Apesar de avanço nas reformas e inflação na meta, insegurança jurídica e tributária são barreiras à chegada de dinheiro estrangeiro.

Se quiser atrair a atenção (e os recursos) dos investidores globais, o Brasil precisa criar uma sólida narrativa de crescimento econômico de longo prazo, sustentada por juros estruturalmente mais baixos e um ambiente com segurança jurídica e tributária. “O país precisa demonstrar aos estrangeiros a força de seu crescimento em setores importantes para o crescimento global, como a segurança alimentar e energética”, afirmou Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos para a América Latina da BlackRock, durante painel no MKBR24, evento realizado pela ANBIMA e pela B3. “Para que o capital externo chegue ao Brasil, é necessário que o país una esses pontos para criar uma história atraente”, acrescentou.

Mesmo com avanços recentes em reformas estruturais, o Brasil ainda fica atrás de outros países emergentes na hora de os investidores globais tomarem decisões de alocação. “Mesmo com desempenho positivo em aspectos como as contas externas equilibradas, a agenda de reformas que vem sendo implementada desde 2016 e a inflação na meta, o Brasil ainda tem desempenho pior do que o de outros emergentes em várias classes de ativos”, observou Cassiana Fernandez, economista-chefe da América Latina do J.P. Morgan.

Seria interessante o Brasil criar essa narrativa para de fato participar do ciclo de crescimento global. Nesse sentido, as reformas trabalhista e tributária adicionam valor para o país”, avaliou Daniel Popovich, portfolio manager da Franklin Templeton, lembrando também da vantagem da localização geográfica, que isola o Brasil de conflitos geopolíticos e evidencia os benefícios de segurança energética e alimentar.

Na opinião dele, uma narrativa de crescimento poderia mudar a realidade atual em que os gestores de carteiras olham o Brasil apenas de uma perspectiva de investimento tático. “O país não entra nas decisões como um mercado estratégico de longo prazo”, afirmou. Isso acontece a despeito do grande potencial para o crescimento dos segmentos de agronegócio, infraestrutura e tecnologia.

Efeito dos juros e listagem local

A persistência dos juros altos no Brasil é outro fator que limita a atratividade do mercado brasileiro para ativos além da renda fixa. No cenário de Selic alta, os investimentos táticos dos alocadores globais acabam sendo direcionados para a renda fixa e, em menor medida, para o crédito privado. Esse cenário, por consequência, acaba reduzindo as possibilidades de crescimento no mercado de ações.

Fator que também sempre influenciou a dinâmica de investimentos nos emergentes, a China tem perdido espaço como referência, que persistia pelo menos desde o início dos anos 2000 com a forte demanda por commodities, destacou Fernandez. “A China não é mais o que costumava ser e hoje os investidores olham os emergentes sem necessariamente passar pelo filtro da situação da China. Esses países não precisam mais disso para entrar no radar dos investidores, e isso reforça a importância de o Brasil construir uma narrativa própria de crescimento de longo prazo”, concluiu Christensen.

O MKBR é um evento bienal sobre o mercado de capitais, realizado desde 2018, numa parceria entre a ANBIMA e a B3. Reúne grandes nomes do Brasil e do exterior para debater o cenário atual e as iniciativas que estimulem o crescimento sustentável do mercado de capitais brasileiro… Leia mais em b3 06/06/2024