A onda de fusões e aquisições no mercado de provedores de internet (ISP’s), que nunca desacelerou, está prestes a entrar em sua segunda e maior fase, agora focada nas empresas de médio porte. Segundo um levantamento realizado pela Hand, assessoria especializada em fusões e aquisições (M&A), essas empresas, que vêm conquistando participação de mercado das líderes tradicionais, estão assumindo um papel central na consolidação dos provedores regionais e menores.

“Enquanto as fusões e aquisições promovem a consolidação do mercado, o ganho de escala e as sinergias operacionais promovem o ganho de margem, além da incorporação de novas tecnologias e infraestruturas que são essenciais para atender à crescente demanda por serviços de internet de alta qualidade”, explica Lucas D’el Rey, analista da Hand.

O Brasil tem testemunhado um aumento substancial no número de acessos à banda larga fixa, que saltou de 36 milhões em 2020 para 49 milhões em 2023, com as regiões Norte, Nordeste e Sul liderando esse crescimento. As líderes do setor, porém, têm perdido participação de mercado, sinalizando a ascensão dos ISPs de médio porte. De 2020 a 2022, a porcentagem de ISPs com infraestruturas híbridas aumentou de 25% para 37%, enquanto a proporção de ISPs com infraestruturas 100% próprias caiu de 70% para 60%. Esse movimento reflete uma tendência crescente de aquisições de provedores menores por players maiores.

Além disso, a presença em Pontos de Troca de Tráfego (PTTs) se tornou um diferencial competitivo. Apenas 23% dos ISPs com menos de 1.000 clientes estão presentes em PTTs, em contraste com 75% das empresas com mais de 6.000 clientes. A conexão direta via PTTs proporciona maior eficiência, velocidade e qualidade de navegação, reduzindo custos e promovendo uma internet mais colaborativa.

Com o crescente desafio para os ISPs de pequeno porte em acompanhar a concorrência, grandes e médios provedores estão explorando oportunidades de expansão através da aquisição de operadoras locais. Essa estratégia visa aumentar a base de assinantes, expandir a rede e diversificar serviços. D’el Rey observa que, com a disputa acirrada por mercado e a busca por margens, as empresas estão se transformando em integradoras de soluções. “Elas passam a oferecer uma gama mais ampla de serviços, especialmente no mercado B2B que exige flexibilidade técnica e alta performance”, comenta.

O CEO da Consultoria BA|Group, Ideval Munhoz, que atua junto aos ISPs, destaca também o potencial de expansão do portfólio dessas empresas, principalmente voltado para clientes B2B e B2C. “As ISPs, que antes geravam receita apenas com acesso à internet, estão agora diversificando suas ofertas para incluir soluções tecnológicas como consultoria em TI, segurança cibernética, cloud computing, e Internet das Coisas (IoT). A integração de plataformas de streaming, Big Data, Inteligência Artificial (IA) e Edge Computing também está se tornando comum, permitindo uma otimização dos processos e análise de grandes volumes de dados “, comenta.

A profissionalização da gestão, a adoção de plataformas digitais, e o uso de IA para aquisição e manutenção de clientes são fatores que aumentam o valor das ISPs, especialmente durante processos de venda ou busca de investimentos. Lauro de Brito Filho, da iColabora – empresa de transformação digital, com foco em automação de back-offices, enfatiza a crescente demanda por qualidade no serviço e atendimento ao cliente. “A digitalização do atendimento, com o uso de WhatsApp, chatbots e recursos de IA e uma esteira de tratamento de demandas, está se tornando essencial para proporcionar uma melhor experiência ao cliente”, afirma.

A necessidade de investimento em infraestrutura, a concentração de mercado nas mãos de grandes investidores, e a capacidade de barganha com fornecedores estão impulsionando a busca por novas operações de fusões e aquisições. Um exemplo recente desse movimento é a Desktop, que alcançou 1 milhão de clientes em 2023, adicionando 208 mil usuários, com 10% dessa nova base vindo de aquisições de provedores menores. “Com mais de 7 mil operadoras no Brasil e apenas cinco dominando 44,3% do market share, a consolidação é inevitável. O mercado brasileiro deve evoluir para um cenário mais concentrado, semelhante ao observado em outros países“, conclui D’el Rey.

Com informações da Imprensa Ágata 20/08/2024