Apesar do ciclo de baixa ter tomado o mercado de criptomoedas em 2022, a presença dos fundos de capital de risco (VCs, na sigla em inglês) continuou relevante ao longo do ano. Ao todo, os VCs injetaram US$ 35,9 bilhões em projetos de criptomoedas, quase US$ 7 bilhões a mais do que em 2021.

Em seu relatório contendo previsões para o mercado cripto em 2023, a Messari aponta que o cenário de investimentos mudará drasticamente no ano que vem. Dan Yamamura, sócio da gestora Fuse Capital, avalia as previsões feitas pela empresa de análise Messari sobre a presença de VCs na economia digital.

Hora de mostrar ação de verdade

O relatório aponta em uma de suas previsões que é hora de projetos em rodadas de captação em série A ou mais mostrarem que seus negócios estão saudáveis. Ou seja, é importante que as empresas mostrem que suas propostas continuam atuais, e não pertencem ao vasto museu de ideias obsoletas do mercado cripto.

Além disso, as previsões indicam uma tendência de redução dos aportes feitos por fundos, tanto em tamanho quanto em volume. Yamamura concorda com a queda de liquidez de investimentos no mercado de criptomoedas, e acrescenta que essa é uma tendência macroeconômica.

“No caso das rodadas de captação em série A ou mais, como se tratam de valores maiores a serem investidos, acredito que haverá maior dificuldade de conseguir dinheiro de fundos. O mercado ficará mais seletivo em 2023, e esse é um efeito colateral da falta de liquidez”, diz.

Absorção por grandes companhias

Em sua série de previsões para a área de investimentos em projetos ligados a criptomoedas, a Messari também aponta que 2023 será um ano repleto de fusões e aquisições. As grandes companhias, destaca o relatório, darão preferência às startups que receberam volumosos aportes de VCs.

Como exemplo, a Messari cita movimentos feitos pela própria empresa, como a aquisição da Dove Metrics, agregador de dados sobre fundos de capital de risco. Este movimento, contudo, ocorre entre duas empresas nativas do mercado cripto. Dan Yamamura acredita que as fusões partirão mais de empresas do mercado financeiro tradicional buscando startups relacionadas a ativos digitais.

“Temos visto cada vez mais as tecnologias de Web3 sendo usadas por grandes companhias. Os VCs de grandes companhias têm se movimentado nesse setor, adquirindo participações ou fazendo aquisições completas de startups nativas da Web3. Embora aconteçam com mais frequência nesse segmento, essas movimentações não são específicas dele”, opina.

No geral, acrescenta o sócio da Fuse, as companhias tradicionais estão mais atentas aos serviços do mercado de criptomoedas que complementam suas atividades. Isso justifica o interesse do mercado financeiro tradicional em startups da economia digital.

Investimentos para 2023

O próximo ano também virá acompanhado de uma redução no total investido por VCs no mercado cripto, avalia Dan Yamamura: “Não é possível cravar um número, mas acredito que o total será menor do que aquele visto em 2021, por conta da queda de liquidez que eu mencionei anteriormente”.

O ano de 2022, em seu primeiro semestre, captou um restante do hype visto em 2021, por isso o volume investido por VCs foi tão alto, argumenta Yamamura. Dados da Messari reforçam o argumento do sócio da Fuse Capital. No primeiro semestre, o total investido por fundos de capital de risco em projetos de criptomoedas foi de US$ 29,3 bilhões. No segundo semestre, porém, o montante foi significativamente menor: US$ 6,6 bilhões.

Apesar dos indícios de que 2023 será um ano muito mais rigoroso para investimentos na área de ativos digitais, Yamamura está otimista quanto à ampliação dos casos de uso desse mercado.

“Mais importante do que tentar prever números, acredito que ainda teremos muito mais usos ligando DeFi ao mercado financeiro tradicional. Além disso, a adoção da Web3 será muito mais espalhada na economia, com cada vez mais empresas utilizando tecnologias desta área para melhorar produtos financeiros, e posteriormente outros casos de uso”, avalia… saiba mais em Exame 31/12/2022