Para que servem as organizações? Porque elas existem? Há algum tempo, “gerar lucro” costumava ser a resposta padrão. “Maximizar a geração de valor para o acionista” talvez seja o maior clichê que já habitou as declarações de missão das empresas. A forma mais tradicional de se avaliar uma empresa é o fluxo de caixa descontado, ou seja, ela vale aquilo que se projeta que é capaz de gerar dinheiro no futuro (trazido a valores de hoje). Na busca por esse “valor”, a história está cheia de empresas que seguiram atalhos, prejudicaram o meio ambiente, cruzaram a linha da ética ou mesmo da lei. Algumas, como a Enron, até deixaram de existir por isso.

Jim Collins, autor de livros como “Empresas Feitas Para Vencer”, demonstrou usando o método científico que as organizações mais bem sucedidas foram as que buscaram um propósito mais significante do que apenas o lucro. As que estavam atrás de um outro tipo de valor: o impacto para seus clientes e em alguns casos, para o mundo. Essa pode, inclusive, ser a busca de organizações com ou sem fins lucrativos. Mas há algo que ambas têm em comum. Quanto mais crescem, mais impacto são capazes de causar. Crescimento, portanto, acabou se tornando uma medida de valor, em alguns casos mais importante que lucro.

Especificamente no caso de startups ela se tornou “a” grande medida de valor. “Startup = Growth” definiu Paul Graham, o fundador da Y Combinator, a primeira e mais bem sucedida aceleradora de empresas do mundo, que hoje investe também em organizações sem fins lucrativos, com o intuito de ajudá-las, justamente, a crescer mais rápido.

O capital de risco demonstrou ser uma forma adequada de financiamento do crescimento. Seguindo a lógica de que uma empresa se valoriza ao crescer, o racional deste tipo de investimento é injetar capital para acelerar o seu crescimento em troca de uma participação na mesma. Essa participação deve ser vendida quando a organização for bem maior e portanto valer mais. Bem, ainda estamos falando em maximizar a geração de valor para o acionista, não é? Mas não necessariamente através do lucro.

Como para ter retorno este tipo de investidor precisa vender sua participação, isso implica que, em um prazo determinado (normalmente entre cinco e dez anos) a empresa precisa ser adquirida, ou fazer uma oferta pública de ações (IPO).

Na maior parte dos casos, quando o investidor tem a oportunidade de vender sua participação, o empreendedor e todo o time que conquistou um pedaço da organização também pode ter um retorno financeiro. Daí nascem milionários e também novos ciclos de empreendedorismo. A Paypal Mafia é o exemplo mais famoso deste ciclo. Quando a fintech foi vendida para o eBay em 2002, alguns dos empreendedores que a construíram, criaram ou investiram em startups como LinkedIn, Youtube, SpaceX, Tesla entre muitas outras.

Mas será que essa pressão de prazo é adequada para as empresas que estão buscando maximizar seu impacto? E será que a venda, o destino mais comum para empresas que receberam capital de risco, é o que mais contribui para maximizar seu impacto? Um dos fundos de capital de risco mais tradicionais do Vale do Silício, Sequoia Capital, concluiu recentemente que não, e rompeu com este modelo. O fundo anunciou que não buscará mais a saída dos seus investimentos em poucos anos, e poderá se manter como acionista das empresas em que investir por décadas.

Por que isso está acontecendo agora? Na minha opinião, a pandemia do COVID-19 ao obrigar boa parte da população mundial a se trancar em casa, colocar em risco nossa saúde, nossa vida e a de nossos parentes, levou a um aprofundamento na reflexão sobre o que realmente importa. Este aumento do nível de consciência pode ser observado em movimentos como o ganho de importância da agenda ESG e o crescimento nos pedidos de demissão (apelidado de “great resignation”). A busca por significado ganhou relevância para as pessoas e consequentemente para as empresas.

As organizações são excelentes veículos para gerar impacto, provavelmente os melhores. Cheias de pessoas movidas por significado, são elas que acabarão por melhor endereçar problemas como a mudança climática e as desigualdades sociais. Essa busca requer investimentos que mirem o longo prazo. E novos modelos de apoio e viabilização de organizações que buscam isso, são mais que necessários, são essenciais… Leia mais em startupi 17/12/2021