O setor de saúde demanda constante investimento e segue a tendência de consolidação. De acordo com o último dado publicado pelo IBGE (abril/24), as despesas no setor de saúde atingiram 9,7% do PIB em 2021, sendo 4% suportadas pelo setor público e o restante pelo setor privado, indicando um peso significativo na economia brasileira.

O principal impacto no setor é decorrente do envelhecimento crescente da população brasileira, que implica no aumento da demanda pelos serviços médicos. De acordo com o IBGE, estima-se que a partir de 2021 a população aumentará em 12 milhões de pessoas em 10 anos, com expectativa de crescimento na proporção de idosos de 10% para 14%, que são os maiores demandantes dos serviços de saúde.

Os dados da ANS apontam que apenas 25% da população brasileira possui planos de saúde de assistência médica privados – são cerca de 51,5 milhões de beneficiários, em sua maioria contratantes de planos coletivos, indicando o baixo alcance da saúde suplementar. Os 75% restantes da população dependem exclusivamente do SUS e representam uma grande, embora desafiadora, oportunidade de crescimento para o setor.

Outro fator que impacta o setor é a inflação médica (VCMH), índice comumente superior ao IPCA, que indica a variação do custo por usuário das operadoras de planos de saúde num período móvel de 12 meses. A inflação médica leva em consideração todos os custos assistenciais das operadoras, tais como consultas, exames, internações e procedimentos, que são especialmente agravados com a maior utilização dos serviços pelos beneficiários.

De acordo com o último relatório do IESS (março/2024), o VCMH foi de 12,7% para o período de 12 meses encerrados em setembro/2023, superior ao IPCA de 5,2% no mesmo período. O índice VCMH/IESS considera no cálculo apenas planos individuais e, portanto, não reflete necessariamente a variação das despesas dos planos de saúde coletivos.

Para os planos de saúde de assistência médica individuais e familiares, a ANS determina o teto de reajuste. No período compreendido de maio/2024 a abril/2025, a ANS limitou o percentual de reajuste a 6,91%, um dos menores índices desde 2010.

Já nos planos coletivos empresariais, o reajuste médio atingiu 18,54% (média de 12 meses até agosto/2024), segundo dados da Anaph de dezembro/2024. Vale lembrar que os planos coletivos são reajustados por livre negociação entre as partes contratantes.

A sinistralidade – principal indicador do desempenho das operadoras – foi de 84,3% no 3T24, uma redução de 4,1 pontos percentuais aos 88,2% do 3T23 (dados da ANS). Essa redução observada desde 2023 deriva, principalmente, do reajuste das mensalidades dos planos de saúde em relação à variação das despesas, especialmente nas operadoras de grande porte.

Para hospitais, laboratórios e clínicas – linha de frente na operação dos serviços de saúde –, uma questão muito sensível tem sido o nível das glosas, na medida em que podem levar à retenção ou perda de parte das receitas provenientes dos serviços prestados às operadoras, demandando trabalho, custos e tempo para contestação.

Em pesquisa realizada pela Anahp, as glosas hospitalares atingiram cerca de 18% das receitas hospitalares (3T24), sendo que após negociações, apenas 2% foram mantidas. Os montantes em discussão pesam no/impactam fortemente o fluxo de caixa dos prestadores de serviço.

Uma forma de reduzir esse atrito entre operadores e hospitais é a maior integração entre esses dois entes, por meio de operações de fusões e aquisições e joint ventures. Entretanto, um possível novo status cria desafios de outra ordem como, por exemplo, a negociação de contratos entre hospital pertencente a um grupo integrado e uma operadora concorrente.

A implementação de novas tecnologias no setor de saúde traz um desafio adicional pela demanda de investimentos de capitais financeiro e humano e a curva de aprendizado própria das novas ferramentas.

Como exemplos de tecnologias de otimização de processos e aumento de precisão dos diagnósticos podem ser citados a biotecnologia e terapia genética, wearables, telemedicina, inteligência artificial e plataformas digitais de gestão de saúde.

As operações de fusões e aquisições no setor passaram por um crescimento expressivo entre 2018 e 2019 em medicina diagnóstica, e no período de 2019 a 2021 em hospitais. A partir de 2022 – em parte pelo reflexo dos efeitos causados pela pandemia do Covid – houve um desaquecimento no mercado, e parte das empresas do setor passaram a dar ênfase em ganhos de sinergia e aprimoramento de seus processos.

Dentre as transações realizadas, destacam-se a aquisição da operadora SulAmérica pela Rede D’Or (hospitais), a fusão das operadoras integradas (planos + hospitais) Hapvida e NotreDame Intermédica e, recentemente, a aprovação pelo Cade da joint venture entre Dasa e Amil para seus ativos hospitalares e de oncologia.

Em que pese os desafios do setor relacionados ao envelhecimento da população, à inflação médica, às glosas, bem como ao próprio desempenho da economia, a penetração dos planos de saúde privados com cobertura de cerca apenas um quarto da população brasileira indica que há espaço para crescimento no setor, a ser impulsionado por investimentos, novas tecnologias, operações de fusões e aquisições, joint ventures e outros modelos contratuais…saiba mais em Pipeline Valor 22/02/2025