Em um ambiente que contempla uma taxa de câmbio depreciada e expectativas de inflação cada vez mais desancoradas, a necessidade de um ciclo que avança ainda mais no território contracionista se faz presente e leva o Itaú Unibanco a elevar sua projeção para a Selic de 15% para 15,75%, nível que deve ser alcançado ainda no primeiro semestre do ano. Na projeção do banco, a taxa de juros será mantida nesse valor ao menos até o fim deste ano e começará a ser reduzida em 2026, quando chegará a 13,75%. Antes, o Itaú projetava a taxa em 13% em dezembro do próximo ano.

“Por um lado, a política monetária mais restritiva deve impactar a economia com mais força a partir do segundo trimestre de 2025. Por outro, a dinâmica do real e das expectativas de inflação serão cruciais para determinar o tamanho do ciclo”, avalia a equipe de economistas do Itaú, que é comandada pelo ex-diretor do Banco Central Mario Mesquita. “Caso haja uma nova rodada de depreciação da moeda e/ou deterioração adicional das expectativas, não é possível descartar uma extensão do ciclo e, eventualmente, uma postergação dos cortes em 2026”, avaliam os profissionais.

Em sua revisão de cenário publicada hoje, o Itaú considera que o real tem espaço limitado para uma apreciação à frente, na medida em que incertezas externas e domésticas devem continuar a pressionar o câmbio. O diferencial de juros, porém, deve ajudar o real na medida em que a Selic continuar em alta, “mas não o suficiente para promover apreciação significativa da moeda”. Nesse contexto, o Itaú elevou sua estimativa para o dólar no fim deste ano e no fim de 2026 de R$ 5,70 para R$ 5,90.

Com o real em um nível mais depreciado e a inflação de serviços mais pressionada, o Itaú também elevou suas projeções para o IPCA: a estimativa deste ano subiu de 5,0% para 5,8%, enquanto a expectativa para a inflação de 2026 passou de 4,3% para 4,5%, no teto da meta. “Apesar da revisão altista, o balanço de riscos segue assimétrico, diante da chance de o real não apreciar como projetamos, com impacto, principalmente, sobre alimentos e industriais”, dizem os economistas. Para eles, uma maior inércia e a desancoragem das expectativas são os principais riscos de alta.

Os economistas notam, ainda, que o repasse da variação cambial para o IPCA “parece estar mais rápido que o usual (2 a 3 trimestres)” e dizem já ter visto uma aceleração, na margem, de alguns itens mais sensíveis à taxa de câmbio. À frente, o Itaú espera uma aceleração adicional desses itens, em especial ao longo do primeiro trimestre deste ano.

Nesse contexto, o banco projeta mais duas altas de 1 ponto na Selic, em janeiro e em março, seguidas de mais dois aumentos de 0,75 ponto no juro básico durante o segundo trimestre. Os economistas do Itaú observam que, em dezembro, o Banco Central adotou uma postura mais firme diante da piora significativa das expectativas de inflação de 18 meses à frente. “Da reunião de dezembro para cá, as expectativas no mesmo horizonte já pioraram mais de 20 pontos-base (0,2 ponto percentual). Se tal movimento continuar, existe o risco de que o BC não consiga reduzir o ritmo de alta em maio”, alertam os profissionais.

Vale notar que o banco também projeta uma desaceleração moderada da atividade à frente, mas com riscos crescentes. No cenário base do Itaú, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano deve ficar em 2,2%, diante de um segundo semestre mais fraco. Já para 2026, o banco cortou sua expectativa de 2,0% para 1,5%, ao levar em consideração o efeito defasado da política monetária leia mais em Valor Investe 20/01/2025