A Vale já recebeu quatro empresas para vender a participação de 50% na Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), segundo O POVO apurou com fonte do setor. O interesse em se desfazer da fatia que possui, pelo que a fonte comentou sob condição de anonimato, havia sido manifestada e o mercado já tinha conhecimento. Mas só a cerca de três meses que a mineradora iniciou as conversas com as possíveis compradoras.

Na lista de empresas que negociam a compra, conforme a fonte, estão as brasileiras Gerdau e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a ArcelorMittal e a russa NLMK.A

“Até onde fiquei sabendo, a empresa que superava as expectativas da Vale era a companhia russa. Mas teve também a ArcelorMittal em seguida”, acrescentou.

Sobre o valor da operação, a estimativa é de que sejam desembolsados algo em torno de US$ 3 bilhões na operação de compra da participação da Vale na CSP – “o que é o valor aproximado da dívida da companhia.”

Procurada, a CSP não desmentiu as informações, mas informou ao O POVO que não vai comentar o assunto.

Sem participação do Estado

Procurado pelo O POVO, o secretário Maia Júnior (Desenvolvimento Econômico e Trabalho) afirmou que “o Governo do Estado do Ceará não foi procurado por nenhuma empresa sobre este assunto, que é de foro único e exclusivo da companhia.”
Sobre o entendimento do Estado sobre uma operação envolvendo o maior empreendimento industrial do Ceará, Maia acrescentou que “o tratamento que vinha sendo dado antes continuará.”

A CSP foi a primeira empresa âncora da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará e contou com articulação direta do Estado para a viabilidade do negócio, formado entre a brasileira Vale e as sul-coreanas Dongkuk (30%) e Posco (20%).

Com estrutura garantida no Porto do Pecém, após entrar em operação, a Companhia contou ainda com uma rodovia exclusiva para o tráfego dos caminhões que transportam as placas de aço produzidas na siderúrgica até o embarque nos navios feita pelo Estado.

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Maior empreendimento do Ceará
Em operação desde 2016, a CSP teve um investimento estimado em US$ 5,4 bilhões – o maior feito até agora no Ceará -, o que dotou a siderúrgica de uma capacidade de produção de 3 milhões de toneladas de aço por ano e a promessa de impacto de 12% no PIB cearense.

Os números já contabilizados pela companhia dão conta de mais de 12 bilhões de toneladas de placas de aço produzidas. O montante a torna responsável por 28% da produção de placas de aço no Brasil.
No Estado, o impacto já observado é sobre as exportações, chegando a 50% do total enviado pelo Ceará ao exterior, e 63% das movimentações de cargas, entre matérias-primas, equipamentos e produtos exportados, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).

Impacto da operação
O impacto medido por uma venda da participação da Vale na CSP não deve alterar o caráter da empresa, segundo analisa Ricard Pereira, empresário do setor metalmecânico.

“Na verdade, o negócio da Vale não é siderurgia, é minério. Entrou nessa sociedade quase por uma exigência política, para compor a sociedade. Mas a gente sempre soube que a Vale a qualquer momento ia sair do negócio. Então, eu não fico nada surpreso se isso acontecer”, avaliou.

Sobre qual empresa deva assumir a fatia da Vale, Pereira considera que mudanças internas devem acontecer, na intenção de dotar a companhia de “uma gestão mais moderna” e alinhada com as práticas do novo sócio.

“Acredito que, se essa venda realmente acontecer, a CSP deve passar por uma reestruturação interna, criando uma estrutura mais competitiva”, arrematou.
Leia mais em opovo 18/02/2022