Fatores ESG e valuation: contribuições da pesquisa acadêmica
Executivos e analistas, nas empresas e instituições financeiras, têm pouco tempo para buscar informações fora das suas fontes tradicionais, que tentam resumir e, algumas vezes, simplificar questões complexas e multidimensionais. Sustentabilidade corporativa e análise ESG se enquadram nos desafios de abrangência e complexidade.
A pesquisa acadêmica, sujeita ao rigor metodológico, mas frequentemente apresentada em linguagem pouco amigável, pode ficar fora do radar dos practitioners. Pesquisas sobre o relacionamento entre desempenho socioambiental (DSA) e desempenho financeiro corporativo (DFC) são realizadas desde a década de 1970. Elas ajudam no entendimento das suas conexões e trazendo elementos para as discussões entre os apaixonados pela análise ESG, que às vezes exageram o seu alcance, e os anti-ESG, que enxergam apenas defeitos onde também existem virtudes.
Que contribuições a pesquisa acadêmica tem trazido aos practitioners nas áreas de sustentabilidade corporativa e análise ESG? Um caminho para responder a essa pergunta pode ser o exame de “meta-análises”. Como o nome revela, trata-se de “análises das análises”, ou seja, após muitos anos de pesquisa sobre um tema, pesquisadores fazem uma ampla revisão do que foi estudado, tentando consolidar o conhecimento através da identificação de pontos de consenso e divergências. Uma discussão de todo o conteúdo individualizado seria espinhosa, mas podemos recorrer à meta-análises (abordagem estatisticamente mais rigorosa) ou mesmo a vote-count studies (com maiores limitações estatísticas) para termos uma visão das principais conclusões de uma grande quantidade de estudos.
No artigo “ESG and Financial Performance”, publicado em 2015 no Journal of Sustainable Finance & Investment, Gunnar Friede, Timo Busch e Alexander Bassen tentaram, através da revisão de 25 meta-análises e 35 vote-count studies, combinar as evidências de, aproximadamente, 2200 pesquisas. De forma simplificada, o principal resultado foi que o business case do investimento ESG tem bom fundamento empírico. Em torno de 90% das pesquisas indicaram relação não-negativa entre critérios ESG e DFC, com a grande maioria apontando relação positiva.
Adicionalmente, a relação se revelou estável ao longo do tempo. Os autores concluem que a orientação para o investimento responsável de longo prazo tem importância para todos os tipos de investidores, ajudando a cumprir com o dever fiduciário e podendo contribuir para o alinhamento dos interesses dos investidores com os objetivos mais amplos da sociedade. Destacam, porém, que isto exige um entendimento profundo e detalhado da integração dos critérios ESG no processo de investimento, de forma a capturar o seu potencial de geração de valor. Encerram registrando a importância de considerar as diferenças de portfolios, regiões e classes de ativos, ou seja, alertam para os riscos de generalizações indevidas.
Este estudo permite uma visão histórica e prospectiva da conexão entre fatores ESG e valuation, mas você deve estar perguntando se há algum estudo mais recente, com abordagem semelhante.
Em 2021, a New York University (Stern School of Business – Center for Sustainable Business) e a Rockefeller Asset Management publicaram o estudo “ESG and Financial Performance”. Os autores, Tensie Whelan, Ulrich Atz & Casey Clark, sintetizaram as evidências agregadas de mais de 1000 estudos individuais publicados entre 2015 e 2020. Alguns dos principais resultados foram:
- 1) relação positiva entre fatores ESG e desempenho financeiro em 58% dos estudos corporativos, com maior clareza em horizontes temporais mais longos;
- 2) nos estudos de investimentos, 59% com desempenho igual ou superior aos investimentos convencionais e proteção adicional para quedas durante crises econômicas ou sociais.
Os resultados das pesquisas individuais foram complementados pela revisão de meta-análises do mesmo período, sendo 13 na área corporativa e 2 na área de investimentos. O primeiro grupo encontrou relacionamento consistentemente positivo entre fatores ESG e DFC enquanto o segundo identificou resultados sem distinção estatisticamente significativa entre investimentos ESG e convencionais, cabendo observar que os dois resultados se mostraram robustos ao longo do tempo e espaço. Finalmente, iniciativas sustentáveis nas empresas pareceram propiciar melhor desempenho financeiro quando mediadas por fatores como omo melhoria na gestão de risco e inovação… leia mais em Valor Econômico 14/02/2023