Um recorde de search funds no Brasil
Com a redução dos investimentos de venture capital e companhias enfrentando dificuldade com a sucessão, os search funds – veículos de investimento em que os investidores financiam um gestor para comprar uma empresa e assumir a gestão – têm crescido no Brasil. Em 2024, houve recorde de fundos criados no país e na América Latina. Só no Brasil, 29 veículos iniciaram a captação de recursos, número equivalente ao total registrado nos três anos anteriores, segundo levantamento da Spectra Investments.
No resto da América Latina foram lançados 14 fundos dessa modalidade. Atualmente, a região conta com 45 veículos dos quais 27 estão no Brasil.
“Esses fundos estão crescendo nos Estados Unidos e na Europa e o Brasil está seguindo essa tendência, e, à medida que as empresas compradas se tornam relevantes, desperta o interesse de mais investidores”, diz Frederico Wiesel, sócio da Spectra, gestora focada no mercado secundário e investimentos alternativos.
Um dos pioneiros nesse mercado, Rene Almeida se juntou a João Lima, com quem fez MBA na IB Business School, e levantou recursos com investidores americanos, europeus e com a Spectra para criar um search fund em 2017. Em 2019, eles compraram a Agasus, cujos fundadores não tinham sucessores para tocar o negócio. “Antes era muito comum no Brasil o filho do dono assumir a empresa e isso está mudando, o que traz oportunidade para os search funds”, diz Almeida.
A companhia de locação de hardware pelo modelo ‘as a service’ foi rebatizada para Voke e já realizou sete aquisições desde então, o que permitiu aumentar o faturamento de R$ 45 milhões no primeiro ano para R$ 562 milhões em 2024.
O perfil dos ‘caçadores de empresas’ no Brasil tem mudado. Entre 2015 e 2021, quando o modelo de investimento ainda estava em desenvolvimento, era comum searchers recém-formados em MBAs no exterior e com experiência em consultoria ou no setor financeiro. No estudo da Spectra mostra que, na nova geração de gestores, houve aumento no número de executivos que já fundaram empresas ou tiveram cargos o alto escalão e estão buscando uma nova companhia para liderar. Um dos executivos em busca de recursos para um search fund é Thiago Rocha, ex-VP da Sinqia, que foi comprada pela Evertec ano passado.
A Spectra começou a investir nesse segmento em 2017 e já fez aporte em 50 ativos. O último foi na Colortel, que faz a locação de equipamentos de refrigeração para empresas, que recebeu investimento do search fund da gestora Allievo Capital. A Allievo também investiu na Tátil Design, empresa que desenvolveu a marca Azzas 2154, que resultou da fusão dos grupos Arezzo e Soma. Hoje a companhia é comandada por Pedro Medicis, que assumiu a gestão indicado pela Paradigma Ventures, que entrou na empresa em 2023 por meio de um search fund.
Ao contrário de fundos como private equity e venture capital, os search funds compram uma única empresa que, em geral, tenha um modelo de negócio validado, seja lucrativa e esteja em mercados com potencial de expansão. Os prazos desse tipo de investimento costumam ser maiores que os dos fundos de venture capital e private equity, chegando a 20 anos e 30 anos, disse Almeida. Isso não quer dizer que o investidor só vai ter o retorno na venda do ativo, mas pode receber dividendos ou ter ganho com a recompra de ações.
Apesar de já serem maduras, essas companhias não são grandes o suficiente para entrar no radar de fundos de private equity. No Brasil, o valor de mercado médio das empresas adquiridas é de R$ 82 milhões, com 59% do valor financiado pelos investidores e o restante composto por dívida ou pagamentos diferidos, aponta o estudo da Spectra… leia mais em Pipeline 23/01/2025