De uma empresa incensada nos anos pré-covid por ter integrado os canais de venda online e offline de maneira pioneira, colhendo os frutos dessa transformação como nenhuma outra durante a pandemia, a uma companhia cujos resultados financeiros têm decepcionado desde a reabertura da economia. Num cenário de juros altos, consumidor endividado e concorrentes mais bem preparados, o Magazine Luiza tem sofrido para entregar lucros ao acionista.

O valor da companhia no mercado reflete essas mudanças. Em novembro de 2020, quando a taxa básica de juros (a Selic) estava em 2% e o consumidor recorria a itens de casa para tentar melhorar um pouco a qualidade de vida na quarentena, o valor de mercado do Magalu atingiu R$ 178 bilhões. A empresa era, então, a sexta maior da Bolsa. Hoje, diante de um cenário completamente diferente, o que inclui a Selic a 13,75% e o brasileiro consumindo mais serviços – e menos bens –, o grupo vale R$ 25,3 bilhões. Isso significa que o Magazine Luiza perdeu, em valor de mercado, o equivalente ao Bradesco, e caiu para a 35ª posição no ranking das mais valiosas, segundo levantamento do TradeMap.

Para analistas ouvidos pelo Estadão, essa deterioração ocorreu devido à mudança no quadro macroeconômico, ao perfil da empresa e também ao fato de os concorrentes estarem mais bem posicionados. Eles dizem não haver muito motivo para responsabilizar a equipe de administração do grupo.

“Não vejo nenhum grande erro estratégico. A empresa vive hoje uma dinâmica muito mais desafiadora do ponto de vista macro e a competição ainda é dura, apesar da queda das Lojas Americanas”, diz Danniela Eiger, da XP.

“A gente acha que a execução e o management (equipe de gestão) são muito bons. Mas é uma companhia que atua em um setor muito sensível ao macro e, nos anos anteriores, as vendas foram altas, o que dificulta a comparação”, afirma Vinícius Strano, do UBS BB. “Para a categoria de produtos em que eles são fortes (eletrodoméstico e eletrônicos), um juro de quase 14% é muito difícil”, acrescenta.

Ainda que a administração do Magalu não tenha errado na estratégia, a empresa não deixa de estar em situação delicada. No primeiro trimestre deste ano, teve um prejuízo de R$ 391,2 milhões, mais que o dobro do registrado nos primeiros três meses de 2022 e o maior desde que a empresa abriu capital na Bolsa (em 2011). Esse resultado fez as ações caírem 22,8% no dia seguinte à divulgação – elas já subiram 12% desde então.

Na visão dos analistas, uma questão tributária está entre as principais explicações para o desempenho negativo do grupo no começo deste ano. Por uma decisão da Justiça, em 2023 foi reintroduzido no País um diferencial da alíquota interestadual e da interna do ICMS do Estado de destino da mercadoria, o chamado Difal. Na prática, isso eleva o valor do tributo cobrado sobre produtos vendidos pela internet. Esse aumento de imposto está sendo repassado gradualmente ao consumidor, mas, enquanto isso não é feito integralmente, a margem da empresa cai.

Outro fator que vem dificultando a recuperação do Magalu é a concorrência acirrada. Quando a companhia se destacou entre as empresas do setor, mesmo antes da pandemia, as concorrentes ainda não haviam conseguido unir suas operações online e offline de maneira tão eficiente nem tinham um sistema logístico tão desenvolvido.

Nos últimos anos, porém, o Mercado Livre – um dos concorrentes mais fortes – melhorou muito a logística, após investir pesado na área. A empresa também não sofre tanto com a alta dos juros, dado que seu foco não são eletrodomésticos e eletroeletrônicos.. saiba mais em Estadão 02/06/2023