A economia do próximo ano já tem algumas peças colocadas no tabuleiro: um futuro incerto para a pandemia do coronavírus e a continuidade da inflação global, avaliam especialistas ouvidos pelo Money Times.

Economista, sociólogo e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política, William Nozaki cita a ômicron como exemplo que comprova o cenário confuso de 2022 — a variante levou parte do empresariado global a suspender decisões e projetos de investimento, lembra.

Já a inflação global é em parte resultado da desorganização da cadeia de suprimentos provocada pelos momentos de paralisação da economia, aumentando os custos em toda a cadeia de produção.

Para controlar a alta dos preços, os bancos centrais de grande parte do mundo já indicam uma política de redução de estímulos e uma eventual elevação da taxa básica de juros — o que tende a encarecer o crédito e desestimular o consumo.

Política monetária e fiscal nos EUA
A última reunião do comitê de política monetária (Fomc) do banco central norte-americano, o Federal Reserve (Fed), já indicou a redução dos estímulos fiscais e o aumento da taxa de juros ao longo dos meses de 2022.

Na prática, a elevação dos juros significa que os Estados Unidos irão pagar mais aos credores que comprarem seus títulos de dívida.

O coordenador do curso de economia da Faap, Paulo Dutra, explica que a maioria dos economistas considera a taxa de juros dos EUA o principal preço do mundo. “Quando ela [a taxa de juros] fica mais atrativa, ela tira moeda do mundo todo, o que pode gerar uma fuga de capital de outros países para os EUA”, diz.

Com investidores migrando seus investimentos para os títulos norte-americanos, há também uma desvalorização das demais moedas.

“Uma migração de investimentos para os EUA mexe com o fluxo de capitais global, e o que já temos sentido após a decisão do Fomc é exatamente a desvalorização das moedas”, resume Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

Para Agostini, o real é uma das moedas que sofre mais nesse contexto, com o dólar a R$ 5,70.

Enquanto de um lado o Fed reduz sua atuação monetária, o presidente Joe Biden expande sua intervenção fiscal com o seu pacote de infraestrutura trilionário.

Para Agostini, a situação entre Biden e Fed não deve preocupar neste momento. “Lá a situação é muito mais controlada, eles sabem o custo fiscal que tudo isso tem”, defende.

O professor Dutra concorda com o economista-chefe. “Não tem como fazer essa contraposição no curto prazo, uma política fiscal como essa de infraestrutura não realiza todos os gastos agora [em 2022], mas faz o desembolso ao longo de anos”, enquanto a política monetária do Fed deve completar seu impacto em torno de alguns meses.

Crescimento da China
Do outro lado do mundo, outro player importante para o cenário econômico global é a China, que pela primeira vez não indicou uma previsão clara de crescimento econômico para o próximo ano.

Segundo Nozaki, da Fundação Escola de Sociologia e Política, essa escolha do país evidencia o alto grau de incerteza na economia internacional.

O especialista ressalta o anúncio de pacotes importantes de recuperação econômica e reestruturação produtiva, com novos investimentos em alguns setores tecnológicos de ponta.

A finalização dessas medidas permite que o crescimento chinês possa se orientar mais para o mercado interno do que para a economia internacional a partir de agora, diz.

O coordenador pontua que os países que cresceram nos últimos anos alavancados pela produção e exportação de commodities, como é o caso do Brasil, “não vão ter mais o mesmo espaço de crescimento porque uma parte da estrutura econômica chinesa estará voltada para o mercado interno”.

Agostini, da Austin Ratings, também demonstra preocupação com a desaceleração da China nos próximos anos, já que o país é o principal parceiro comercial do Brasil. Mas o economista afirma que esse efeito será mais concreto no médio e longo prazo.

“Preocupa porque a China é, como a gente diz, a locomotiva no crescimento global, e com ela desacelerando o ritmo do crescimento global será menor”, conclui….Saiba mais em moneytimes.01/01/2022