As ofertas públicas de ações (IPOs, na sigla em inglês) ensaiam uma retomada na Bolsa brasileira em 2017 após três anos de ritmo lento. Até o fim de julho, sete novas empresas entraram no mercado e movimentaram um volume total, somando captações primárias e secundárias, que passa dos R$ 11,6 bilhões, o quarto maior desde 2007, segundo dados da B3 (antiga BM&FBovespa).

O montante ainda está longe do de 2007, quando 64 novas empresas entraram na Bolsa e captaram mais de R$ 55,6 bilhões, mas o movimento já é melhor que o dos últimos três anos, em que apenas Ourofino (2014), Parcorretora (2015) e Alliar (2016) se aventuraram a abrir capital.

— Por causa do ajuste econômico do governo, o mercado está mais entusiasmado esse ano, e isso reflete, sim, no número de IPOs e até na própria Bolsa brasileira, que está subindo. Mas é importante destacar que essas reformas estão sendo feitas por um governo que tem uma aprovação patética, e o ano de 2018 ainda é muito incerto. Não acho que essas reformas vão ocorrer de forma linear — diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Ajuda do carrefour

Após cair a 37,5 mil pontos em janeiro de 2016, o nível mais baixo desde 2009, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, iniciou um movimento de alta e, em 2017, acumulava valorização de 9,4% até o último pregão de julho. Esse ganho, segundo Perfeito, é um dos motivos que, aliado à queda de juros, incentivam os empresários a abrirem o capital de suas companhias para buscarem capitalização no mercado:

— A queda dos juros faz com que os investidores migrem da renda fixa para a variável. Isso, aliado a um movimento de alta da Bolsa, faz com que o empresário tenha uma perspectiva de que a ação de sua companhia seja vendida a um preço mais alto, beneficiando a capitalização.

O IPO da Alliar, empresa de medicina diagnóstica, em outubro de 2016, foi o primeiro após 16 meses de seca da Bolsa. A novidade foi comemorada por Edemir Pinto, então presidente da B3, que prometeu, na época: “2017 será o grande ano de IPOs para o mercado de capitais brasileiro”.

Ainda não dá para dizer se Edemir acertou, mas basta que apenas mais cinco empresas entrem na Bolsa para que 2017 supere os anos de 2010 e 2011 e chegue ao maior número de novas empresas desde 2007. O volume de captação, pelo menos, já superou esses anos. Os valores somam captações primárias (quando os recursos da venda vão para o caixa da empresa) e secundárias (quando o valor vai para o bolso de algum sócio daquela empresa que decidiu vender ações que tem).

Por outro lado, três empresas já pediram cancelamento do registro de companhia aberta na B3 até julho e efetuaram OPAs, as Ofertas Públicas de Aquisição de ações, o movimento oposto ao IPO. O ritmo é mais lento que o do último ano, quando até dezembro 13 empresas pediram o cancelamento, mas 2017 também já se aproxima de 2009, 2013 e 2014, quando cinco empresas, em cada ano, pediram o cancelamento do registro.

— Um dos motivos que fazem uma empresa sair da Bolsa é que a atividade econômica está indo mal. O outro é porque quando a Bolsa está caindo muito, mas o empresário acredita no negócio dele, ele vê uma oportunidade para recomprar a parcela da empresa que está no mercado até por um preço mais barato do que vendeu anteriormente, quando abriu o capital — diz André Perfeito.

O volume captado nos IPOs em 2017 se deve, em grande parte, à abertura de capital do Carrefour, em julho. A empresa levantou mais de R$ 4,4 bilhões e entrou para a lista dos dez maiores IPOs desde 2007. O valor captado corresponde a 38% do total no ano até mês passado. O Globo –Leia mais em abinee.  28/08/2017