Brinox arruma a casa para o próximo dono
A Brinox, fabricante gaúcha de panelas e utensílios de cozinha, conseguiu na quarta-feira a aprovação de seu plano de recuperação judicial e quer virar a página da reestruturação.
“A companhia tomou a oportunidade de RJ neste último ano para fazer também uma reestruturação interna. Já estamos girando com crescimento de vendas de 10% na comparação com o ano passado e voltando a ter rentabilidade, com alta de 7,4% da margem”, diz Christian Hartenstein, CEO da Brinox, ao Pipeline.
A companhia pediu a proteção judicial contra execuções de dívidas em agosto do ano passado. Depois da expansão de vendas na categoria na pandemia, o fim do isolamento social trouxe queda na receita, aumento das despesas financeiras diante da alta dos juros, e pressão de custos operacionais com inflação de insumos.
“O varejo nesse tempo passou por uma transformação, um pouco traumática, como foi para gente. Nossos clientes entraram em RJ, o que precipitou a nossa”, diz o CEO. Com a forte competição entre marketplaces e com as contas bancárias chegando, a companhia estava “vendendo o almoço para pagar a janta”, define.
A receita anual era de R$ 500 milhões e a dívida de R$ 326 milhões – 13 vezes o Ebitda. “A indústria tinha entrado em uma dinâmica de guerra de preço, buscando volumes perdidos no pós pandemia. O que fizemos nesse último ano foi ajustar o mix, reduzindo volume nas linhas de baixa margem”, diz Hartenstein. “E por que não fizemos isso antes? Porque só foi possível com a RJ. Sem ela, ficávamos correndo atrás do rabo, tínhamos que continuar gerando boleto em vendas, mesmo que de pouca rentabilidade, para ter alguma entrada de recursos para pagar as obrigações financeiras.”
A Brinox reduziu turnos nas fábricas de Caxias do Sul e na capixaba Linhares, cortando 20% da força de trabalho, inclusive na área administrativa. A revisão da distribuição de mix – que manteve portfólio de entrada, mid e premium – também incluiu uma revisão de canais, para reequilibrar, por exemplo, o espaço de e-commerce. O estoque caiu de R$ 150 milhões para R$ 125 milhões.
Pelo plano aprovado, fornecedores com créditos até R$ 150 mil receberão pagamento integral até o segundo ano de operação. Acima disso, onde entraram os credores bancários, há diferentes tranches, com prazos de carência de dois a oito anos e pagamentos de sete a 10 anos seguintes. O deságio chega a 95% na distinção dos credores não parceiros – que não farão novos negócios com a companhia, por exemplo.
Bancos como Caixa, BB, Itaú e BV votaram a favor do plano, enquanto Bradesco, Santander e Banco do Nordeste votaram contra. Por fim, foi aprovado por 58% do valor dos quirografários, correspondentes a R$ 124 milhões. As classes dois e três aprovaram na integralidade.
“Era uma aprovação desafiadora porque tínhamos uma pulverização de credores, não era algo com dois ou três dominantes. Esse foi um dos motivos do pedido de RJ, inclusive, porque tentamos por quase um ano com cada credor, sem consenso”, conta o executivo.
A companhia é controlada pelo fundo de private equity Southern Cross, que já tinha tentado a venda do negócio no passado, ao chegar ao período de desinvestimento – mas com a dificuldade financeira, entrou em RJ. O mandato de venda era do BTG Pactual.
“Esse processo de venda foi suspenso durante a RJ. Agora vamos honrar o plano aprovado pelos credores e o acionista volta a ter essa possibilidade de avaliar uma venda”, diz o CEO. “É um fundo de investimento, cuja natureza é comprar e vender conforme a oportunidade.”
O fundo argentino já está há 13 anos na Brinox e, normalmente, os veículos entram em período de desinvestimento no quinto ano... leia mais Pipeline 25/07/2024