Com a proximidade do primeiro leilão de transmissão do ano, começam a ficar mais claras as estratégias das empresas para o certame. Apesar da expectativa por grande competitividade, o ambiente macroeconômico de juros mais elevados e cautela na concessão de crédito, bem como as movimentações de diversas companhias de energia para operações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) podem influenciar na agressividade dos lances.

O leilão, marcado para 30 de junho, ofertará ao mercado nove lotes, compostos por 6.122 quilômetros (km) de linhas de transmissão e 400 megavolt-ampéres (MVA) em capacidade de transformação de subestações. Os empreendimentos serão localizados nos Estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe, e devem consumir R$ 16 bilhões em investimentos, segundo estimativas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O Tribunal de Contas da União (TCU) deu, ontem, aval para o edital do certame.

Diante dos altos juros e do desafio para obtenção de crédito, os agentes esperam que, ainda que haja competitividade, exista mais “racionalidade” por parte das interessadas ante os certames realizados no ano passado. O leilão de junho de 2022 teve deságio médio de 46%, enquanto o de dezembro obteve desconto médio de 38,2%. “De certa maneira, a gente viu nível de agressividade elevado e talvez com premissas que não se configuraram; talvez [agora] possa ter mais racionalidade”, disse o diretor-presidente da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini, durante teleconferência de resultados do primeiro trimestre.

Com juros alto e crédito apertado transmissoras esperam mais racionalidade em leilão

Para o diretor presidente da Sterlite, Amitabh Prasad, para além da taxa de juros, o principal desafio dos empreendedores para o próximo leilão é a garantia de recursos para o financiamento aos novos projetos. “Não é apenas a taxa de juros, mas liquidez, disponibilidade de dinheiro; até o ano passado essa não era uma questão, todo banco e instituição tinha muito dinheiro para emprestar, mas agora há tantos novos projetos, e qual é o recurso que sobrou é uma pergunta”, disse ao Broadcast Energia.

Para ele, o apetite pelo leilão será dado pelos maiores competidores, tendo em vista que há lotes de maior porte. “Alguma empresa menor pode nos surpreender, como sempre acontece, mas este leilão é mais adequado para empresas com mais capacidade de execução e recursos”, disse. O diretor-presidente da Isa Cteep, Rui Chammas, afirmou que a companhia não buscará volume, “mas rentabilidade”.

Em teleconferência, ele disse esperar que a empresa ganhe “alguns lotes”. A diretora Financeira da companhia, Carisa Cristal, destacou ainda que a companhia tem condições financeiras para participar do leilão. “Mesmo considerando o leilão, a companhia tem capacidade de caixa e alavancagem para seguir fazendo investimento de forma responsável, desde que encontre o retorno adequado”, disse, ao ser questionada sobre eventual ida ao mercado para obtenção de mais recursos.

A Taesa seguiu linha similar. O diretor-presidente da companhia, André Moreira, disse esperar a continuidade do ambiente de competição entre investidores que já atuam no setor, mas disse que a empresa está se preparando “de forma cuidadosa” para trazer bons projetos para a companhia.

Setor vive momento de fusões e aquisições

Além do cenário macroeconômico desafiador, o leilão de junho se dá em meio a importantes movimentos corporativos em andamento no mercado visando troca de controle de ativos. A Copel, por exemplo, reforçou que não participará do leilão para focar em seu processo de privatização. Já a CPFL e a Equatorial demonstram interesse na disputa por novos projetos de transmissão, mas também avançam nas negociações para compra da Enel Ceará (ex-Coelce), que foi posta à venda pelo grupo italiano. O presidente da CPFL, Gustavo Estrella, reiterou, em recente entrevista ao Broadcast Energia, que a empresa está analisando lotes do certame, mas salientou que a companhia aumentou a previsão de investimentos na CPFL Transmissão (ex-CEEE), o que considerou como uma das principais perspectivas de criação de valor no segmento.

A estratégia da CPFL permanece com foco em lotes menores, enquanto sua controladora, a chinesa State Grid analisa a disputa nos empreendimentos maiores. Na Equatorial, a visão é de que os certames previstos para este ano têm “boas oportunidades”, mas o diretor presidente da empresa, Augusto Miranda, não detalhou a estratégia da empresa.

Em teleconferência com analistas e investidores sobre o resultado da companhia no primeiro trimestre, o executivo evitou comentar sobre as expectativas em relação ao próxim.. leia mais em Estadão 25/05/2023