Os fundos de venture capital têm feito uma remarcação geral dos valores das startups em seus portfólios, para ajustar as expectativas de seus investidores à nova realidade do mercado. Cada fundo tem um parâmetro para reduzir a precificação na carteira, considerando sua análise de cenário e também o momento em que entraram em determinada companhia.

Em média, as reduções têm ficado em 30% sobre o último valuation, mas chegam a quase 60% em alguns casos. Os fundos têm preferido se antecipar a down rounds e fazer o ajuste antes mesmo de uma reprecificação em rodada ou optado por uma política mais conservadora quando tem margem para isso, independentemente de rodada em vista.

A Kaszek fez uma remarcação na casa de 28% nas startups de um dos fundos, apurou o Pipeline, o que incluiu a fintech brasileira Creditas. A companhia foi avaliada a US$ 4,8 bilhões em sua última rodada, levantada em julho. Na carteira Kaszek, portanto, foi agora para US$ 3,5 bilhões.

Na Redpoint, a remarcação foi mais radical, levando o valor de Creditas para US$ 2 bilhões, segundo fontes. Mas a Redpoint entrou na companhia com um valuation de US$ 8,9 milhões, em 2015. Ou seja, sua precificação atual para a fintech não significa perda. Ainda indica valorização de mais de 220 vezes do capital investido.

O valuation da Creditas

“Os fundos que entraram mais cedo nas empresas têm mais gordura para esses ajustes, para posições mais conservadoras, que ainda assim refletem o crescimento da companhia”, explica uma fonte do mercado. “Um fundo que entrou na última rodada não faria uma remarcação nessa magnitude numa companhia que segue crescendo e não está vindo a mercado agora.”

A Creditas não está captando, portanto a remarcação dos fundos não significa que a companhia terá que efetivar uma mudança de valuation. Mas não deixa de ser uma amostra do chacoalhão do mercado, considerando que, em janeiro do ano passado, bancos e fundos estimavam até US$ 10 bilhões para Creditas num IPO.

Ao Pipeline, Sergio Furio, fundador e CEO da companhia, disse que valuation não é o foco da Creditas, que continua voltada para a execução operacional e crescimento, e tem caixa para isso. “Não precisamos de capital, vamos atingir o breakeven no final deste ano e continuamos com crescimento muito forte. Batemos recorde de vendas a cada mês”, afirma Furio.

Na semana passada, a companhia anunciou uma mudança na estratégia de venda e financiamento de veículos novos e usados, o Creditas Auto, que tinha operação própria, com pontos de atendimento, e passará a ser terceirizada. Os analistas do BTG consideraram o primeiro movimento mais relevante da companhia até hoje em ajuste estratégico e como medida de preservação de caixa.

Segundo Furio, trata-se de uma questão de eficiência. “Era um negócio ainda pequeno, que representa menos de 3% do faturamento da Creditas, e entendemos que uma terceirização era o melhor caminho”, diz o fundador.

Um investidor que tem capital em diferentes casas ressalta que a remarcação está longe de ser uma questão exclusiva de Creditas e tem sido generalizada nas carteiras de fundos que entraram desde o early stage.

“A grande maioria dos gestores está marcando o portfólio para baixo e esse ajuste está em linha com o que tenho visto em termos percentuais “Na prática, esse número só se concretiza numa necessidade de captação ou venda. Se a companhia só fizer isso quando o negócio já estiver em outro patamar, quando o mercado voltar a ficar mais aquecido, aí nada mudou para a empresa.”

Kaszek e Redpoint não deram retorno até a publicação desta matéria… leia mais em Pipeline 27/03/2023