O Governo vêm liberando recursos para ajudar os setores produtivos afetados pelas medidas restritivas adotadas por conta da pandemia da Covid-19. Na terça-feira passada, o governo criou o Programa Emergencial de Acesso a Crédito, destinado a pequenas e médias empresas. Embora ainda dependa de regulamentação, o novo programa pode atingir até R$ 20 bilhões em recursos. Outra linha importante é o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), voltado principalmente para o capital de giro, que possui recursos no montante de R$ 18 bilhões.

Ainda assim, aparentemente os recursos oferecidos em programas governamentais não são suficientes para as necessidades das empresas, pois se considerarmos apenas os programas aqui citados obtemos um total de R$ 38 bilhões, enquanto as perdas apenas do setor de varejo do comércio, onde predominam pequenas empresas (sem considerar os demais segmentos do próprio setor de serviços, como o turismo, e a indústria) já somam mais de R$ 120 bilhões

O fato é que os recursos dificilmente serão suficientes para salvar todas as pequenas e médias empresas, e provavelmente várias grandes também. As empresas mais frágeis do ponto de vista da sua rentabilidade estão sendo afetadas duramente, e boa parte delas infelizmente vai sucumbir, não obstante o expressivo volume de recursos que venha a ser oferecido em programas de socorro. Isso arrisca provocar uma destruição maciça de capital produtivo e de empregos.

Há um outro recurso, porém, que também pode ser utilizado para minorar os efeitos da crise, reduzindo a destruição de capital e de empregos: ampliar significativamente o financiamento à aquisição de empresas em recuperação judicial, extrajudicial ou em processo de falência.

Ocorre que todas as crises econômicas levam ao fechamento das empresas mais frágeis, abrindo espaço nos mercados em que atuam para as empresas mais rentáveis. As empresas mais lucrativas ocupam esse espaço de duas formas: ou investem, expandindo suas instalações e seus recursos produtivos, ou adquirem empresas concorrentes em dificuldades, que se encontram em processo de recuperação ou mesmo de falência. Esta segunda opção pode ser muito lucrativa, uma vez que o valor das empresas é diretamente proporcional à sua lucratividade, e esta tende a ser muito baixa ou negativa nas empresas com dificuldades. Uma vez que estas empresas com dificuldades sejam adquirias e reestruturadas com uma gestão mais eficiente, o aumento resultante na sua lucratividade acarreta sua valorização para além do que foi pago inicialmente.

Por exemplo, suponha que uma empresa em processo de recuperação esteja avaliada em R$ 100 milhões, em função de seus problemas financeiros. Uma empresa lucrativa pode adquirir a empresa em recuperação, reformular sua gestão e, assim, aumentar sua lucratividade e com isso seu valor pode aumentar, por exemplo, para R$ 140 milhões. Um bom negócio, que preserva boa parte dos ativos da empresa em dificuldades e dos empregos que ela proporciona.

Contudo, para isto muitas vezes é preciso crédito, especialmente se a empresa adquirente não for muito maior do que a empresa adquirida, o que significa que o caixa gerado pela empresa adquirente não deve ser suficiente para comprar a empresa a ser adquirida. Infelizmente, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) só dispõe do programa Revitalização de Ativos – Crédito Revitalização de Ativos Direto, para oferecer recursos para transferência de ativos (máquinas e equipamentos, edifícios, participações acionárias majoritárias etc.) de empresas em dificuldades para empresas em boa situação financeira.

É fundamental ampliar significativamente esta linha de crédito, permitindo que empresas saudáveis e dinâmicas absorvam os ativos de empresas em dificuldades, de forma a reduzir a destruição de capital provocada pela crise, e assim ajudar a preservar empregos e preparar a retomada. Ronaldo Fiani.. Leia mais em diariodepetropolis 07/06/2020