As companhias de saúde, que têm chamado atenção pelo ritmo intenso de fusões e aquisições nos últimos anos, podem tirar o pé do acelerador em 2023. No entanto, a consolidação do setor é inevitável, dizem especialistas, e a tendência para os próximos anos é que as compras sigam a todo vapor.

O primeiro fator por trás da desaceleração esperada para 2023 é o alto patamar das taxas de juros, que torna mais custoso para as companhias levantar o capital necessário para realizar as compras.

“Com a Selic a 13,75%, ninguém quer fazer grandes aquisições”, explica Lucas Freire, analista de ações da Vinland Capital. “O indicativo de todas as empresas é que o cenário de aquisições vai diminuir” completa.

Além disso, as companhias vêm lidando com a integração dos ativos adquiridos recentemente que, em muitos casos, tem se mostrado mais difícil do que o esperado, afirma Freire. Além da dificuldade do processo, o fato de as companhias estarem trabalhando em muitas integrações ao mesmo tempo é um desafio adicional, segundo o analista.

Saúde: ritmo de aquisições pode desacelerar

As dificuldades deste processo, inclusive, vêm impactando os balanços das companhias do setor. No terceiro trimestre, a margem bruta da Viveo (VVEO3) apresentou contração de 1,5 ponto percentual na comparação anual, resultado da consolidação de aquisições recentes.

Outro exemplo é a Dasa (DASA3), que viu as despesas com vendas, gerais e administrativas aumentarem e a rentabilidade ser pressionada devido à incorporação de aquisições recentes. Ao longo do trimestre, a companhia consolidou os resultados da Profarma Specialty, adquirida em agosto do ano passado, que tem margens menores.

“É um processo natural. As sinergias virão, mas é muita empresa para fazer integração”, declara o analista da Vinland.

Foco na integração

Olhando para trás, estes dois fatores já impactaram as fusões e aquisições do setor em 2022, que, apesar de ter sido um ano com muita atividade, já teve um volume de operações menor do que o registrado em 2021.

Saulo Sturaro, sócio da JK Capital, assessoria financeira especializada em fusões e aquisições, aponta que algumas das maiores responsáveis pela consolidação do setor estão no meio do processo de integrar grandes operações realizadas recentemente.

É o caso de Hapvida (HAPV3) e NotreDame Intermédica, que uniram seus negócios no início do ano, e de Rede D’Or (RDOR3) e SulAmérica (SULA11), que tiveram sua fusão aprovada recentemente pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

“O reflexo disso é que as empresas estão focando mais no processo de integração e menos em aquisições ao longo de 2022”, afirma Sturaro.

Pausa temporária

Mesmo que a expectativa para o 2023 seja de desaceleração, a consolidação é um movimento natural para o setor, segundo os especialistas.

“Acreditamos que a tendência do setor de saúde é de consolidação. Pode haver altos e baixos ao longo dos anos, mas a tendência macro, de longo prazo, é de consolidar”, declara o sócio da JK.

Isso porque, na visão de Sturaro, o mercado brasileiro de saúde ainda é muito pulverizado, o que impede otimizações e economias de escala.

“É um setor em que não faz sentido ser pequeno. Tem economia de escala, poder de barganha de negociação com fornecedores de equipamentos, com os próprios hospitais, operadoras…”, explica.

Possíveis exceções

Dentro do setor de saúde, há dois segmentos que devem continuar com um ritmo acelerado de compras, de acordo com Sturaro: o de especialidades médicas, como oncologia e oftalmologia, e o de medicina diagnóstica.

Neste grupo, o especialista menciona Fleury (FLRY3), Dasa e Oncoclínicas (ONCO3) como empresas listadas que devem seguir comprando nos próximos meses.

Analistas da Safra Corretora concordam que o Fleury deve se destacar neste campo daqui para frente, especialmente depois de a companhia anunciar um aumento de capital, o que deve diminuir seu endividamento.

“A desalavancagem do balanço fornecerá combustível para a continuidade da agenda de crescimento da empresa em um momento em que o capital está mais escasso e mais caro, o que pode oferecer oportunidades interessantes”, escreveram analistas do Safra, em relatório publicado em 24 de novembro… leia mais em TradeMap 09/01/2023