Timken vai além dos carros e planeja ampliar atuação
As marcas históricas da indústria automobilística brasileira nos últimos anos têm pouco empolgado a Timken, uma centenária fabricante de rolamentos sediada nos Estados Unidos. A empresa está em busca de oportunidades de investimento no país, mas desta vez com vista aos setores de petróleo, mineração, infraestrutura e agricultura.
Após fechar em 2007 uma fábrica de rolamentos automotivos na zona Sul de São Paulo, a companhia – na esteira de aquisições realizadas no segundo semestre do ano passado – voltou a ter uma atividade produtiva no país. O retorno veio, primeiro, com a compra em outubro da Drives, fabricante de correntes de transmissão que tem uma pequena joint venture com a Case New Holland (CNH) em Curitiba (PR). Nesse caso, a produção é destinada aos tratores e colheitadeiras fabricados pela empresa pertencente ao grupo Fiat.
Paralelamente, a Timken estuda o investimento na produção local de caixas de engrenagens, um produto adicionado ao portfólio a partir da compra da igualmente centenária Philadelphia Gear em julho. Seria uma forma de aproveitar a demanda gerada por projetos ligados à exploração de recursos naturais e geração de energia, que envolvem clientes atendidos pela empresa da Pensilvânia.
“Estamos muito mais empolgados com o crescimento da Vale, das ferrovias e das minas de minério de ferro do que propriamente com a expansão do mercado automobilístico”, afirma James Griffith, presidente mundial da companhia.
Para discutir todas essas possibilidades com a direção do grupo na América Latina, Griffith esteve em São Paulo na semana passada, acompanhado pelo presidente do conselho de administração, Ward J. Timken Jr. – quinta geração da família que fundou a empresa em 1899, em Saint Louis. Dois anos depois, a Timken se transferiu para Canton, no Estado de Ohio, onde está sediada até hoje.
A empresa segue no Brasil a estratégia global de diversificar seu portfólio para produtos de maior valor agregado e mais rentáveis, cujo foco são os sistemas de transmissão industriais. Isso resultou, ao longo dos últimos dez anos, na menor participação de componentes fornecidos à indústria automobilística.
Desse modo, está fora de questão voltar a produzir no Brasil rolamentos de automóveis, embora a empresa continue atenta à demanda dos veículos pesados, como os caminhões fora-de-estrada – muito utilizados em grandes obras de infraestrutura.
Cercada por um grande número de concorrentes, a Timken vê poucas chances de obter rentabilidade em negócios com as montadoras. “É o mercado errado para nós”, diz Griffith, acrescentando que a companhia seguirá atendendo aos fabricantes nacionais de carros com importações.
Inaugurada em 1960, a fábrica de rolamentos automotivos na capital paulista foi fechada em meio a um processo de enxugamento de custos e redução de operações industriais, após a deterioração da indústria automobilística dos Estados Unidos – para onde era exportada parte dos componentes produzidos em São Paulo.
Agora, a empresa aposta em um novo ciclo de crescimento e traçou como meta para os próximos cinco anos dobrar de tamanho no Brasil, seu quarto mercado no mundo, atrás apenas da matriz nos Estados Unidos, da China e da Índia.
Os executivos da empresa dizem que novos investimentos no país estão no radar, mas que ainda não é possível antecipar quando será feita a investida.
Além de um centro de distribuição em Barueri (SP) e um escritório central na capital paulista, a estrutura da filial brasileira inclui outras duas unidades de restauração de rolamentos ferroviários: uma em Sorocaba e outra em Belo Horizonte (MG). A empresa também restaura rolamentos industriais em Guarulhos, na Grande São Paulo.
Griffith diz que os mercados emergentes representam por volta de 20% das vendas do grupo, que somaram US$ 5,17 bilhões no ano passado. O Brasil é responsável por um montante de aproximadamente US$ 140 milhões desse resultado – quase 3% do total.
Com a liderança dos emergentes na recuperação da economia global após a crise financeira de 2008, o grupo ampliou o foco em países como Índia e China, mercados onde também planeja adicionar capacidade.
“A mudança nos mercados emergentes transformou nossas estratégias nos Estados Unidos e na Europa Ocidental”, comenta o principal executivo da Timken, ao lembrar que, no passado, os resultados eram mais concentrados nesses dois mercados. Por Eduardo Laguna
Fonte:ValorEconômico28/03/2012