Em um momento em que os principais bancos do país, dos incumbentes aos digitais, têm sofrido com o aumento da inadimplência, o Agibank começou o ano na contramão. O banco, que nasceu há mais de duas décadas no Rio Grande do Sul como um serviço de correspondente bancário e virou uma instituição financeira focada em crédito consignado, conseguiu mais do que dobrar o lucro líquido no primeiro trimestre e, mesmo com os juros altos, e voltou a reduzir os pagamentos em atraso.

Com esse desempenho debaixo do braço, o CFO do Agi, Thiago Souza Aor, está nos Estados Unidos para conversar com investidores em Nova York e Boston, e disse ao Pipeline que o banco está operacionalmente pronto para fazer um IPO. Reconheceu, no entanto, que o momento é desfavorável, justamente em razão da Selic elevada, e disse que é improvável abrir capital este ano.

Se conseguir levar o projeto adiante quando o apetite do investidor voltar, o Agibank estará desenterrando um sonho antigo. Em 2018, a companhia chegou a protocolar um pedido de IPO na B3, mas, como o mercado também estava mais restrito para oferta de ações, acabou desistindo. Dois anos depois, porém, conseguiu atrair o capital da gestora de fundos de private equity Vinci Partners, que fez um aporte de R$ 400 milhões.

Na contramão do mercado Agi reduz inadimplência e se vê pronto para IPO

Se na próxima tentativa o plano será seguir o caminho do Nubank e abrir capital nos Estados Unidos, Aor indicou que não há nada definido e ressaltou que a decisão caberá aos acionistas, entre eles, é claro, a própria Vinci. “A entrada do fundo foi um passo importante antes da abertura de capital. O IPO será uma consequência do que a gente tem plantado e hoje ainda não temos uma decisão sobre isso”, disse Aor. “Nosso objetivo é seguir entregando resultados com eficiência máxima, aumentando a digitalização da concessão de crédito e melhora da satisfação dos clientes com portfólio completo de produtos e serviços.”

De janeiro a março, o Agibank somou lucro líquido de R$ 60,2 milhões, alta de 119,2% em relação a igual período do ano passado. Enquanto a carteira de crédito cresceu 59% em um ano, para R$ 11,3 bilhões, a taxa de inadimplência voltou a recuar, de 5,2% em dezembro para 4,9% em março, retomando o patamar que tinha em setembro.

Já bancões como Bradesco e Santander, que são os dois que mais sofreram com o aumento dos calotes, ainda não conseguiram reduzir a taxa de inadimplência. No caso do Santander, avançou para 3,2% em março, de 2,9% em dezembro. No Bradesco, houve um salto de 4,3% para 5,1%. Entre os digitais, o Inter viu a taxa saltar de 4,4% para 4,7%.

Segundo o CFO, a receita para a melhora dos resultados envolveu diminuir o risco da carteira, recorrer a um funding com custo mais atrativo e fazer com eficiência a gestão de ativos e passivos (Asset Liability Management).

Desde 2021, diante do cenário mais adverso para o crédito, período no qual a Selic saltou de 2% para 13,75%, o banco decidiu focar em linhas de menor risco, como a de consignado para pensionistas do INSS, cuja fatia saiu de zero em 2020 para 75% da carteira no primeiro trimestre deste ano. “O mercado endereçável de concessão via folha de pagamento é de 100 milhões de brasileiros”, diz Aor. A meta para este ano é fazer a carteira ter uma expansão 30%. “Vamos buscar um crescimento sustentável.”

De acordo com ele, o fato de o Agibank ter interrompido em março as linhas de crédito consignado por uma semana, após o Conselho Nacional de Previdência Social (CNSP) ter reduzido o teto de juros para essa operação, incialmente de 2,14% para 1,70%, subindo depois para 1,97%, não afetou o crescimento da carteira. “Como temos a folha de pagamento dos clientes, pudemos oferecer outras linhas com custo atrativo porque conseguimos fazer o débito assim que o pagamento cai na conta do cliente.”

Sobre a eficiência na gestão de ativos e passivos, ele disse que o funding mais atrativo, que na média está em 100% do CDI, e o custo de captação de clientes controlado permitiram ao banco continuar com as operações de crédito consignado sem ter uma forte compressão dos spreads. A margem financeira líquida ajustado ao risco do banco ficou em 14,6% no primeiro Trimestre.

O banco, disse Aor, tem conseguido acesso a funding via linhas de crédito committed e secured oferecidas por bancos nacionais e estrangeiros, que têm custo menor que a captação via Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com o varejo. Em setembro do ano passado, o banco levantou R$ 1,25 bilhão da segunda tranche de debêntures distribuídas no mercado com um custo de DI mais 1,75% ao ano. A primeira, de R$ 1,25 bilhão, foi adquirida por um banco norte-americano.

Além disso, o banco trabalha com hedge para os passivos, que fez com que a instituição não tivesse perdas com a alta das taxas de juros nas operações com o mercado, como ocorreu com bancos como Santander e Bradesco. As receitas com tesouraria e derivativos cresceram 97,6% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.

O Agibank também tem se diferenciado do mercado em relação à estratégia de atendimento dos clientes, combinamos o acesso a lojas físicas com o atendimento digital. A instituição conta hoje com são 5 milhões de clientes, dos quais 2 milhões ativos… leia mais em Pipeline 08/05/2023