Na tentativa de incursionar por novas áreas, incluindo o comércio eletrônico, o Facebook está buscando possíveis alvos de aquisição em sua própria rede social.

 A empresa, que abriu o capital em maio, sempre se promoveu como uma plataforma para desenvolvedores de software interessados em lançar aplicativos e, com isso, chegar a seus mais de 900 milhões de usuários. Hoje, já há milhões de apps, incluindo jogos da Zynga, que tiveram seu início no Facebook.

 Mas, como mostrou a compra recente dos aplicativos móveis Instagram e Karma, o Facebook agora considera adquirir empresas em sua própria plataforma – convertendo-se em potencial concorrente para outros criadores de aplicativos.

 Decisão do Facebook de adquirir companhias que usam sua plataforma desperta temores entre criadores de aplicativos

 “O Facebook evoluiu e nosso ecossistema evoluiu”, disse Amin Zoufonoun, diretor de desenvolvimento corporativo da empresa. Zoufonoun disse que a plataforma do Facebook conta hoje com mais empresas inovadoras que despertaram o interesse da rede social.

 Para a empresa, é uma questão estratégica: como tirar proveito de oportunidades comerciais em seu próprio ecossistema sem afugentar desenvolvedores de software?

 O interesse do Facebook em aquisições pode ser um incentivo para certos empreendedores. Mas também traz o risco de alienar desenvolvedores que fizeram do Facebook um mercado robusto para aplicativos.

 Esse dilema é parte de sua transformação em uma empresa que maximiza lucros. O Facebook está especialmente interessado em impulsionar iniciativas para ganhar dinheiro com sua versão para dispositivos móveis, nos quais suas oportunidades de publicidade atualmente são restritas.

 Michael Pachter, analista da empresa de pesquisas Wedbush, disse que é um “erro estratégico” o Facebook comprar empresas construídas na sua plataforma.

 Hjalmar Windbladh, criador do Wrapp, um aplicativo de presentes semelhante ao Karma, disse que é inquietante que o Facebook tente entrar no mesmo negócio que os seus desenvolvedores. “Espero realmente que o [site] Facebook siga sendo uma plataforma que viabilize o sucesso de desenvolvedores como nós”, disse ele. “Se você vai contra isso, você deixou de ser uma plataforma”.

 Uma porta-voz do Facebook disse que a empresa está procurando, especificamente, aquisições “que complementem nossos principais produtos. Contudo, nunca estivemos tão interessados como agora em apoiar e expandir o ecossistema de apps e desenvolvedores que trabalham com o Facebook”.

 Instagram e Karma usam o Facebook Connect, que permite a usuários entrar em sites e aplicativos de terceiros com sua identidade no Facebook. Tudo o que o usuário faz nesses sites aparece também na página do Facebook.

 Zoufonoun disse que o Facebook não vai engolir todo e qualquer participante da rede social. Em vez disso, diz ele, a companhia está buscando empresas que melhoram a experiência do usuário do Facebook. O principal foco das compras hoje é a arena móvel, para a empresa poder melhorar sua versão para telinhas menores. “Estamos reunindo recursos para oferecer uma experiência muito mais agradável em dispositivos móveis”, disse ele.

 O Karma, que foi comprado em maio depois de estrear no Facebook no ano passado, dá à rede social uma via para faturar além da publicidade e das tarifas de transações com jogos de terceiros.

 O Karma é um aplicativo para celular que avisa o usuário quando o aniversário de alguém se aproxima ou se o momento é de algum outro modo especial para o amigo. Com isso, a pessoa pode encomendar um presente – um vinho, um chocolate – para o amigo através do Karma, que tem acordos com comerciantes e fica com uma participação entre 20% e 50% da transação.

 Zoufonoun não quis especificar os planos da empresa para o Karma, embora o aplicativo sinalize a primeira incursão do Facebook no comércio eletrônico.

 Herman Leung, analista da Susquehanna Financial Group, calculou recentemente que o negócio de presentes entre amigos poderia trazer até US$ 872 milhões em receita anual para o Facebook até 2014. A seu ver, são exatamente empresas como o Karma que o Facebook deveria estar comprando para explorar novas oportunidades de receita.

 O Karma – e quatro outros negócios que a empresa fez neste ano – também representa uma mudança de estratégia para o Facebook. Embora a maioria das aquisições que a rede social americana fez até certa altura tivesse a função de adquirir novos talentos, agora o Facebook está comprando donas de alguma tecnologia que possa abrir novas oportunidades de negócios, como o comércio eletrônico e serviços comerciais.

 Das cinco aquisições envolvendo tecnologia que o Facebook já fez este ano, a mais famosa é a compra do aplicativo de fotografia para celular Instagram, por cerca de US$ 1 bilhão. O acordo, anunciado em abril, dá à Facebook uma sólida base na arena móvel, na qual é considerada fraca.

 Menos comentadas, no entanto, são a compra da Tagtile, que tem um serviço de fidelização de clientes; do Glancee, um aplicativo social baseado na localização das pessoas que permite a usuários informar onde estão e descobrir quem está por perto; e da Face.com, fabricante de software de reconhecimento facial que o Facebook comprou em junho.

 Zoufonoun não quis entrar em detalhes sobre planos para as empresas recém-adquiridas, mas todas servem de porta para a entrada do Facebook em novos mercados.

 O Facebook, no entanto, teve pouco sucesso no passado ao se aventurar em novas áreas. Em agosto, a empresa recuou depois de uma breve incursão de quatro meses pelo negócio de compras coletivas. Na época, o Facebook disse que havia chegado à conclusão que o melhor seria se concentrar no seu núcleo de rede social e não em promoções diárias.

 No todo, o Facebook já fez 11 aquisições neste ano, gastando mais de US$ 1,5 bilhão em negócios cujos termos foram divulgados publicamente. No ano passado, foram apenas US$ 68 milhões. Depois de arrecadar US$ 6,8 bilhões na sua oferta pública inicial em maio, a empresa tem muito mais dinheiro para gastar: cerca de US$ 11 bilhões em caixa, mais acesso a uma linha de crédito de US$ 5 bilhões. (Colaborou Suzanne Vranica.) Por Shayndi Raice | The Wall Street Journal
Fonte: Valor Econômico 04/07/2012