Para onde vai o dólar em 2025?
O dólar tem grandes chances de encerrar o ano com valorização de mais de 25% ante o real, comparável ao desempenho do índice de ações das 500 maiores empresas americanas, o S&P 500, que caminha para encerrar 2024 com alta de 28%, com um grande impulso das inovações trazidas pela inteligência artificial. Neste mês, a moeda americana renovou recordes, e chegou a tocar a cotação de US$ 6,20 com o aumento da percepção de risco do Brasil.
E para onde deve caminhar a moeda americana em 2025? O ano é povoado de incertezas, o que torna mais difícil do que já é projetar para onde vai o dólar. Mas, segundo a mediana das estimativas do último Relatório Focus, do Banco Central (BC) divulgado no dia 16 de dezembro, a moeda deve chegar a R$ 5,85 no final do ano que vem.
Para entender se as pressões sobre a moeda podem ou não arrefecer, especialistas apontam que é prioritário olhar para três temas: o reaquecimento da economia chinesa, o início do governo de Donald Trump e medidas para conter a sangria da dívida publica brasileira.
Na visão de Álvaro Frasson, estrategista de macroeconomia do BTG Pactual, caso o governo chinês continue a incentivar gradualmente a atividade econômica do país, e até intensifique essas medidas, será algo benéfico para a moeda brasileira. “Contudo, o reaquecimento do mercado imobiliário no país é complexo e não é simples de resolver. Não esperamos um grande crescimento vindo de lá”.
A China irá tentar estimular o seu setor de construção, e não apenas reduzir juros para financiamentos. Também deve promover a expansão fiscal de suas províncias. As medidas tendem a aumentar os preços de commodities e compensar em parte os efeitos que as politicas do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tendem a gerar sobre as moedas, aponta Marco Maciel, economista-chefe do Banco Fibra. Há o risco, contudo, de o país errar na dose de sua expansão fiscal, o que pode gerar maior instabilidade no mercado.
Sobre o início do governo Trump, é necessário observar se eventuais medidas protecionistas serão tomadas de forma abrupta ou de forma gradual: caso as políticas tarifárias de Trump sejam feitas de forma abrupta e agressiva, o dólar tende a continuar a se valorizar no curto prazo, aponta o estrategista de macroeconomia do BTG. “Somente quando o governo começar poderemos saber se o dólar vai valorizar no curto prazo ou não”.
Trump promete tarifar de 10% a 15% produtos manufaturados e semimanufaturados de países como o México e a Malásia. Para a China, as taxas podem chegar a 60%. “O choque dessas medidas pode elevar a inflação de 2,7% para 3,2% e implica que os rendimentos de títulos do Tesouro americano fiquem mais perto de 4,5 do que 3,5%, o que leva a um dólar forte, que terá peso não só sobre o real, mas todas as moedas emergentes, analisa Maciel, do Banco Fibra.
Na seara interna, o governo precisará buscar o equilíbrio das contas públicas no ano que vem. Mas com a previsão de um déficit primário equivalente a 0,6% do PIB, terá de fazer esforço redobrado para chegar à meta de 0,25%, aponta Maciel, do Fibra. “O governo terá de buscar uma arrecadação espetacular em 2024, especialmente com a taxação de fundos exclusivos e offshore, além de recorrer a litígios”. Como as medidas de contenção de gastos do governo não agradaram os investidores, a aprovação do pacote fiscal não tende a mudar muito o cenário para a moeda, diz o economista.
“A tendência é que o câmbio fique entre R$ 6,10 e R$ 6,15. Na melhor das hipóteses, caso as coisas corram um pouco melhor do que agora, tanto lá fora como no Brasil, poderia chegar a R$ 5,80, algo que será bem difícil acontecer”.
Como chegamos até aqui?
É necessário enriquecer o debate. O dólar chegou a tocar a cotação de R$ 6,20 não apenas por conta de um ataque especulativo e nem apenas por causa de uma insatisfação com a trajetória da dívida pública brasileira e a condução de políticas fiscais pelo governo. É um cenário que se parece mais com uma tempestade perfeita, e uma grande parcela da alta que pode ser creditada ao cenário internacional, aponta Frasson.
Frasson calcula que se o real estivesse negociando apenas por conta de questões externas, sem contar o risco fiscal, estaria a R$ 5,60. “Muito se fala que, se não houvesse ruído fiscal o real estaria a R$ 5 ou abaixo disso. Nada disso. O dólar se valorizou muito esse ano, os preços das commodities pioraram e o fluxo de investimento priorizou economias inovadoras, como a americana”.
Contudo, aponta, os R$ 0,40 causados por conta de ruídos internos e desconfiança com relação ao rumo da dívida do país são relevantes. Uma variação de 10% no câmbio tem impacto de 0,6 ponto percentual na inflação seis trimestres à frente. Sem eles, talvez a inflação não fosse de 4%, mas 3,5%. “Esses ruídos já foram piores: chegaram a R$ 0,60 quando havia discussões sobre a independência do Banco Central”.
Ainda que o real tenha liderado, ao lado do peso mexicano na depreciação das moedas emergentes no ano (o real depreciou 19%, o peso mexicano perde 16% do valor, enquanto o peso colombiano recua 11%), 2024 foi um ano ruim para todas as moedas emergentes por três motivos: o volátil rumo dos juros americanos, a vitória do candidato republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e a fraqueza econômica da China.
O volátil rumo dos juros americanos, causado pelo atraso no início do ciclo de corte das taxas de juros por lá, aconteceu já no início do ano e se estendeu até agosto. Esse movimento promoveu a apreciação da divisa ante os países emergentes, já que deixou, por mais tempo, o diferencial de juros mais favorável aos Estados Unidos, que continuaram com taxas elevadas, ao mesmo tempo em que a economia é percebida como de baixo risco por investidores globais, o que torna o investimento atrativo no país.
O segundo motivo, aponta Frasson, que ficou concentrado nos últimos dois meses do ano, foi a antecipação, no mercado financeiro, da vitória do candidato republicano Donald Trump à presidência americana. O movimento resultou em uma maior apreciação do dólar no exato momento em que a alta da moeda deveria arrefecer diante do início do ciclo de corte de juros pelo banco central americano (Federal Reserve, o Fed). Neste período, o índice DXY, que mede a força do dólar contra moedas de outros países desenvolvidos, avançou 6%, o que é relevante para um índice que não costuma apresentar vai e vem, pontua Frasson.
“O dólar se valorizou com a vitória de Trump porque é esperada que sua política aumente a inflação. O protecionismo do novo presidente tende a trazer de volta para os Estados Unidos fábricas americanas que estão na China, o que traz pressão sobre os salários no mercado de trabalho”
Por fim, o ano não foi bom para a economia chinesa. Ainda que o governo tenha atuado para estimular o mercado imobiliário, não tem sido capaz de mudar os preços do minério de ferro, por exemplo, um produto essencial para a balança comercial brasileira. No início do ano, o preço do produto chegava a US$ 125, e atualmente está perto de US$ 105. Apenas esse efeito já diminui a entrada de dólares no país e provoca, consequentemente, a desvalorização do real.
Além desses três fatores externos, houve ainda dois motivos domésticos para o câmbio chegar aonde está. O primeiro aconteceu em abril, quando foi aprovada a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) com metas fiscais mais frouxas do que as que o próprio governo havia definido um ano antes, define Frasson, do BTG, na apresentação do arcabouço fiscal. “Foi algo que pegou mal para o governo”. Por fim, a apresentação do pacote de contenção de gastos em novembro foi apenas “a cereja de um bolo feio”, define. “As medidas não foram vistas como suficientes para resolver o problema”… leia mais em Valor Investe 18/12/2024