As plataformas de equity crowdfunding, que fazem ofertas de ações na internet, têm levantado milhões de reais para startups e ganhado a atenção de investidores de varejo que nunca imaginariam investir em empresas embrionárias de crescimento exponencial. Agora, elas querem o aval da CVM para ganhar mais escala

Após passar por um programa de aceleração, a startup gaúcha Trashin, que atua no mercado de gestão de resíduos, se viu em uma encruzilhada. De um lado, os recursos da aceleradora já não eram mais suficientes para escalar o negócio. Do outro, a empresa ainda não tinha robustez para receber aportes de fundos de investimentos.

“Chegamos a conversar com fundos, mas os cheques deles são maiores e era importante que nosso negócio estivesse tracionando mais”, lembra Sérgio Finger, CEO da startup, que à época pretendia captar cerca de R$ 1,1 milhão – para aumentar o time e expandir a companhia para outros estados e regiões do Brasil.

A saída, ele disse, foi recorrer a uma plataforma de equity crowdfunding, que faz ofertas online de ações de companhias – a maioria startups – para investidores de variados perfis. “O potencial de divulgação e de visibilidade foi algo que nos atraiu”, afirma Finger.

Ele conseguiu levantar o valor que precisava em 2019, em uma primeira rodada na plataforma CapTable, ligada à StartSe. A segunda oferta, de 2021, captou mais R$ 1 milhão e foi a mais rápida da história da plataforma, com duração de quatro horas.

Desde quando o mercado de equity crowdfunding passou a ser regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em 2017, o número de plataformas registradas saltou de três para 40. Entre elas, estão a Kria Investimentos, uma das pioneiras, surgida em 2014; a CapTable, que nasceu há dois anos e já é uma das principais; e até novatas como a Clearbook, prestes a ser lançada.

No ano passado, as plataformas de equity crowdfunding movimentaram R$ 84 milhões em recursos captados, 43% acima do que registrou em 2019, mas sem fazer cócegas ao volume levantado pelos IPOs na Bolsa em 2020, que chegaram a R$ 117 bilhões.A expectativa do mercado para os próximos anos é de seguir com taxas exponenciais de expansão. O avanço, na visão de executivos do setor, será impulsionado por mudanças de regulação que aumentariam o leque de ofertas – uma discussão que tem ocorrido desde o ano passado entre a CVM e as plataformas.

“Já realizamos R$ 40 milhões em captações em 2021. No segundo semestre, esperamos fazer o dobro. Se vierem as mudanças, seria o dobro do dobro”, diz Paulo Deitos, um dos fundadores da CapTable, ao NeoFeed.

No dia anterior a entrevista, a empresa havia fechado mais três ofertas, no valor total de R$ 5 milhões, para startups como Lecupon, de benefícios; Quadrado Express, uma foodtech; e Weex, uma carteira digital.

Se as condições tendem a ficar mais favoráveis nos próximos meses, a Clearbook chega em um momento oportuno. Criada pelo Mercado Bitcoin e pela Distrito, a plataforma será lançada em agosto, com duas ofertas logo na largada, que devem somar R$ 5 milhões.

Para Guilherme Skinner, head do negócio da Clearbook, o equity crowdfunding quer ir além da busca por startups promissoras. O objetivo, acima de tudo, é chegar em mais pessoas, que antes não sabiam como investir em uma companhia que não está na Bolsa, por exemplo. “A ideia é não ficar só em quem tem R$ 200 mil, R$ 300 mil ou R$ 1 milhão para investir, mas também alcançar aqueles que têm 5 mil, R$ 10 mil, R$ 20 mil”, diz o executivo.

Com a entrada de novas plataformas, o mercado também tem se mostrado fértil para quem quer oferecer a tecnologia para tal. A Kria Investimentos, que surgiu em 2014 e é uma das pioneiras em equity crowdfunding no Brasil, acabou de lançar a KRS, um braço da companhia que vai fornecer a infraestrutura tecnológica e a assessoria jurídica para quem deseja virar uma plataforma.

A KRS já nasce com 10 clientes, dos quais seis estão registrados na CVM, entre eles a Ventiur, uma aceleradora gaúcha, e a Confiance Invest. “Nosso plano é oferecer tudo o que é commodity para as plataformas, para que elas possam se concentrar nos negócios”, afirma a Camila Nasser, CEO da Kria.

Nasser, inclusive, não vê problemas em fornecer tecnologia para potenciais concorrentes da Kria, que deve fechar 2021 com R$ 20 milhões em ofertas, para 10 companhias. “Não acreditamos em monopólio e há uma série de oportunidades para plataformas de nicho”, afirma. A KRS, que cobra R$ 120 mil por ano de uma plataforma, representa 30% do negócio da Kria….. Leia mais em neofeed 02/08/2021