Autonomy e HP: quem ganha e quem perde com o caso de fraude contábil?
Acusada pela HP de camuflar sua real situação financeira, a Autonomy pode afetar clientes, concorrentes e ainda beneficiar a CEO, Meg Whitman, e até o CEO da Oracle, Larry Ellison.
A revelação bombástica feita pela Hewlett-Packard sobre a razão de sua baixa contábil de 8,8 bilhões de dólares no ano fiscal abalou o mundo da TI. A empresa de Cupertino, nos Estados Unidos, supostamente descobriu uma fraude contábil na unidade de negócios Autonomy, empresa adquirida em 2011.
Mas a notícia, ainda que chocante, pode ter resultados positivos e negativos, de acordo com quem está envolvido no caso. Abaixo você encontra vencedores e perdedores por baixo dos escombros do anúncio explosivo feito pela HP.
Quem ganha?
Meg Whitman. Enquanto o anúncio da HP rendeu más notícias para a companhia, há uma chance de que o caso ajude a reforçar a imagem da CEO, Meg Whitman, no mercado.
“Acredito que o acontecimento vai melhorar a imagem de Meg, ou pelo menos dar alguma cobertura para o tempo e esforço que ela precisa para colocar na empresa nos eixos”, afirma o analista e presidente da Pund-IT, Charles King.
“A maioria dos problemas enfrentados HP aconteceu muito antes de ela chegar”, acrescenta King. “Agora, ela tem a tarefa pouco invejável de limpar os estábulos”, completa.
Larry Ellison. Em algum lugar dentro de uma de suas muitas residências de luxo, o CEO da Oracle, Larry Ellison, pode estar esfregando as mãos e gargalhando de alegria com o anúncio da HP.
O amor entre as duas empresas está abalado, especialmente após a batalha legal sobre tentativas infrutíferas da Oracle de parar de portar seu software para os chips Itanium utilizados em servidores high-end da HP.
Mas há também uma história entre Oracle e Ellison em relação à Autonomy e seu fundador, Mike Lynch. No ano passado, a Oracle afirmou que Lynch tinha oferecido sua empresa antes de fechar o negócio com a HP, mas a companhia de Ellison rejeitou por considerar a oferta supervalorizada. Lynch negou a aproximação com a Oracle, o que levou a Oracle a emitir uma declaração chamando Lynch de mentiroso.
Concorrentes da Autonomy. A má publicidade em torno da Autonomy pode levar potenciais clientes a procurar águas menos turbulentas. “Já há um bom número de tubarões rodeando a baleia Autonomy”, compara o analista e presidente da consultoria Real Story Group, Tony Byrne. Os concorrentes incluem OpenText, Microsoft, IBM, e na área da tecnologia de pesquisa, o motor de busca de código aberto Lucene, assinala Byrne.
Quem perde?
Acionistas da HP. As ações da HP despencaram mais de 10% na última terça-feira (20/11) para menos de 12 dólares. Em fevereiro, as ações da organização valiam 30 dólares.
Leo Apotheker. Se ex-CEO da HP, Leo Apotheker decidir procurar abrigo em um local não revelado, você pode culpá-lo. A escolha de Apotheker, ex-CEO da SAP, para liderar a HP foi vista com surpresa desde o início. Dpois de uma série de erros, seu reinado terminou rapidamente.
Embora os relatórios, mais tarde, tenham apontado que sua saída aconteceu em razão de um desealinhamento entre o conselho da HP durante seu tempo no comando, Apotheker parecia reunir uma participação ampla de culpa na situação que se desenhava na empresa.
A aquisição da Autonomy era uma realização de Apotheker, que desejava que a HP se tornasse um importante fabricante no lucrativo mercado de software empresarial. Em vez disso, mais de um ano após sua saída da companhia, Apotheker se encontra em meio a uma série de controvérsias sobre o negócio com a Autonomy.
Em um comunicado emitido na terça-feira, Apotheker disse que estava “chocado e decepcionado” por saber de supostas irregularidades na Autonomy. Ele afirmou ainda que está disposto a ajudar a HP e as autoridades a completar suas investigações.
Mike Lynch. A HP disse que vai buscar medidas legais contra a Autonomy. Uma delas pode recair sobre o fundador da Autonomy: Lynch. Lynch disse a um repórter da BBC na terça-feira que ele e sua ex-equipe na Autonomy negam totalmente as acusações e que elas são falsas. Lynch aponta que as alegações da HP são difíceis de acreditar, já que uma equipe de funcionários da empresa de Cupertino passou um longo tempo avaliando a situação financeira da Autonomy antes de fechar o negócio.
O nome Autonomy e seus produtos. A Autonomy faz software de infraestrutura em áreas como gestão de dados de pesquisa e arquivamento. Juntamente com servidores e serviços da HP, o objetivo era criar uma unidade de negócios.
Esses planos estavam difíceis de serem colocados em prática da maneira que HP esperava, e não está claro se os clientes vão ficar assustados com o escândalo contábil. “Esse é o tipo de evento que pode tornar-se uma mancha na marca daqui para frente”, comenta King, da Pund-IT.
“O escândalo de fraude provavelmente vai afetar as fortunas da Autonomy e eu acho que é uma vergonha”, avalia o analista Alan Pelz-Sharpe, do 451 Research. “A Autonomy sempre teve boas tecnologias, mas não foi capaz de aproveitar isso de forma eficaz. Nas mãos da HP, isso poderia ter sido diferente”, acredita.
Clientes Autonomy.
“A marca Autonomy na mente dos clientes já estava bastante danificada”, aponta Byrne do Real Story Group. “Se a HP tivesse conversado com usuários da Autonomy teriam encontrado clientes descontentes mesmo para os padrões da empresa”, observa. “A Autonomy era muito boa em esconder isso por meio de um PR agressivo e fortes relações com analistas”, acrescenta Byrne.
Além disso, algumas tecnologias da Autonomy são muito antigas e precisam de uma revisão, comenta Byrne. “A HP teve um grande trabalho de pesquisa e desenvolvimento quando adquiriu a Autonomy para impulsionar as soluções“, finaliza.
CHRIS KANARACUS, IDG NEWS SERVICE/BOSTON BUREAU
Fonte: Computerworld 21/11/2012