Dois mil e vinte e dois está terminando. Faltando menos de duas semanas para o fim do ano, é provável que você esteja pensando em aproveitar esses últimos dias para traçar ou rever suas metas para os próximos 12 meses.

Eu mesmo sempre dedico algumas horas de dezembro para (re)organizar minhas prioridades e objetivos. Por isso, decidi escrever esta última coluna do ano especialmente para aqueles que irão colocar como meta para 2023 empreender.

Já faz algum tempo que eu planejo usar este espaço para falar sobre o que caracteriza um bom pitch e esse me pareceu o momento certo.

Afinal, quem planeja startar uma empresa de tecnologia ou acelerar o crescimento do seu negócio no próximo ano vai precisar de um. A boa notícia é que é possível produzir uma apresentação objetiva e colocar a sua ideia na rua já no início do novo ano.

Meta para 2023: terminar o seu pitch

Mais networking, menos slides

Quando montamos o pitch da Printi, nosso primeiro negócio juntos, meu sócio Florian e eu tínhamos oito slides. Isso mesmo. Oito. E conseguimos resumir bem qual era a ideia, o tamanho do mercado que pretendíamos atacar e os diferenciais que iríamos entregar.

É comum que pessoas interessadas em embarcar em uma primeira jornada empreendedora gastem muito tempo fazendo planos de negócios elaborados e pouco tempo fazendo networking. Vale a pena inverter essa equação.

Em primeiro lugar, não é obrigatório fazer uma apresentação longa e detalhada para apresentar bem a sua visão de negócio. Na verdade, é recomendado que você seja o mais objetivo possível, tendo entre cinco e dez slides para toda a sua apresentação.

Em segundo, estar plugado ao ecossistema de inovação – trocando informações com outras pessoas interessadas em inovar e/ou investir – é fundamental. Esse networking permite que as pessoas conheçam seu perfil e, até, a sua ideia de negócio antes de um pitch propriamente dito. Pode ser a diferença entre conseguir ou não um primeiro investimento.

No Canary, fundo de investimento do qual sou co-fundador, o perfil do investidor tem um peso grande na nossa decisão de assinar ou não um cheque. Diferentemente de outros fundos de venture capital, não somos direcionados por uma tese. Investimos em boas ideias de negócios e em pessoas preparadas para colocá-las em prática.

É importante ter em mente que, em um pitch, na maioria das vezes, os slides funcionam como um material de apoio. O mais importante, sempre, é contar a sua história, o que você está fazendo e porquê.

Isso significa que você não deve ter cuidado com as informações que você traz em sua apresentação? A resposta, claro, é não.

Pensando em um roteiro básico, a primeira informação que você deve apresentar é qual “dor de mercado” você pretende resolver ou já está resolvendo. O que está quebrado no mercado para o qual você está olhando? Essa dor afeta o dia a dia de uma parcela significativa da população?

Apresentado o problema, é hora de partir para a solução. O que você está trazendo para a mesa? Como você vai resolver ou está resolvendo essa dor de mercado? Como a tecnologia vai ajudar a escalar esse processo?

E para não deixar dúvidas, lembre-se de complementar as informações anteriores mostrando o(s) diferencial(is) competitivo(s) do seu produto ou serviço.

Se possível, dê um exemplo, a partir de uma experiência pessoal ou de algum cliente, de como essa dor afeta a vida do seu público e como ela é ou será resolvida.

É sempre importante deixar claro também quão grande é essa oportunidade que você mapeou. Trata-se de um mercado de milhões, de bilhões ou de centenas de bilhões? Os grandes fundos de investimento, normalmente, buscam grandes mercados.

Ainda, ao falar sobre unit economics e como vai ser o perfil de margem do seu negócio, não se preocupe em chegar no “número perfeito”. É muito mais relevante demonstrar para os investidores que você conhece e sabe como funcionam as alavancas do seu negócio.

O slide mais importante, na minha opinião, no entanto, é o slide do time.

Quem são as pessoas que estão indo atrás dessa oportunidade com você? Elas têm as habilidades e as ferramentas necessárias para fazer aquilo acontecer de fato?

Não subestime esse tópico. Investir em um bom time é essencial, e é comum que fundos e investidores-anjo prestem muita atenção a esse trecho da apresentação.

Bons times com boas ideias de negócios. É isso que os investidores buscam.

O pitch perfeito existe?

A maioria dos empreendedores hoje tem mais de uma versão de pitch. Por quê? Porque cada fundo de investimento tende a se aprofundar em um tipo de informação, ter um perfil diferente de ouvinte. Por isso, não se preocupe em criar um único pitch perfeito, que servirá para todo e qualquer potencial investidor.

Mais uma vez, reforço a importância do networking. Converse com pessoas que já fizeram um pitch para os fundos que você pretende conversar. Essa troca irá te ajudar a entender quais pontos destacar para o investidor X e se há alguma informação relevante que você está deixando de fora na sua fala para o investidor Y.

Não esqueça também de treinar o seu pitch – como você faria para uma entrevista de emprego. Fique confortável com a sua apresentação e animado para mostrar ela para um número cada vez maior de pessoas… leia mais em Valor Investe 19/12/2022