Na Tok&Stok, Carlyle tira fundadora e família Dubrule tem um plano
Um ano depois de a fundadora Ghislaine Dubrule voltar ao comando da Tok&Stok, o controlador Carlyle, cujo fundo é hoje gerido no Brasil pela SPX, decidiu tirá-la do comando. Em reunião do conselho hoje, o controlador elegeu Guilherme Santa Clara, um executivo especializado em reestruturações, como novo presidente executivo.
Enquanto o Carlyle entendeu que a nova gestão estava gastando demais, os fundadores entendiam que os resultados já estavam começando a aparecer, mas levaria tempo para maturar. “A cultura da empresa foi embora. A Ghislaine começou a trabalhar para reconstruir isso com a equipe e vinha conseguindo”, avalia o fundador Regis Dubrule, ao Pipeline.
Em 12 meses, a varejista cortou R$ 135 milhões em despesas. Em junho, 49 das 50 lojas tiveram lucro e, no ano, 46 delas acumulam resultado positivo, segundo ele. A companhia fechou 17 lojas no ano passado e começou a mexer em processos – que, a princípio, geram gastos para ser reestabelecidos, o que incomodou o fundo, mas que daria eficiência mais adiante, defendem os fundadores.
A troca na presidência, por si só, deixa evidente que há um desacordo entre os grupos de acionistas. O Carlyle já passou do tempo regulamentar na empresa e quer uma solução mais rápida para o negócio – enxugar e vender. Ou fazer uma fusão. Há pelo menos um ano o fundo tenta desenhar uma fusão com a Mobly, empresa de móveis listada em bolsa que queima caixa mas tinha liquidez no balanço. Entre idas e vindas nas conversas com os acionistas principais da Mobly, o fundo não conseguiu chegar a um acordo final e, nesse período, o tal caixa da Mobly foi diminuindo.
O casal Drubule era contra a operação, apurou o Pipeline, por acreditar que a Tok&Stok precisava se reerguer ao invés de se unir a outra companhia encrencada. Há, na varejista, quem veja a ejeção da CEO como retaliação. A operação daria o controle da empresa resultante à Mobly e o Carlyle poderia ter porta de saída num follow-on ou venda gradual em bolsa. Questionado, Regis não comenta este assunto.
Mas a família se mexeu. Apesar de não ter poder de veto e ser minoritário, sem acordo de acionistas, a família também está na ponta credora, pois comprou recentemente uma dívida que a varejista tinha com o Itaú, o que lhe deu um pouco de barganha (e causou irritação ao fundo, que viu uma manobra de pressão). Por ora, a possibilidade de fusão com a Mobly morreu, por razões diversas. E os fundadores têm um plano – que não é de simples execução.
Os Drubule garantem que não querem embate com o Carlyle, ao contrário. Eles querem voltar ao comando da companhia e isso passar por um comum acordo com o fundo. Trabalhando com Moelis e os escritórios Tannuri Advogados e Spinelli Advogados, Regis, o irmão e a esposa propuseram uma capitalização da Tok&Stok, que desalavanca a companhia em duas pontas, num total de R$ 210 milhões.
Eles colocariam R$ 100 milhões em dinheiro novo na empresa e converteriam R$ 110 milhões de dívida em equity (além dos créditos comprados do Itaú há um mês, eles tinham cerca de R$ 60 milhões que emprestaram para fôlego da empresa que venceria no próximo mês e foi renegociado). “Estamos dispostos a investir mais para salvar a empresa”, afirma Regis Dubrule, que acredita que a alternativa para perenidade do negócio está dentro da própria varejista. “Temos alguma idade, nossos filhos não estão no negócio, mas podemos ajudar no processo de sucessão com quem conhece a companhia ou mesmo apoiando um CEO de fora que entende do setor.”
Para a capitalização, os Dubrule querem alinhar uma acordo de gestão, com Ghislaine voltando à presidência executiva inicialmente e com a família tomando mais força no conselho. Os acionistas já tiveram conversas com bancos credores, que podem se tornar aliados nesse processo se toparem um reperfilamento da dívida de quase meio bilhão de reais – o que depende de crença na capacidade de gestão da empresa para fazer a virada do balanço.
Acontece que o Carlyle não tem a intenção de abrir mão do controle da Tok&Stok, apurou o Pipeline. Não por diluição ou acordo. O fundo, que desembolsou R$ 700 milhões aos Dubrule para ficar com o controle, também quer sair com um cheque – para um acordo de venda de controle, sentaria para conversar.
Quando investiu na varejista, em 2012, o Carlyle manteve a fundadora no comando por um tempo – depois, seguiram-se quatro CEOs. O casal Dubrule, que havia decidido pela venda para desacelerar a rotina, acabou lamentando a transformação na companhia.
Em agosto do ano passado, Ghislaine, aos 73 anos, voltou ao posto. Ao longo de 2023, a companhia fechou 17 lojas – o fundo defende fechar mais lojas deficitárias, enquanto Dubrule argumenta que há outros encargos altos para isso, como multas em aluguéis, caso de uma loja feita no modelo built to suit…. leia mais em Pipeline 17/07/2024