O Banco Central (BC) aprovou na segunda ­feira, primeiro dia útil do ano, a compra do HSBC Brasil pelo Bradesco. A informação foi antecipada pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, na manhã de ontem e confirmada no fim da tarde pelo Bradesco à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A aprovação dada pelo regulador virá acompanhada da assinatura de um acordo para manutenção de valor de tarifas e de agências e melhora no atendimento de clientes, forma de mitigar os impactos concorrenciais da compra. “Esse acordo será firmado entre o Banco Central e o Bradesco nos próximos dias, nos termos das condições já acordadas”, informa texto enviado pela assessoria de imprensa do BC.

O Bradesco fechou em agosto a compra das operações do HSBC no país, por US$ 5,2 bilhões ­ ou R$ 17,6 bilhões, no câmbio da época. O negócio incluiu todas as áreas do banco britânico, como varejo, atacado, seguros, gestão de ativos, além das agências e clientes.

Com o aval do BC, a conclusão da operação depende apenas da análise da transação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A expectativa de executivos próximos da operação é que o Cade se manifeste sobre o negócio nos próximos 30 a 60 dias e que os ajustes finais da transação levem mais 20 dias para efetivo término da compra. Na visão desses executivos, o órgão de defesa da concorrência deve aprovar também o negócio, mas com alguma restrição. Espera-­se que o Cade possa até pedir a venda de algum ativo envolvido na compra, mas a aposta é que tais exigências não vão inviabilizar a operação ou mudar significativamente o valor a ser pago.

O pagamento pelo HSBC ocorrerá após a conclusão da operação e sairá do caixa do Bradesco, com impactos negativos sobre seus índices de capitalização. O banco da Cidade de Deus, porém, já vem tomando medidas para reforçar esses indicadores.

No fim do ano passado, por exemplo, a NCF Participações, uma das empresas que controlam o Bradesco, realizou uma captação de R$ 5 bilhões em debêntures de cinco anos, tendo o Banco do Brasil como coordenador líder, pagando 108% do CDI. Os recursos foram investidos em uma emissão de letras financeiras subordinadas, que podem ser contabilizadas como capital pelo Bradesco, conforme apurou o Valor. A emissão soma­-se a um aumento de capital de R$ 3 bilhões anunciado pelo banco em novembro.

Para conseguir a aprovação no Cade, os bancos precisarão também vencer a resistência do sindicato dos bancários, que se opõe à transação. Na manifestação ao órgão concorrencial, o sindicato procurou demonstrar uma suposta prática de “gun jumping”, que, no jargão da área, significa que o Bradesco já estaria atuando dentro do HSBC antes da aprovação regulatória, o que é vedado pelo regimento do Cade. Na documentação, o sindicato menciona desde e­mails enviados a funcionários até a solicitação de confecção de carimbos nos quais o HSBC Brasil já aparece como “parte do grupo Bradesco”.

O Banco Central também autorizou o HSBC a assumir novo formato no Brasil. O banco britânico passará a atuar no país apenas na condição de banco de investimento. Para tanto, solicitou ao BC a mudança do objeto social da HSBC Leasing Arrendamento Mercantil para banco de investimentos.
O HSBC Brasil teve prejuízo de R$ 241,1 milhões no terceiro trimestre de 2015, ante prejuízo de R$ 404,4 milhões em igual período de 2014, segundo dados do BC. Valor Econômico Leia mais em newsnet 06/01/2016 –