exigido dela daqui para frente. A chegada do metaverso desafiará as companhias a alterar a presença online e moldar a próxima revolução de plataforma, conforme se constroem novas maneiras de se conectar aos clientes, parceiros e à força de trabalho digital. Exemplos dessa tendência são as iniciativas de algumas empresas dentro de plataformas do metaverso. “É quase uma porta para integrar loja virtual com loja física, permitindo que as pessoas interajam com as marcas”, diz Franulovic.

Mundo Programável

– o valor dos novos mundos virtuais seria limitado se não fossem as mudanças paralelas que os ancoram no mundo físico. O Mundo Programável rastreia como a tecnologia está inserida nos ambientes físicos, de maneiras cada vez mais sofisticadas. Ele projeta como materiais inteligentes, convergência de 5G, computação ambiente e realidade aumentada mudam a maneira como as empresas interagem com o mundo físico. Em breve, será possível tratar o ambiente mais como tecnologia – desbloqueando um nível de controle sem precedentes, além de automação e personalização. Alguns exemplos práticos aqui são os processos de sensoriamento de cadeias de suprimento, que permitem acompanhar a jornada de determinado produto e interferir nas condições de transporte e armazenamento de acordo com eventuais mudanças.

O Irreal

– uma tendência que mostra que os ambientes e negócios estão cada vez mais cheios de máquinas quase humanas. Qualidades “irreais” se tornam intrínsecas à inteligência artificial e até mesmo aos dados que as empresas colocam em funções de missão crítica. Ao mesmo tempo, as pessoas se deparam com maus atores usando essa tecnologia – de deepfakes a bots –, o que traz uma preocupação crescente que pode se tornar o maior obstáculo para o desenvolvimento de IA. De qualquer forma, as empresas foram colocadas na vanguarda de um lugar questionando o que é real, o que não é, e se a linha que divide esses dois mundos realmente importa.

A Computação do Impossível

– o limite externo do que é computacionalmente possível é interrompido conforme uma nova classe de máquinas surge. Computadores quânticos, inspirados em formatos biológicos e de alto desempenho, permitem que as empresas enfrentem grandes desafios que certa vez definiram e moldaram a base das indústrias. Na mesma proporção, problemas antes considerados impossíveis se tornam cada vez mais solucionáveis, e os líderes questionarão algumas das suposições mais básicas sobre suas empresas. Um exemplo é o da Tesla que, na falta de uma arquitetura capaz de processar os dados de carros autônomos, desenvolveu a própria arquitetura e passou a fabricar os chips necessários para isso. “Isso traz uma diferenciação de mercado importante nesse momento em que há uma corrida para ver quem terá a plataforma autônoma mais eficiente”, diz o diretor da Accenture.

Formação

Em paralelo ao acompanhamento das tendências, as empresas devem se preocupar também com a formação dos profissionais que vão dar vida a esse novo mundo. O programa Favela X, lançado em 2021 pela ONG Gerando Falcões, com o apoio da Accenture, tem o objetivo de levar tecnologia de ponta e inovação social para transformar a pobreza das favelas.

“O Favela X tem relação forte com o conceito de metaverso contínuo, principalmente com o WebMe”, afirma Franulovic. “Ele usa o metaverso, levando uma experiência lúdica para um tema de educação, que é um dos objetivos da ONG. Ao usar um jogo, é possível explicar de forma imersiva e lúdica problemas relacionados aos desafios de quem hoje vive na favela.”.

O executivo lembra que quem conhece tecnologia e aplicações práticas de IA, blockchain e computação quântica está sendo disputado no mercado. Essa guerra de talentos se dá não apenas por conhecimento formal, mas por habilidades – como as desenvolvidas no Favela X – que dependem de muita flexibilidade e aprendizado. “Certamente essas habilidades não eram importantes há cinco anos e talvez mudem completamente nos próximos cinco”, diz.

Por isso mesmo, a sugestão é que as empresas não esperem pela criação de cursos formais universitários. Para Franulovic, essa atitude tende a deixar o mercado sempre em déficit. Ele defende que as empresas que querem se diferenciar se engajem ativamente na formação destes profissionais, buscando pessoas que saibam aprender e colaborar com a comunidade. “Isso vai nos diferenciar e trazer pessoas relevantes aos nossos objetivos e vale para companhias que planejam estratégias não apenas para o metaverso contínuo, mas para contar também com os profissionais do futuro”, afirma… saiba mais em itmídia 21/06/2022