Bolha nas empresas de tecnologia? Que bolha?
Fundador da Netscape diz que as ações do setor estão baratas e que ”o mercado ainda odeia tecnologia”
Marc Andreessen, co-fundador da Netscape e da gestora de venture capital Andreessen Horowitz
Marc Andreessen, um dos maiores capitalistas de risco do Vale do Silício, diz que não tem medo: as empresas pontocom não estão supervalorizadas.
Apesar de toda especulação recente sobre uma bolha, o senhor disse que as companhias de tecnologia estão, na verdade, subvalorizadas. Sendo assim, à maneira de 1999, eu deveria tirar todas as minhas poupanças de fundos mútuos e investi-las em ações de tecnologia?
Eu não sou um consultor de investimentos, mas numa base de 30 anos, essas coisas estão baratas. Se você notar como as grandes companhias industriais como a GE estão valorizadas em comparação com as grandes empresas de tecnologia como Microsoft, Cisco, Google e Apple, as ações de tecnologia nunca estiveram mais pobremente valorizadas na comparação. Portanto, não há uma bolha – esses preços refletem o fato de que o mercado ainda odeia a tecnologia. Essa conversa de bolha tem a ver com o fato de todo o mundo ainda estar psicologicamente marcado pela crise de 10 anos atrás.
Sua empresa de venture capital, a Andreessen Horowitz, investiu pesadamente em Twitter, Facebook e Foursquare. O senhor certamente não é um observador imparcial.
É verdade, mas o contra-argumento é que eu ponho meu dinheiro onde digo para porem.
O IPO (oferta inicial de ações) de quase US$ 3 bilhões da Netscape, uma companhia que o senhor ajudou a fundar, foi citado como o início da bolha de tecnologia de 1999. O senhor se lembra de um momento em que se sentiu como se estivesse nos últimos dias do Império Romano?
Houve um ponto no fim dos anos 90 em que todos que obtinham um MBA queriam começar companhias no Vale do Silício, e a maioria deles não estava realmente qualificada para isso. Eles trouxeram todo o show paralelo de badalação, de festas, de tudo aquilo. As turmas de MBA são na verdade um indicador contrário confiável. Se todas querem ir para a atividade bancária de investimento, vai haver uma crise financeira. Se quiserem ir para tecnologia, isso significa uma bolha em formação.
Como tem sido a migração de MBA ultimamente?
Está se aquecendo de novo, mas ainda está longe de como estava em 1999. E apesar de as pessoas amarem espinafrar 99 e 2000, é preciso lembrar também quando o Google foi construído.
Depois de ouvir uma história sobre o cofundador da Foursquare, Dennis Crowley, entrando numa reunião com a imprensa trajando roupas para esportes e comendo uma banana, desenvolvi uma teoria de que bolhas poderiam ser previstas pela moda: quando fundadores de empresas de tecnologia não se incomodam em parecer executivos tradicionais, o poder virou demais em seu favor.
Acredite ou não, isso cala fundo na mentalidade íntima do engenheiro, que é muito centrado na verdade. Quando se lida com máquinas ou algo que se constrói, a coisa funciona ou não funciona, por melhor vendedor que você seja. Por isso, os engenheiros não só não se importam com a aparência superficial, como veem as tentativas de parecer descolado como fundamentalmente desonestas.
Isso me lembra as críticas de Mark Zuckerberg ao filme A Rede Social. Ele disse que os “cineastas não conseguem conceber que alguém possa construir alguma coisa porque gosta de construir coisas”.
Aaron Sorkin foi absolutamente incapaz de compreender a verdadeira psicologia de Mark ou do Facebook. Ele não consegue conceber um mundo em que status social, ou transar, ou usar drogas, não é a coisa mais importante.
Algumas pessoas o veem como um oráculo no Vale. Eu esperava que o senhor me surpreendesse com alguma coisa que vê no futuro.
Gordon Bell, da Microsoft, está trabalhando em computação para vestir – uma computação que literalmente registra tudo ao seu redor o tempo todo.
Em breve estaremos lidando com leis antijogos para que os motoristas não possam jogar videogames vestíveis enquanto estão dirigindo numa rodovia?
Isso pressupõe que eles estão dirigindo. O Google está trabalhando em carros que se dirigem sozinhos, e parecem funcionar. As pessoas são tão ruins para dirigir carros que os computadores não precisam ser especialmente bons para ser muito melhores.
Toda vez que você entra numa fila no DMV (o departamento de veículos motorizados nos Estados Unidos) e olha em volta, você gostaria que todas aquelas pessoas fossem substituídas por drivers de computador. Dentro de 10 a 20 anos, guiar seu carro será considerado tão imoral como fumar cigarros é atualmente.
Fonte: O Estado de São Paulo11/07/2011