Trump, juros, seca de IPOs, mas e a Governança?
Escassez de IPOs, volatilidade cambial, alta de juros, conflitos geopolíticos. Em meio a essas e outras tantas questões, qual é o espaço para o avanço da governança no Brasil e no mundo, especialmente com as empresas lutando para sobreviver? Os tempos difíceis ampliam as vulnerabilidades corporativas, no momento em que a fiscalização de investidores é maior. Ou pelo menos deveria ser.
“Com a previsão de um aumento nas operações de fusões e aquisições e eventos de crédito, o engajamento ativo com as empresas representará desafios na relação entre investidores e companhias”, diz o presidente da Associação dos Investidores no Mercado de Capitais (Amec), Fábio Coelho. Os desafios de governança enfrentados pelos conselhos de administração vão além: incluem desde a integração da inteligência artificial e dos riscos cibernéticos até o aumento do escrutínio sobre a remuneração dos executivos.
A governança e os conselhos de administração, portanto, enfrentam um grande teste em 2025, conforme previsto em relatório da KPMG, citando os Estados Unidos. E isso deve ocorrer à medida que as empresas enfrentam um cenário de disrupção e incerteza “sem precedentes”.
Em se tratando da maior economia do mundo, esses impactos devem reverberar mundo afora. A expectativa é de que o posicionamento do novo governo Trump em relação a impostos, comércio, imigração e regulamentação de forma geral vá afetar a economia, a geopolítica e os negócios de forma significativa.
No mercado de capitais, as regras climáticas da Securities Exchange and Commission (SEC) são um exemplo. Apesar de estarem diretamente ligadas à sustentabilidade, falam muito também sobre os rumos da governança, a espinha dorsal que integra o E e o S. As regras climáticas da SEC foram criticadas desde seu lançamento, no ano passado. Atualmente, há forte pressão política para suspendê-las, e a nova gestão do regulador americano já sinalizou uma mudança de postura.
Com esse desvio de rota, qual será a posição do restante do mundo sobre as regras de sustentabilidade? O que está mais avançado no momento são os padrões S1 e S2 do Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade (ISSB, na sigla em inglês). O novo arcabouço regulatório é seguido por países como o Brasil. Por aqui, os primeiros relatórios de sustentabilidade com bases nestes critérios serão conhecidos a partir deste ano, ainda de forma voluntária. Recentemente, Vale e Lojas Renner apresentaram uma prévia deste novo documento. A obrigatoriedade passará a vigorar posteriormente.
Portanto, com as normas já estabelecidas, não há, por ora, sinais de retrocesso. Além disso, reguladores europeus e asiáticos têm mantido uma postura mais rigorosa em relação à sustentabilidade, independentemente da possível suspensão das regras climáticas da SEC nos EUA.
O que se sabe, no entanto, é que a mudança de visão do regulador americano de alguma forma impacta a agenda ESG no restante do mundo e pode afetar o engajamento de investidores de forma geral. Então, até que ponto, mesmo obrigatórias, as regras passarão a ser somente uma obrigação a ser cumprida, como já ocorreu outras vezes?
Diversidade nos conselhos de administração
Outro ponto é a diversidade nos conselhos de administração americanos. As agências de recomendação de voto ISS e Glass Lewis, além de investidores institucionais como BlackRock estão reduzindo as expectativas sobre o tema para as assembleias de 2025, em meio às mudanças nas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) nos Estados Unidos.
A ISS não considerará mais a diversidade de gênero e racial ou étnica nos conselhos ao fazer recomendações de voto para eleição ou reeleição em empresas dos EUA. A Glass Lewis também vai alterar suas diretrizes e divulgará eventuais mudanças até 3 de março. Além disso, entre as diretrizes de voto da BlackRock, em vigor desde janeiro de 2025, foi removida a recomendação anterior de que os conselhos deveriam ter pelo menos 30% de diretores diversos.
No Brasil, a busca pela diversidade parece se manter. A Glass Lewis recomenda voto contra o presidente do comitê de nomeação (ou equivalente) caso uma eleição de conselho resulte em um colegiado exclusivamente masculino. Além disso, espera que os conselhos de administração expliquem como o processo de nomeação considera a diversidade e a origem nacional, alinhando-se às melhores práticas locais. A ISS não divulgará atualizações sobre as recomendações no Brasil este ano.
Com tantos sentidos opostos, ainda restam muitas dúvidas sobre o futuro da diversidade, da sustentabilidade e como a governança pode guiar esses parâmetros. Pode parecer óbvio, mas é preciso repetir que o futuro do ESG dependerá do compromisso do mercado em … leia mais em InfoMoney 26/02/2025