Os primeiros seis meses deste ano no mercado europeu de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) superou as expectativas e os números foram “notáveis”, tendo em conta a conjuntura adversa, com a inflação histórica e a guerra na Ucrânia, conclui o relatório Boom & Gloom? CMS European M&A Outlook 2023, divulgado recentemente por esta sociedade de advogados, em parceria com a Mergermarket. Os negócios selados na primeira metade deste ano a nível europeu atingiram os 529,2 mil milhões de euros, uma subida de 1% em relação ao ano anterior. O volume de transações caiu 8% para 5536, mas este número compara com o “período mais dinâmico na história da Mergermarket (desde 2006) e situa-se confortavelmente acima do mesmo período de qualquer ano anterior à pandemia”, sublinha o relatório.

O maior negócio valeu 42,7 mil milhões de euros e envolveu a compra da italiana Atlantia, – que gere o aeroporto Fiumicino, em Roma, e o sistema de portagens de autoestradas Telepass -, pelo Blackstone Group and Edizione, ligado à família Benetton.

O estudo antecipa também o que se pode esperar nos próximos meses. Foram inquiridos 330 empresas e fundos de private equity (fundos de capital privado) por toda a Europa, e 73% esperam que a atividade no mercado europeu de M&A aumente nos próximos 12 meses. O maior obstáculo ao fecho de operações de aquisições e fusões, para 16% dos inquiridos, é a diferença de preços propostos por compradores e vendedores.

Mercado de fusões e aquisições vai continuar dinâmico

Para 26% das empresas que responderam ao inquérito, nesta conjuntura adversa, serão as dificuldades financeiras o principal fator a impulsionar as operações de venda. Já os ativos subavaliados estarão na base de decisões de compra para 21% dos inquiridos.

O inquérito conclui que o setor de Tecnologia, Media & Comunicações é o que mais vai mexer nos próximos 12 meses. Neste setor, em Portugal, já depois da publicação deste estudo, a Vodafone anunciou a compra da Nowo aos espanhóis da MásMóvil.

“O interesse no setor Tecnologia, Media & Comunicações, com níveis de crescimento consideráveis, está em alta e mantendo-se a valorização das empresas em termos favoráveis, será provável vermos nos próximos meses várias operações de TMC, em particular em segmentos tecnológicos, de desenvolvimento de software e infraestruturas tecnológicas”, antecipa João Caldeira, sócio de Corporate M&A do escritório da CMS em Portugal.

As áreas de “TMC, energia, lazer e hotelaria e o mercado imobiliário continuarão a ser setores relativamente aos quais os investidores internacionais estarão particularmente atentos”, considera o responsável da CMS.

Quanto ao impacto que a possível recessão nas economias europeias pode ter sobre o mercado de fusões de aquisições, João Caldeira explica que “níveis elevados de inflação e a expectativa de uma subida acentuada das taxas de juro são fatores que tendem a afetar negativamente operações de M&A. A inflação gera incerteza quanto à capacidade das empresas de refletirem os custos acrescidos nas vendas aos clientes e, nessa medida, a capacidade de manterem os níveis de geração de resultados. Já a subida das taxas de juro reduzirá o nível de alavancagem financeira nas operações de M&A”.

No entanto, sublinha ainda o sócio de Corporate M&A da CMS, “muitas empresas conseguem lidar bem com um contexto de inflação e muitos investidores continuarão a estar disponíveis para aquisições com níveis de alavancagem mais reduzidos”… leia mais em Dinheiro Vivo 13/10/2022