Adeus, 2024: Ibovespa amarga queda de 10% no seu pior ano desde 2021. E agora?
Saldo do Ano: 2024 já vai tarde! Mas nada de esperança renovada. É real no pior ano desde 2020, liquidez mais pífia desde 2019, a Selic ao infinito e além… Bem, não há muita razão para esperar por melhores dias em 2025.
Não se deixe levar pelo alívio nas negociações desta segunda (30), pregão que pôs um ponto final neste ano para a bolsa brasileira.
O clima de “adeus, ano velho” (já vai tarde!) predominou e deixou o Ibovespa subir um tantinho (inho inho) hoje. Apenas 0,01%. Em bom português: o índice ficou estacionado na última sessão do ano.
Então, olhar com otimismo para este pregão é como vestir antolhos.
Para o Ibovespa, o ano se encerra após 10,36% de desvalorização. O índice se despede de 2024 nos 120.283 pontos, bem perto do fundo do poço desses últimos 12 meses, em 119.138 pontos.
Só no mês de dezembro, as perdas do índice se acumularam em 4,28%. Neste último trimestre do ano, o Ibovespa despencou 8,7% dos 131.816 pontos, patamar ….
A bolsa teve dois espasmos em 2024: entre 17 de junho, o fundo do poço deste ano, e 17 de julho, quando o Ibovespa subiu 8,6%; depois, entre 5 e 28 de agosto, período em que o índice escalou 9,6% e renovou o recorde nos 137.344 pontos.
De lá para cá, foi só ladeira abaixo.
A exemplo do real, que teve o seu pior ano desde 2020 e teve em 2024 uma das piores performances entre as principais moedas do mundo.
E o ano se encerra mal para a moeda brasileira apesar das intervenções históricas do Banco Central (BC) no câmbio. Só neste mês, desde 12 de dezembro, a autarquia despejou US$ 28 bilhões no mercado para conter o avanço do dólar.
Mas não teve como salvar 2024. O dólar comercial encerrou o ano com valorização de 27,35% contra o real, nos R$ 6,18. Não sem antes largar seu recorde nominal (vem entender qual é o recorde real do dólar aqui), em R$ 6,27. Fica como marca deste ano, aliás, a renovação sequencial do recorde da moeda americana contra a brasileira.
No dia, o alívio foi mínimo, de 0,22%, enquanto o acumulado mensal aponta uma escalada de 3% do dólar contra o real. Só no quarto trimestre deste ano, o dólar subiu 13% desde os R$ 5,45, patamar abandonado em 30 de setembro.
Adeus, 2024, o ano que nunca começou
2024 se encerra hoje para o mercado financeiro como o ano que nunca começou. Quer dizer, não nos moldes que especialistas e investidores esperavam há 12 meses, quando faziam planos para um Ibovespa acima dos 145 mil pontos.
Tanto entusiasmo se baseava em três pontos:
- continuidade de alívios na Selic, que naquele cenário do mercado chegaria a 9% no fim de 2024, e início dos cortes de juros nos Estados Unidos;
- recuperação da economia chinesa; e
- os efeitos positivos do arcabouço fiscal nas contas públicas.
Crenças derrubadas uma a uma, com a reversão do cenário para os juros, inconsistência do crescimento da China e a frustração com a política fiscal no Brasil. Por isso, o fim de 2023 parece hoje tempos idos há bem mais que 12 meses.
Para agentes do mercado financeiro brasileiro, a principal frustração veio da esfera fiscal.
Embora o adiamento do ciclo de alívio nos juros americanos – que do primeiro corte esperado para março veio mesmo só em setembro – não tenha ajudado, já era tarde para a Selic quando o ritmo de crescimento das receitas governamentais não acompanhava o das despesas.
A inversão do ciclo monetário no Brasil se emendou com as tentativas do governo de recuperar a credibilidade fiscal, atrapalhadas pelos enredos políticos.
Assim, o frágil vínculo de confiança entre investidores e o governo petista foi quebrado.
De tal forma que rumamos a 2025 com a Selic já prometida nos 14,25% até março.
Embora o recesso no Congresso e no Planalto desse espaço para uma trégua nas negociações das taxas futuras de juros, investidores passaram a ver mais risco no horizonte.
O alívio de hoje teve fim após a Advocacia-Geral da União (AGU) não liberar o pagamento de R$ 4,2 bilhões nas emendas parlamentares que haviam sido concedidos pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), e de o BC realizar uma nova intervenção bilionária no câmbio.
Investidores passaram a embutir nos preços perspectivas de uma queda de braço mais dura entre Planalto e Congresso em 2025 e o receio de interferências na gestão de Gabriel Galípolo no BC (apesar das promessas em contrário).
O cenário atual para os juros brasileiros é devastador.
- A Taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 saiu de 15,35% para 15,42% ao ano. Mesmo já passada a novela do pacote fiscal, há exatamente um mês, a taxa estava em 13,95%. Prêmios em contratos de curto prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
- No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 oscilaram de 15,53% da sexta passada para 15,75% no fechamento de hoje. Em 30 de novembro, a taxa estava em 13,8%, quase 2 pontos percentuais abaixo do nível atual.
- Já para janeiro de 2034, a taxa foi de 14,89% para 15,06%. Há um mês, estava em 13,39%. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.
O único ponto positivo na bolsa, que confirmou as projeções para 2024, foi o crescimento de lucro das empresas. Os resultados reportados pelas maiores companhias na carteira do Ibovespa vieram consistentemente acima do esperado.
As empresas brasileiras lucraram mais, distribuíram mais dividendos e aprimoraram os fundamentos de negócios. Com isso, durante as temporadas de divulgação dos balanços, as ações pegaram impulso no otimismo renovado pelos números.
Só não durava muito. Com o mercado excessivamente cauteloso com o ambiente macroeconômico, o microeconômico saiu de perspectiva.
Das 86 ações na carteira do Ibovespa atualmente, 71 encerram 2024 abaixo do patamar no começo do ano. Só no mês de dezembro, 70 recuaram.
2025: 2024 de novo ou a chance de um ano novo?
A tendência para 2025 é uma segunda temporada da narrativa que dominou o mercado financeiro em 2024. Mas, no ano que vem, o enredo da bolsa brasileira pode se agravar.
Para o começo do ano, a tendência ainda é bastante negativa com o desenrolar dos embates entre Congresso e governo. Ao longo do ano, especialistas até admitem haver algum espaço para o Ibovespa avançar, mas de forma comedida – e graças a tão poucas ações que se contam nos dedos das mãos.
Investidores ainda estão sugados pela espiral de pessimismo na qual se jogaram em 2024. Não inteiramente desprovidos de razões, é verdade.
O que chama atenção no padrão de agentes do mercado financeiro brasileiro é que tem sido impossível nos últimos tempos avaliar qual seria o “fundo do poço” dentro da sua mensuração de risco no Brasil.
Embora, pela retórica, pareça que o cenário mais pessimista já está majoritariamente refletido nos preços dos ativos, a elevação brusca e constante das taxas dos contratos futuros de juros em dezembro mostram que isso não é verdade.
Veja: duas semanas após o Copom mais duro dos últimos anos, ainda há piora significativa nas expectativas de economistas para a inflação em 2025, 2026 e 2027, como mostrou o Boletim Focus de hoje.
Sem sinal de pacificação dos ânimos, os ativos domésticos continuam apanhando. Que o diga a bolsa brasileira.
“O Ibovespa encerra 2024 e deve iniciar 2025 com um prognóstico nada animador sob a ótica da análise gráfica”, aponta o BB Investimentos. De acordo com a equipe do banco, a baixa liquidez prevista para a próxima quinzena deve prejudicar o Ibovespa em qualquer tentativa de retomada.
Na análise técnica (que você pode entender melhor como funciona aqui) do BB Investimentos, a sequência de baixas recente fez o Ibovespa romper um nível de suporte traçado nos 122 mil pontos. Atualmente, o índice alcançou o suporte subsequente, no patamar dos 120 mil pontos.
Por isso, o índice teima em sair desse patamar. Qualquer gatilho que o derrube dos 120 mil pontos, no entanto, pode levá-lo mais a fundo.
Isso porque, de acordo com o BB Investimentos, os próximos suportes do Ibovespa estariam nos 118.600 pontos, em 117 mil pontos e, então, em 114 mil pontos, que representaria queda de 5% considerando o fechamento deste 30 de dezembro.
Agora, calma lá! O padrão avaliado pelo BB Investimentos é mais uma análise de tendência (de queda para o Ibovespa, neste caso) do que para uma projeção para o índice.
De forma bem simplificada, em análise gráfica, quando o preço de um ativo vem de uma série de quedas, ele forma um “fundo”, ou seja, com base no seu padrão de comportamento histórico, ele inverte seu movimento de queda para o de alta ao alcançar um determinado nível.
Mas isso não muda a tendência, apenas altera seu comportamento pontualmente.
Ao alcançar um fundo, o ativo leva mais tempo antes de escavar até seu próximo “suporte”. Daí o porquê de se usar este termo em leituras técnicas.
Por isso, a análise não prevê que o Ibovespa cairá até os próximos fundos, e sim que o seu padrão é encontrar resistências nesses determinados níveis antes de escavar até o próximo fundo.
Assim o índice deve seguir 2025 adentro com um comportamento pendendo para a queda.
Até, claro, que a tendência mude. Mas, para isso, a bolsa ainda conta com muita ajuda de fora..Por Beatriz Pacheco…. Leia mais em valorinveste.globo 30/12/2024