Em janeiro de 2024, escrevi um artigo compartilhando minha leitura sobre o que viria no ano. Estava otimista. Terminei o texto dizendo: “Enxergamos à frente um ano muito positivo para as fusões e aquisições de forma geral, com foco no crescimento das empresas e na retomada dos IPOs reprimidos nos últimos anos”. Conclusão: pesei a mão no otimismo!

A poucos dias do encerramento do ano, estamos caminhando para um cenário melancólico em 2024. As expectativas eram de mais ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), juros abaixo de 10% e uma bolsa pujante.

Contudo, a realidade foi bem diferente: os juros caíram, mas não demorou para voltarem a subir. Os juros futuros agora apontam para algo entre 14% e 15% ao ano nos próximos encontros do Banco Central, e os IPOs, além de não terem voltado este ano, estão muito longe de qualquer perspectiva de retorno em 2025.

Estive recentemente em um evento com gestores de recursos das principais empresas do segmento no Brasil, e parece haver um consenso no mercado. A mensagem mais repetida durante a programação foi: “vamos esperar a eleição de 2026”. O dólar, que estava na faixa dos R$ 5, já alcançou R$ 6, com um cenário ainda incerto sobre até onde pode chegar.

Outro ponto relevante é o papel dos fundos de private equity e venture capital. Muitos deles estão em fase de desinvestimento, e as vendas de empresas maduras podem contribuir para o aumento no volume de transações. Essa maturação das carteiras tende a movimentar o mercado, mesmo em um cenário adverso.

Apesar das adversidades aqui mencionadas, de forma geral, não esperamos grandes retrações no mercado em 2025. Contudo, os motores tradicionais de estímulo – juros baixos, economia aquecida, inflação controlada e IPOs – não estarão presentes, o que deve limitar uma recuperação expressiva. Ainda assim, historicamente, no mercado de fusões e aquisições, cenários mais desafiadores e com algum grau de antecipação podem gerar oportunidades vantajosas para compradores. Com os vendedores conscientes e ajustando suas expectativas de preço, o mercado pode encontrar estímulo para gerar novos negócios.

Portanto, acredito que manteremos o cenário de um mercado no patamar de 1.300 a 1.500 transações anuais, com um amadurecimento constante da classe empresarial em relação ao ambiente de M&As e transacional. A única convicção que resta é de que 2025 será o ano do não avanço e do compasso de espera. Resta saber se esse ritmo se estenderá até as eleições de 2026. Espero que não. Por Denis Morante – sócio-fundador da Fortezza Partners. leia mais em Valor Econômico 27/12/2024