Antes de uma fusão ou aquisição (M&A), é crucial analisar muito mais do que os números. Embora os dados financeiros atraiam grande parte da atenção, essas operações têm o potencial de transformar completamente os rumos de uma empresa, exigindo uma avaliação holística que leve em conta aspectos qualitativos e quantitativos.

O sucesso de uma M&A começa a ser desenhado na fase de planejamento, e a identificação de cenários prováveis é essencial para determinar se os objetivos serão de fato alcançados. Aqui, três pilares merecem atenção: a integração cultural, as sinergias operacionais e a sustentabilidade financeira.

Integração cultural

A integração de culturas organizacionais é um dos maiores desafios a serem previstos em qualquer processo de M&A. Empresas são formadas por pessoas, e essas pessoas compartilham, ao longo do tempo, valores, práticas e comportamentos que moldam a cultura organizacional. Avaliar antecipadamente como duas culturas distintas poderão coexistir é vital para evitar uma colisão que comprometa o sucesso da futura integração.

A ferramenta Cynefin, desenvolvida por Dave Snowden, pode ajudar nesse mapeamento de diferentes contextos culturais, prevendo como essas culturas poderão convergir ou, em casos mais complexos, divergir.

Esse entendimento prévio das culturas oferece às equipes a oportunidade de desenvolver estratégias para facilitar a adaptação à nova realidade, ou até mesmo reavaliar a viabilidade da transação. Uma integração cultural bem planejada pode resultar em equipes motivadas e com maior capacidade de inovação. Por outro lado, ignorar esse fator pode gerar desengajamento, aumento de turnover e uma série de custos ocultos, que muitas vezes passam despercebidos no processo de due diligence inicial.

Sinergias operacionais

Outro ponto crítico a ser analisado antes de uma fusão é o potencial de sinergias operacionais. A capacidade de as operações das empresas funcionarem melhor juntas do que separadas é uma das grandes promessas de uma M&A, mas muitas vezes isso não se concretiza. Estimar o quão viável será a unificação das operações diárias e os ganhos em eficiência deve ser uma prioridade já no início das negociações.

Perguntas como “será que conseguiremos melhorar a produtividade?” ou “quais áreas trarão maiores economias de escala?” precisam ser abordadas logo no início, com base em dados reais e expectativas claras. Portanto, uma análise detalhada do impacto operacional pós-fusão é essencial para determinar se a fusão está no caminho certo.

Sustentabilidade financeira

Finalmente, é essencial considerar a sustentabilidade financeira da transação. Mesmo que o retorno financeiro seja uma medida concreta, ele não deve ser a única base para a decisão. Custos de integração, reestruturações e possíveis ajustes de mercado devem ser projetados para que a transação não se torne um fardo financeiro em vez de um benefício.

Avaliar antecipadamente como os custos e os benefícios serão distribuídos ao longo do tempo, e não apenas focar no retorno de curto prazo, ajuda a garantir que a fusão tenha uma base financeira sólida.

As fusões e aquisições envolvem riscos, e aproximadamente 70% a 90% dessas transações não atingem os resultados esperados em termos de geração de valor. Esse fato não desqualifica a estratégia, mas reforça a importância de um planejamento criterioso. Considerar a integração cultural, as sinergias operacionais e a sustentabilidade financeira desde o início é fundamental para que a fusão tenha potencial de sucesso.

Uma análise abrangente e estratégica, que contemple todos os ângulos, é o caminho para garantir que os objetivos de longo prazo sejam atingidos e que o valor projetado seja realmente capturado. Por Alexandre Magno – CEO da The Cynefin Co Brazil, especialista em auxiliar empresas que enfrentam desafios complexos e substanciais de transformação. Nos últimos anos, ocupou a posição de liderança no Escritório de Transformação do Itaú, o maior banco da América Latina.

Com informações da Mclair Comunicação 25/11/2024