Estrutura de marketplace permite a plataformas como a paranaense James Delivery e a capixaba Shipp concorrer com a espanhola Glovo e a colombiana Rappi

A onda dos aplicativos que prometem delivery rápido de quase qualquer produto vem ganhando concorrentes locais. O modelo combina uma rede de entregadores credenciados, que atuam por conta própria, e um amplo marketplace por trás de cada plataforma.

Ao lado de pioneiras como a espanhola Glovo e a colombiana Rappi, criadas em 2015, surgiram players como a paranaense James Delivery, em 2016, e a capixaba Shipp, no fim de 2017. De refeições e medicamentos até itens como material de construção ou utensílios domésticos, elas prometem atuar como assistentes pessoais e entregar tudo – até o que não estiver no catálogo virtual de cada uma.

“Trabalhamos com dois tipos de delivery: o marketplace, que fica no catálogo, e o avulso, que rastreamos pelo Google Maps. Então, se a pessoa quer comer em casa aquela macarronada ou doce da esquina dela, nós também conseguimos trazê-los”, explica Lucas Ceschin, um dos fundadores da James Delivery.

Com os colegas Juliano Hauer, Eduardo Petrelli e Ivo Roveda, Ceschin estudava na Califórnia, nos EUA, quando teve contato com o modelo de multidelivery. Eles encomendaram temperos em um supermercado, pela internet, e receberam o pedido entregue por um motorista. Quando voltaram a Curitiba, começaram a estudar o mercado.

“Encontramos muitas empresas chinesas e norte-americanas que faziam multientregas, mas por aqui ainda havia muito mercado a explorar. Quisemos investir no nosso país, que era carente de opções”, afirma Ceschin. Assim, fundaram a James Delivery em maio de 2016.

Pela plataforma, disponível em site e aplicativo, o interessado em atuar como entregador se inscreve e seleciona sua cidade, melhor horário de trabalho e veículo. A startup cobra uma taxa de 10% do valor da compra (com preço mínimo de R$ 6,99) e paga ao entregador um frete referente à distância percorrida. Com geolocalização, o app encontra o entregador mais próximo do cliente que faz um pedido, além de indicar o roteiro para a compra em um parceiro ou estabelecimento avulso.

Em 2017, a James Delivery realizou 100 mil entregas. Apesar de contar com 400 conveniados, efetuou 3 mil corridas de lojas avulsas. Para 2018, a ideia é aumentar em dez vezes o número de entregas, diz Ceschin.

A empresa de Curitiba também atua nas catarinenses Florianópolis, Joinville e Balneário Camboriú, nas gaúchas Porto Alegre e Caxias do Sul e ainda no norte paranaense, em Londrina e Maringá. São Paulo completa a lista de nove cidades onde já está presente. No total, conta com 750 entregadores, 70% dos quais atuam com bicicleta.

Em expansão para São Paulo, maior mercado consumidor do País, a capixaba Shipp já passou dos mil entregadores, afirma o CEO, Rodrigo Miranda. Com os sócios Tomás Scopel, Mario Miranda e Renato Antunes Júnior, ele criou a startup em novembro de 2017.

“A proposta facilita a vida do comerciante porque elimina a necessidade de este arcar sozinho com os custos de um serviço de entrega convencional”, diz Scopel, diretor de Marketing. Com 300 lojas credenciadas entre Vitória, Vila Velha (ES) e Niterói (RJ), a Shipp chegou recentemente à região do ABC paulista.

Pioneiras
A colombiana Rappi, criada em 2015 pelos sócios Felipe Villamarin, Sebastian Mejía e Simón Borrero, chegou ao Brasil em agosto de 2017. Hoje, atua em dez cidades no País, nove delas capitais, com previsão de atingir mais 15 municípios até o fim do ano.

A taxa de entrega parte de R$ 6,90 para um raio de até 3 km e é toda direcionada ao entregador. A startup monetiza com a taxa mensal cobrada dos estabelecimentos credenciados no marketplace, que varia de acordo com os preços de cada produto.

A lista de parceiros inclui redes como Starbucks, Pão de Açúcar e Eataly. Para encomendas fora do catálogo, o cliente paga R$ 14,00 pelo serviço, mais o valor fixo da entrega. A empresa oferece ainda uma assinatura mensal de R$ 38,00, que proporciona ao consumidor isenção da taxa de frete e desconto no valor de pedidos avulsos.

A startup também presta serviços de entrega não relacionados a compras. Um exemplo é o caso de um cliente de Porto Alegre que se trancou dentro do próprio apartamento e pediu um entregador que pudesse buscar a chave com outra pessoa para abrir a porta.

No início de setembro, a Rappi anunciou ainda o lançamento de uma função no aplicativo que permite aos usuários transferir dinheiro entre si e pagar compras em estabelecimentos físicos.

Também fundada em 2015, mas em Barcelona, a Glovo chegou ao Brasil em fevereiro de 2018. Hoje atua em São Paulo, Santos (SP), Campinas (SP), Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Salvador e Fortaleza.

A empresa recebeu neste ano um aporte de 500 milhões de reais e está presente na Europa (Espanha, Itália, França, Portugal, Romênia e Turquia), América do Sul (Brasil, Argentina, Chile e Peru) e África (Marrocos e Egito), com previsão de atingir a África do Sul em 2019.

“Temos uma equipe central em Barcelona que escolheu os países para as novas filiais, focando em cidades muito populosas e de deslocamento complexos. Depois consolidamos uma equipe operacional para cada país”, relata o diretor de operações no Brasil, Bruno Raposo.

“Estamos tendo resultados sólidos e, por já estar rentável na Europa, tivemos aportes que bancaram a chegada em outros continentes. Também aumentamos a equipe de engenheiros de produção e tecnologia na Catalunha para ter escalabilidade, expertise e baixo risco estratégico”, acrescenta.

Para 2019, a Glovo deseja tornar o Brasil o seu maior mercado e explorar outros países similares, com metas de atingir México e Colômbia.

Diferente dos demais players, a Glovo só atua com entregadores motociclistas, que ficam com 70% do valor líquido da taxa de entrega. O faturamento vem dos 30% cobrados pela intermediação e da tarifa de cadastro de R$ 20 por semana dos motociclistas. O estabelecimento credenciado precisa ter uma impressora exclusiva para receber os pedidos. O aparelho tem mensalidade de R$ 110.

Para o executivo, o mercado é grande e há espaço para concorrência saudável. “Temos de 30 a 40 milhões de pedidos por ano. Vejo esse nicho com tanta demanda quanto o setor de transportes. Há uma fatia boa para os mais destacados. E a última crise fez com que o consumidor se reinventasse, saindo menos de casa e impulsionando os deliveries”, avalia. Leia mais em dci 05/09/2018