O grupo de cemitérios e planos funerários Cortel levantou R$ 100 milhões na primeira emissão de certificados de recebíveis imobiliários de uma empresa do setor de ‘deathcare’. O Cortel já vinha se aproximando do mercado de capitais há mais tempo: tentou um IPO em 2020, mas acabou adiando os planos num período de maior volatilidade. No final do ano passado, começou a estruturar a emissão de R$ 200 milhões em CRIs – metade já está no caixa e agora a companhia está começando o roadshow para a segunda tranche.

“Com esse ineditismo do primeiro acesso a mercado de capitais do setor, parte das nossas conversas foi explicar quem a gente é e quem a gente não é”, diz Roberto Schumann, CFO do Cortel. “É um negócio que tem real estate, seguros, serviços. Nos fundos imobiliários, a turma está mais acostumada a olhar VGV, por exemplo, que não se aplica.”

Já existe um fundo imobiliário que investe especificamente nesse mercado, justamente em parceira com o Cortel. O Brazilian Graveyard and Death Care Services (CARE11) tem participação em cemitérios do grupo e é dono de jazigos. O CARE11 é gerido pela Zion Invest, controlada do grupo Zion, que é acionista minoritário do Cortel desde 2018.

A primeira tranche dos CRIs saiu a 7% mais IPCA, com prazo de 10 anos. Os investidores foram fundos da das gestoras VBI e REC Capital. O grupo já prevê, no entanto, que deve ter que subir um pouco a taxa para a segunda tranche, dada a correção de juros básicos nos últimos meses.

O CRI do cemitério: grupo Cortel

“Começamos a preparar a emissão com a Selic perto de 4% e emitimos com Selic perto de 10%. Brasil é Brasil, a gente vai se moldando e estamos discutindo as taxas na nova tranche”, diz Schumann. A taxa básica saiu de 4,25% em junho do ano passado para 9,25% em dezembro e está atualmente em 11,75%. “A precificação mudou e temos como fugir muito desse cenário, então um ponto pelo menos a gente imagina que vai subir.”

No ano passado, o Cortel faturou R$ 200 milhões, crescimento de 12%, com 12 cemitérios em sete estados e planos funerários. A companhia fez quatro aquisições em 2021, incluindo sua maior operação, que foi a compra do serviço funerário Metropax, em Belo Horizonte, com 400 mil beneficiários.

O grupo busca equilibrar heavy e light assets, com aquisições e expansões tanto de cemitérios e crematórios quanto nos planos funerários. “Com a captação, vamos seguir nosso processo de consolidação. Devemos fechar quatro aquisições de ativos este ano e queremos também participar da licitação em São Paulo”, conta Rafael Azevedo, CEO do grupo.

A licitação dos cemitérios municipais na maior cidade do país pode mudar o jogo para as administradoras privadas. A concessão dos serviços de gestão e expansão dos 22 cemitérios e crematórios públicos da cidade, além da prestação de serviços funerários na capital, tem prazo de 25 anos e está dividida em quatro blocos. “Em termos de volume de atendimento, dado o tamanho da cidade, podemos dobrar de tamanho”, diz Azevedo.

As outorgas fixas mínimas vão de R$ 100 milhões a R$ 178 milhões dependendo do bloco – mais compromissos de investimentos que sobem esse aporte inicial para a casa dos R$ 250 milhões. O Cortel também quer entrar em regiões onde ainda não opera, caso no Nordeste.

Fundado em Porto Alegre há 60 anos pelo pai de Azevedo, o Cortel era inicialmente uma construtora habitacional, que redefiniu seu foco logo nos primeiros anos. “Nossa governança ficou mais robusta nos últimos anos, inclusive com a tentativa de abertura de capital. Incluímos membros independentes no conselho, contratamos uma auditoria maior, e desde então também aceleramos crescimento. Se um IPO voltar para nossa pauta, estaremos maiores e mais maduros do que em 2020”, diz o CEO… leia mais em Pipeline 22/03/2022