Setor de apostas esportivas e jogo online no Brasil abre grande potencial para fusões e aquisições
O mercado de iGaming no Brasil aguarda a finalização do processo de regulamentação em curso, mas possui um alto potencial para fusões e aquisições. Essa é a análise da Hand, assessoria financeira especializada em M&A e gestão de empresas. “Veremos um cenário em que 5 operadores disputarão a liderança, 11 trabalharão para entrar no top 5, e 4 lutarão para não cair”, avalia Vitor Medeiros, responsável pela cobertura do setor na Hand. Ele não cita quais bets vão disputar esse ranking.
Um estudo recente realizado pela Hand, assessoria financeira independente especializada em M&A e gestão de empresas, destacou que o mercado brasileiro está em evidência pelo crescimento e a expectativa de se tornar um dos maiores mercados de apostas esportivas do mundo (em termos de Gross Gaming Revenue – GGR, de acordo com relatório publicado pela XP).
Com o avanço da regulamentação e a publicação das portarias complementares que trazem a segurança jurídica necessária para a atração de investimentos, o Brasil tornou-se o foco de expansão de investidores de todo o mundo. Entretanto, a falta de uma gestão profissional e estruturada dos players nacionais, juntamente com a complexidade de operar no país, tem levado os investidores a adotarem uma postura cautelosa antes de investir no Brasil.
Atualmente, existem mais de 1.000 empresas de apostas, conhecidas como “bets”, operando no país. Em 2023, essas empresas movimentaram mais de R$ 50 bilhões, superando o valor exportado de carne bovina e a economia de estados como Sergipe e Tocantins, e representaram 25% dos 14,2 bilhões de acessos a sites do gênero em todo o mundo.
No entanto, poucas operadoras possuem uma estrutura organizacional e financeira robusta que justifique receber um aporte ou serem vendidas para investidores.
De acordo com Vitor Medeiros, responsável pela cobertura do setor de iGaming na Hand, “com a definição da regulamentação do mercado de apostas no Brasil, é esperado um movimento natural de ajustes entre os operadores, semelhante ao “Campeonato Brasileiro”. Após a regulamentação, veremos um cenário em que cinco operadores disputarão a liderança, onze trabalharão para entrar no top 5, e quatro lutarão para não cair. Claro que haverá outros operadores, mas atuando em divisões inferiores ou no mercado ilegal”.
Ainda segundo Vitor, “espera-se um movimento de consolidação, que pode se tornar uma oportunidade para algumas operações robustas, e o encerramento das operações de outras devido às rígidas regulamentações que entrarão em vigor, colocando forte pressão nas margens operacionais”. Entre as novas exigências, destacam-se: 12% de imposto sobre o Gross Gaming Revenue (GGR);Incidência de impostos federais e municipais como: PIS, COFINS, ISS, IRPJ e CSLL; Necessidade de contratação de serviços até então inexistentes como: soluções KYC, integrar organismos de monitoramento da integridade esportiva como a IBIA e IBJR, além de outras adequações que serão necessárias.
Essas exigências já provocam diversos movimentos estratégicos por parte dos grandes players do setor, e a tendência é que deve se intensificar nos próximos meses. Alguns dos movimentos em discussão incluem:
* Grandes grupos de mídia: Utilizando-se da forte capacidade de influência e alcance em todo o país, estão avaliando aquisições e parcerias com operadores, como as negociações entre Globo e BetMGM, e entre Grupo Bandeirantes e OpenBet. Além de exemplos internacionais, como a parceria entre Disney (ESPN) e Penn Entertainment para fundar a ESPN Bet.
* Empresas de telecomunicações: Considerando aquisições e parcerias com operadores
* Meios de pagamento: Financiando ou contribuindo com o valor da outorga (R$ 30 milhões) para garantir um rendimento mínimo da operadora
* Empresas de software: Financiando ou contribuindo com o valor da outorga para fidelizar operadores.
Além disso, operadores menores estão se tornando afiliados de grandes operadores, estabelecendo parcerias estratégicas, onde os menores atuam de forma semelhante a um “Master Afiliado” para os maiores, aliviando acionistas das preocupações operacionais diárias como a conformidade regulatória, custos de licenciamento e estrutura administrativa, permitindo foco exclusivo nas atividades de marketing e a prospecção.
Essas movimentações indicam um período de grandes transformações e oportunidades no mercado brasileiro de apostas, atraindo a atenção de investidores nacionais e internacionais. O Brasil tem sido protagonista no desenvolvimento de soluções para o mercado “bet”, e a necessidade de “tropicalização” das soluções internacionais para um país continental como o Brasil tem aumentado o interesse de investidores em adquirir operações locais com expertise no mercado brasileiro.
Todo o ecossistema de operadores, provedores, meios de pagamento, empresas de afiliados e soluções de KYC serão alvos de consolidação. Quanto maior o nível de sofisticação das soluções, profissionalização da gestão, qualidade das informações, estratégia clara de crescimento e bom relacionamento com o mercado, maior a atratividade do ativo frente aos investidores.
A necessidade de ter um brasileiro com 20% do capital social das empresas operadoras é um dos atrativos para os processos de M&A, impulsionando ainda mais as companhias mais profissionalizadas.
A Hand já está assessorando algumas companhias que buscam investidores, mas alerta: “Por se tratar de um mercado bastante informal no Brasil, poucas empresas encontram-se no estágio para serem vendidas ou investidas. Observamos diversos gaps de gestão e transparência em outros players do mercado, mas o apetite dos investidores é alto”.
Medeiros ainda destaca: “Nos últimos meses, conversamos com mais de 90 investidores nacionais e internacionais interessados em investir no Brasil. Nossa agenda para este ano está bastante intensa. Estaremos nos eventos internacionais da SIGMA e SBC, além de participar de eventos nacionais para ampliar o relacionamento e discutir investimentos na carteira atual de clientes”.
“O mercado de iGaming, diferente de setores tradicionais, é altamente relacional, e os investidores preferem negociações presenciais. Essa abordagem direta e pessoal é essencial para garantir a transparência e a confiança necessárias em um setor extremamente dinâmico. A participação em eventos globais não só amplia o networking, mas também reforça o compromisso com as melhores práticas de governança nessas companhias”.
Como feedback das conversas com investidores de todo o mundo, a Hand reforça: “Os investidores internacionais estão muito interessados em adquirir operações no Brasil, ainda mais com a necessidade de 20% das quotas do Capital Social advindo de um sócio brasileiro”. No entanto, buscam empresas: Com gestão profissional e transparente dos resultados financeiros; Com tomada de decisão baseada em dados (“data-driven”), evitando fraudes, e com forte controle da sua base de jogadores; Com planejamento estratégico bem definido para os próximos anos Com bom relacionamento com todos os stakeholders do setor através de todos os meios de comunicação.
O processo de preparação para as empresas que visam um movimento de venda (total ou parcial) ou a captura de um investidor é crucial para que as operações de fato aconteçam, permitindo que os acionistas percam menos tempo, capturem maior valor em uma transação e mantenham o foco na operação.
Essa análise aponta para um futuro promissor e desafiador para o mercado de apostas e cassinos online no Brasil, com um grande potencial para atrair investimentos e consolidar-se como um dos maiores mercados globais do setor… leia mais em GMB 11/07/2024