No Brasil, a gestora de venture capital já tem, por meio de um fundo dedicado a emergentes, fatia na fintech Creditas e na faculdade digital Descomplica

A Amadeus Capital Partners, gestora que tem o fundo europeu mais conhecido para investimentos em tecnologia de ponta, reforçou sua estrutura na América Latina. Trouxe como sócia para o escritório em São Paulo Beatriz Amary, que liderou por 12 anos os setores de educação, consumo e varejo na Actis – a mesma que entrou em negócios como XP e Stone. A executiva esteve envolvida diretamente nos investimentos na Cruzeiro do Sul Educacional e na CNA. Antes, trabalhou na J.P. Morgan Partners.

A contratação de Amary segue a de Kai Schmitz para o escritório em Bogotá, na Colômbia, profissional que liderou investimentos em novatas de tecnologia financeira na América Latina para a International Finance Corporation (IFC), braço de financiamento privado do Banco Mundial.

O plano da Amadeus é investir US$ 150 milhões na região nos próximos cinco anos. No Brasil, a gestora de venture capital já tem, por meio de um fundo dedicado a emergentes, fatia na plataforma de empréstimos online Creditas e na faculdade digital Descomplica. Desde 1997 no mercado, a Amadeus investiu mais de US$ 1 bilhão e apoiou cerca de 170 empresas.

Amadeus capital

Quatro setores com viés tecnológico estão no mapa dessa expansão regional: financeiro, educação, comércio eletrônico de última geração e software como serviço (SaaS). “O sucesso do fundo de ‘emerging market’ levou a gestora a olhar para o mundo. Já tem investimetos na Ásia, na África e a América Latina tem muita oportunidade”, diz Amary. Metade dos recursos deve ter como destino o Brasil. Os aportes variam de US$ 10 milhões a US$ 15 milhões, em co-investimentos, ou mais que isso se o cheque for para o total da oferta.

A executiva será responsável pela estruturação do fundo de América Latina e também pelas estratégias de investimentos no Brasil. “A avaliação era que precisava de alguém sentado aqui na região com experiência na área de investimentos”, afirma. O plano é trazer o viés da tecnologia de ponta, que fez o histórico da Amadeus, e o entendimento dos ciclos para as empresas que entrarem no portfólio.

A intenção é privilegiar rodadas de sérries B e C, etapas em que falta capital, diz Amary. Nesses estágios, a capitalização tem o objetivo de escalar os negócios, acelerar as empresas por meio de fusões e aquisições ou via internacionalização. “Há muitos fundos focados em ser o primeiro institucional e que são grandes, com investimentos de US$ 50 milhões a US$ 100 milhões. No meio do caminho, é onde tem espaço para a estratégia de América Latina.”

O olhar para a região passa por negócios em que inovações sejam capazes de proporcionar retornos financeiros e também provocar inclusão social, segundo a executiva. “No acesso à educação, a tecnologia tem um poder grande para entender do que o aluno precisa, levar um ensino mais personalizado, alcançar os alunos de forma mais ampla.” No setor financeiro, a lógica é parecida: usar a tecnologia para levar serviços e produtos melhores a um baixo custo.”

Amary diz que esse posicionamento atrai o investidor que busca negócios de impacto social e também o perfil tradicional. “Tem aquela parte básica de ESG [de responsabilidade ambiental, social e de governança] que é um mínimo denominador comum, entender no que não quer investir. Se não garantir que o investimento está protegido de regras mínimas não há condição de levantar capital nenhum.”

No radar já há diversos investimentos, afirma a executiva, porque hoje há um ambiente ímpar para companhias em que a tecnologia é central. “É um ciclo que está se formando. Há muitos empreendedores da segunda e da terceira geração que agora estão formando outras empresas, tem capital humano”, afirma.

Assim como outros portfólios da Amadeus, o fundo vai ser baseado no Reino Unido, mas a depender das mudanças na reforma tributária no Brasil a forma de captação pode ser alterada.

Amary diz ver muito apetite das famílias mais ricas e até do investidor de varejo para ativos alternativos como forma de compensar retornos mais baixos na renda fixa. Plataformas como a XP e os bancos vêm montando formatos para atrair o investidor pouco menor do que o tradicional de venture capital, afirma a executiva.

“O VC [venture capital] tem uma atração maior porque a tecnologia passa por um crescimento secular. Não depende tanto de que o macro volte”, afirma. Ela cita que a indústria de private equity sempre foi maior que a de VC, mas isso mudou em 2020, tendência que se repete neste ano.

– valor econômico Leia mais em clippingdotblog 10/08/2021