Os bancos de investimento foram bastante afetados pela queda drástica nas aberturas de capital no Brasil e no mundo este ano. Para 2023, a expectativa é de que o ano também será de cautela na renda variável. Para contornar a queda em suas receitas, lá fora, os bancos tiveram de cortar bônus dos executivos e demitir. Por aqui, grandes fusões e aquisições (M&A, em inglês) e as emissões de renda fixa ajudaram deixar o ano menos pior em algumas casas, mas as receitas ainda devem terminar em queda.

Bancos como o JPMorgan e o Citi também conseguiram melhorar os ganhos de suas operações com a oferta de produtos mais criativos aos clientes. Um exemplo é a engenharia financeira usada pela Cosan, com derivativos e ações, para comprar uma fatia da Vale avaliada em R$ 22 bilhões. Entram na categoria “fora da casinha” proteção (hedge) de recursos, operações grandes de câmbio e ainda a chance de atrair o dinheiro de famílias que vendem negócios no private do banco.

Mesmo que o ano não tenha sido um dos melhores em M&A no Brasil, grandes negócios aconteceram. Além de Cosan e Vale, estão a fusão da SulAmérica com a Rede d’Or; a compra de uma participação da Tigre pelo fundo americano Advent; a aquisição da catarinense Gelnex pela americana Darling Ingredients, em uma operação de R$ 6,5 bilhões; e a venda do datar center Odata pelo Pátria para a Aligned, por um valor estimado em R$ 10 bilhões.

Bancos de investimento se ‘viram nos 30'

Operações com produtos estruturados ajudaram a compensar

Mesmo com o cenário de juros em alta, que encarece o financiamento das aquisições, não dá para reclamar do mercado de M&A este ano, diz um banqueiro da Faria Lima. Nos Estados Unidos, as transações de M&A caíram mais de 40%, enquanto no Brasil, a queda foi menor, de 10%, segundo dados da Transactional Track Record até o terceiro trimestre. Segundo ele, “deu para compensar a queda dos IPO em parte com M&A e em parte com produtos estruturados”.

O diretor de um banco americano afirma que sua equipe teve “de ser muito criativa este ano”, já que as instituições estrangeiras têm balanços proporcionalmente menores no País do que bancos locais. Instituições como Bradesco, BTG Pactual e Itaú Unibanco podem competir com mais força para assessorar empresas em captações bilionárias de renda fixa. Em emissões como debêntures e outros títulos, por exemplo, os bancos se comprometem com garantias firmes, ou seja, a comprar parte da emissão que não encontrar comprador no mercado.

No mercado de dívida, houve bom desempenho, com R$ 235 bilhões emitidos pelas empresas somente em debêntures este ano, até novembro. Já em dívida externa, 2022 foi um dos anos mais fracos em décadas, com emissões de empresas brasileiras somando apenas US$ 5 bilhões, bem abaixo da média anual, que costuma ficar na casa dos US$ 30 bilhões.

Operação da Eletrobras é considerada ‘negócio patriótico’

Já no segmento de ações, a maior operação do ano foi a da Eletrobras, que contou com um sindicato de 12 bancos. Mas, como relata um banqueiro, a receita com negócios de estatais são mirradas. Os bancos querem participar da transação pela importância e tamanho. “É o que chamamos de ‘fee patriótico’: quase que o banco paga para trabalhar na operação, mas é um negócio que queremos fazer parte”, afirmou o diretor de um banco em alusão à taxa que recebeu. A oferta da Eletrobras foi uma das maiores do mundo este ano, movimentando R$ 34 bilhões.

A falta de IPOs no Brasil e nos EUA pesou bastante em bancos como Goldman Sachs e Morgan Stanley, que são muito fortes nestes negócios. Por isso, tiveram de fazer ajustes. O Goldman prepara a demissão de até 4 mil funcionários. Os bancos americanos também estão passando a tesoura nos bônus dos banqueiros. Enquanto o Goldman considera reduzir entre 40% e 50% nos bônus, o Citigroup, o JPMorgan e o Bank of America devem cortar .. leia mais em Estadão 27/12/2022