Os bancos aconselham empresários a buscar capital até o primeiro trimestre de 2019, durante a lua de mel dos investidores com Bolsonaro

As empresas brasileiras voltaram a avaliar a venda de ações ou o refinanciamento de dívida, à medida que as incertezas eleitorais, que paralisaram essas negociações, dão lugar a um otimismo após eleição de Jair Bolsonaro (PSL), dizem cinco pessoas familiarizadas com o assunto à agência Reuters.

Uma das fontes, que pediu anonimato para dar detalhes das negociações sigilosas, disse que até dez empresas discutem com banqueiros de investimento a venda de ações. Outras cinco empresas avaliam transações com bônus até janeiro.

“Os bancos estão aconselhando as empresas a acessar os mercados de capitais até o final do ano ou no primeiro trimestre de 2019, durante a lua de mel dos investidores com o compromisso do Bolsonaro com políticas favoráveis ​​ao mercado”, acrescentou a fonte. “É difícil dizer quanto tempo (a lua de mel) vai durar.”

Os sinais de ressurgimento do mercado de capitais pós-eleições ressaltam o papel que o risco político e incertezas desempenham nas decisões dos investidores sobre dívida corporativa e ações no Brasil, a maior economia da América Latina.

Algumas das ofertas de ações previstas para os próximos meses já estavam em andamento, mas foram suspensas por causa da volatilidade pré-eleitoral.

Entre as empresas que planejam ofertas públicas iniciais até o final do ano estão o banco de porte médio BMG e a empresa de tecnologia da informação Tivit Terceirização de Processos, Serviços e Tecnologia.

A holding de energia Neoenergia, controlada pela espanhola Iberdrola, também pode tentar uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) no primeiro trimestre, disseram duas das fontes que pediram anonimato. A oferta da Neoenergia foi suspensa duas vezes, nos últimos dois anos, porque os acionistas não alcançaram o valor que desejavam.

A distribuidora de eletricidade Light, já listada, também revelou planos para uma oferta de ações.

No ano passado, 34 empresas levantaram US$ 12,8 bilhões com ofertas de ações, segundo dados da Refinitiv. Até agora neste ano, o montante arrecadado foi apenas metade disso — US$ 6,3 bilhões em 14 ofertas.

Após a eleição, um número maior de empresas listadas em bolsa no Brasil podem se beneficiar das melhores condições de mercado para levantar capital.

As fontes disseram que empresas de energia, como a Equatorial Energia e Energisa, que precisam de capital para financiar aquisições e licitações em leilões do governo, poderiam vender ações adicionais. Energisa e Equatorial não comentaram o assunto.

REFINANCIAMENTO DE DÍVIDA
A dívida corporativa também pode experimentar um renascimento, graças à vitória de Bolsonaro.

As emissões de bônus brasileiros no exterior, incluindo instrumentos soberanos, totalizaram US$ 17 bilhões até setembro, uma queda de 53% em relação ao mesmo período do ano anterior.

No último mês, à medida que a eleição de Bolsonaro se tornava mais provável, os credit default swaps (CDS) de cinco anos da dívida soberana brasileira caíram 21%. O CDS é um derivativo financeiro que efetivamente funciona como um seguro contra o não pagamento de títulos e outros instrumentos de crédito.

O spread soberano brasileiro sobre os rendimentos do Tesouro fechou em 228 pontos base na quinta-feira.

As fontes disseram que os maiores emissores de títulos do Brasil devem aproveitar a oportunidade para refinanciar a dívida em condições mais favoráveis.

A primeira companhia a oferecer títulos após a eleição pode ser a empresa de infraestrutura Invepar, que deve colocar US$ 650 milhões em títulos a partir da próxima semana. A Invepar adiou sua oferta de outubro para este mês e ainda está em negociações com investidores, que exigiram rendimentos de até 10%.

A Invepar não comentou imediatamente sobre o assunto.

A Petrobras anunciou na quarta-feira que refinanciou US$ 1 bilhão em empréstimos bancários a custos mais baixos.

Até o momento, a Petrobras não anunciou nenhuma nova emissão.

Outra empresa que está reduzindo o custo da dívida é a mineradora Vale, disseram os banqueiros. O vice-presidente financeiro da Vale, Luciano Siani, afirmou em entrevista que a empresa atingiu sua meta de endividamento líquido antes do previsto. A empresa está cautelosa quanto a novas dívidas por causa do aumento das taxas de juros de referência nos Estados Unidos.  (Por Tatiana Bautzer e Carolina Mandl, com Marta Nogueira e Alexandra Alper) leia mais em epocanegocios 02/11/2018