Se o momento é ruim para vender, é bom para comprar. O fechamento de mercado para IPOs e as altas taxas de juros nos bancos e no mercado de dívida alavancaram as transações de empresas com os fundos de private equity.

Num terceiro trimestre quase sem desinvestimentos desses fundos, o volume de aportes somou R$ 19,3 bilhões, 777% acima do mesmo período do ano passado, de acordo com o levantamento da associação setorial Abvcap e da KPMG. Cerca de R$ 1 bilhão foi no chamado PIPE, quando os fundos investem em empresas listadas em bolsa – aproveitando que o prêmio de liquidez sumiu da conta.

No ano, o private equity soma investimentos de R$ 35,8 bilhões no Brasil, contra R$ 4,5 bilhões no mesmo período do ano passado e R$ 6,2 bilhões em 2020, anos em que o volume de IPOs foi relevante e, com a porta de saída aberta e valuations elevados, os fundos aproveitaram o período para realizar o lucro. Mas com maior volatilidade de curto prazo e bolsa fechada para novas histórias, os fundos aproveitam o outro fluxo: miram as companhias que se preparavam para uma oferta e passam a ver o private equity como alternativa ou aquelas que discordam da matemática dos bancos.

“Os juros altos criam uma dinâmica favorável, em certo sentido, para o investimento de private equity porque as empresas veem como uma opção ao custo do dinheiro de banco e não conseguem ir para bolsa”, diz Piero Minardi, presidente da Abvcap. “Por outro lado, as companhias investidas podem sentir o peso da taxa no ritmo de crescimento”.

Em private equity se está ruim para vender
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É uma das explicações para o impacto maior das taxas no apetite dos venture capital, já que as startups são mais dependentes desse ritmo de crescimento acelerado e as contas de valuation consideram fluxo de caixa descontado de mais longo prazo, numa companhia que muitas vezes ainda não gera resultado.

O venture capital tinha feito volume maior que o private equity no país por seis trimestres consecutivos – de abril do ano passado até março deste ano – e começou a perder fôlego. Esse fundos voltados a startups investiram R$ 10,4 bilhões no terceiro trimestre, 6% abaixo no comparativo anual, mas o melhor período neste ano.

“Com o interesse dos investidores por tecnologia, muitos fundos de private equity também passaram a fazer venture capital e alocar parte do capital nesse tipo de estratégia. Então isso também ajuda a explicar porque os VCs vinham com volumes tão maiores que os fundos de private equity”, pondera Roberto Haddad, sócio-líder de Private Equity e Venture Capital da KPMG no Brasil.

Minardi destaca que essa inversão da pizza de investimento entre as duas categorias é uma volta à normalidade desse mercado, uma vez que o mercado de private equity é mais consolidado no país mas também faz cheques maiores, em média. Na indústria, o “novo normal” durou pouco.

Mas não está fácil captar fundo novo mesmo nesse segmento mais maduro. Os gestores estão investindo o dry powder acumulado dos trimestres mais fracos. Quem está indo para rua agora tem preferido mandatos um pouco mais amplos, caso dos fundos de special situations – provavelmente no maior volume histórico de abertura de veículos desse tipo, considerando o ritmo de anúncios de gestoras ao mercado.

“Esses fundos competem um pouco por terem mandatos tipo equity, como resultante de dívida. Outros special sits têm mandatos mais ‘rock and roll’, aí é outro mercado bem diferente”, diz Minardi, referindo-se aos veículos mais voltados a ativos estressados e teses de haircuts e turnaround.

Somados, private equity e venture capital investiram R$ 29,7 bilhões no terceiro trimestre, aumento de 123,3% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado do ano, o investimento já soma R$ 57,8 bilhões – o maior desde que a sondagem começou a ser feita em 2011… leia mais em Pipeline 09/11/2022