Com a efervescência no mercado de tecnologia e startups, uma palavra passou a ser usada com mais frequência para atrair talentos: equity. Muitas empresas em estágio inicial oferecem participações e “vendem” o discurso de que elas se valorizarão no futuro. E, notícias de aportes e valuations estratosféricos, cada vez mais comuns, comprovam essa tese.

Há, portanto, uma legião de acionistas com participações que valem alguns milhões de reais, mas que nunca viram a cor do dinheiro. Para resolver essa “dor”, a startup Velvet, fundada em setembro do ano passado, acaba de receber um cheque de US$ 200 milhões (R$ 1,05 bilhão). O plano: adquirir as participações numa espécie de mercado secundário.

Liderada pela Yolo Investments, com sede na Estônia, e com a participação de family offices estrangeiros, a injeção de capital será destinada exclusivamente para a compra de ações em diferentes startups e não inclui a diluição de equity da Velvet.

O modelo de negócio consiste na diferença entre o valor pago pela Velvet na compra das ações e o preço final na revenda. Além de lucrar com uma parte deste spread, a empresa brasileira também ganha dinheiro com a cobrança de uma taxa de administração e de performance dos investidores finais.

Essa foi a segunda injeção capital neste modelo recebida pela Velvet desde a fundação. A primeira rodada, também liderada pela Yolo, havia sido realizada no fim do ano passado com a captação de US$ 50 milhões. Do montante, US$ 35 milhões (R$ 165 milhões) foram utilizados na compra de ações de startups como a argentina Nuvemshop, a mexicana Credjusto e a indiana Open.

“Sem o capital para dar liquidez para esses acionistas, teríamos que contar com a boa vontade para que eles dessem tempo até que encontrássemos um comprador. Essa não é a realidade do mercado. Quem tem ‘bala na agulha’ consegue fazer os negócios”, diz Edouard de Montmort, CEO e cofundador da Velvet junto de Carlos Naupari.

O novo aporte deverá ser integralmente usado na compra de participações que variam entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões, considerando blocos de controladores que envolvem entre 10 e 100 pessoas. O mínimo pago para cada acionista é de US$ 50 mil. De acordo com Montmort, o preço pago pelas ações é, normalmente, calculado de acordo com o valuation do mais recente round. E as negociações são feitas sempre com o consentimento dos controladores das empresas.

A Velvet, entretanto, não entra em qualquer startup. A barra de entrada foi colocada em companhias com valor de mercado acima de US$ 500 milhões e que já receberam aportes de grandes fundos de venture capital. No alvo geográfico para a compra dessas ações, estão acionistas de startups espalhadas por diversos países.

O investimento de R$ 1 bilhão será concentrado em 20 empresas da América Latina, 10 da Índia, oito do Sudeste Asiático e outras cinco da África. “O foco está nos mercados emergentes. Entendemos que é onde estão os problemas que precisam ser solucionados”, diz Montmort.

De olho nas empresas

Montmort e Naupari montaram a plataforma de investimento após perceber que havia uma demanda no mercado para a liquidez das participações de executivos que desejam trilhar seus próprios caminhos no empreendedorismo. Antes da Velvet, Montmort chegou a comprar ações em seis startups nos Estados Unidos e de colaboradores do Nubank.

Com o negócio rendendo frutos, os executivos decidiram montar a empresa ancorada por um investimento seed de US$ 3,5 milhões liderado pelo Global Founders Capital e com participação da Headline e de investidores fundadores de unicórnios da América Latina, Índia e África. Entre eles, estão Edward Wible, do Nubank, e Patrick Sigrist, do iFood.

Para os próximos passos, a Velvet pretende realizar ainda neste semestre uma nova captação de dinheiro para potencializar sua operação – dessa vez, no modelo tradicional e com a diluição de equity. ……saiba mais em Neofeed 10/02/2022