A venda dos ativos faz parte da redefinição estratégica do grupo dos Pentagna Guimarães, que não conseguiu dar escala à operação destinada à pessoa física

No meio do ano passado, o banco vendeu a processadora de cartões para o Magazine Luiza

Em dezembro, selou acordo com o next, dando a opção aos seus cerca de 700 mil clientes para transferir os serviços de conta corrente para o banco digital do Bradesco Faros Participações e Galapagos Capital vão assumir, respectivamente, a asset e a DTVM do banco BS2 (antigo Bonsucesso). A venda dos ativos faz parte da redefinição estratégica do grupo dos Pentagna Guimarães, que não conseguiu dar escala à operação destinada à pessoa física e decidiu voltar esforços para o atendimento a pequenas e médias empresas.

Leia também demais posts relacionados a Instituição Financeira no Portal Fusões & Aquisições.

BS2 faz venda dupla

 

No meio do ano passado, o banco vendeu a processadora de cartões para o Magazine Luiza, e em dezembro selou acordo com o next, dando a opção aos seus cerca de 700 mil clientes para transferir os serviços de conta corrente para o banco digital do Bradesco. Para o BS2 ficou difícil competir no varejo, que ficou mais congestionado, com o avanço de plataformas como XP e BTG Pactual e instituições nativas digitais como o Nubank.

“Numa estratégia exclusiva para a pessoa jurídica, a gente viu mais oportunidade de se diferenciar do que no negócio de pessoa física, que tem mais competição e ofertas muito similares entre um banco digital e outro”, diz Juliana Pentagna Guimarães, vice-presidente de relações com investidores do BS2 à frente da DTVM e da asset.

O BS2 chegou a oferecer a gestora e a DTVM para a Faros, diz Samy Botsman, sócio-fundador da Faros. Mas como o grupo que nasceu como escritório de agentes autônomos já tinha selado sociedade com a XP para a criação de uma corretora, a escolha foi ficar apenas com a asset. A distribuidora acabou nas mãos da Galapagos Capital e representa um atalho para o grupo de investimentos escalar seus negócios digitalmente, além de passar a ser dono da própria custódia.

Para a Faros, a aquisição acrescenta cerca de R$ 800 milhões em fundos exclusivos e carteiras administradas, com tíquete médio relativamente alto, de R$ 25 milhões, formado por recursos de “family and friends” do grupo dos Pentagna Guimarães.

Adicionar uma gestora à corretora em construção significa assumir uma estrutura de multi family office já pronta, diz Botsman. “A corretora apenas executa ordens e distribui as estratégias do braço de gestão. A asset pode estruturar produtos, fazer gestão discricionária, uma série de serviços e produtos que não estão no escopo de uma corretora. Para o grupo, é muito bom ganhar essa musculatura.” Em paralelo, ele conta haver um acordo para que o BS2 encaminhe os leads de pessoa física para o braço de investimento da Faros.

A Faros obteve sinal verde do Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade) e aprovações da primeira fase do Banco Central (BC) para criar sua corretora, em que a XP terá participação de 28%. O grupo está em conversas para a entrada de um novo sócio estratégico, diz Botsman. A ideia é vender uma fatia de 10%, sem abrir mão de controle.

Será a ponte para entrar no mercado internacional. Aos números de hoje, se estivesse operacional, a corretora consolidaria uma carteira de R$ 25 bilhões. Uma vez integrada a estrutura de gestão do BS2, a expectativa é que a asset da Faros venha a gerir R$ 2,5 bilhões.

Já a Galapagos faz o caminho inverso e passa a contar com uma DTVM, herdando uma base de 12 mil investidores, ao seu negócio que hoje é majoritariamente de gestão. Com R$ 5,2 bilhões de patrimônio, e cerca de 9 mil clientes ativos em diversas estratégias, muitas das operações de renda fixa são originadas dentro de casa, afirma o sócio Carlos Fonseca.

“Enquanto o BS2 vai focar na pessoa jurídica, o nosso é um movimento para o mundo da pessoa física”, diz. “Eles construíram uma DTVM no estado da arte em tecnologia e time. A plataforma tem uma escalabilidade grande, torna possível crescer o negócio de forma exponencial e traz uma autonomia importante.”

Deter a custódia, explica Fonseca, é um pilar valioso da transação porque a Galapagos deixa de depender da contratação de terceiros e passa a reter o cliente que comprava créditos e produtos da asset por meio de outros distribuidores. No ano passado, ele conta ter originado algo próximo de R$ 3,5 bilhões em ativos de crédito, e para 2022 espera chegar à casa dos R$ 8 bilhões. Em gestão, ele estima atingir R$ 10 bilhões até dezembro. A grade da asset inclui fundos líquidos, estruturados e listados em bolsa — imobiliários e da cadeia do agronegócio.

Com a DTVM, de quebra a Galapagos ganha uma plataforma que já conta com home broker, Tesouro Direto, fundos, ofertas de mercado de capitais e renda fixa. A ideia não é ter, contudo, distribuição por meio de agentes autônomos, e sim usar mais o modelo americano de aconselhamento financeiro, em que o profissional que faz a recomendação é remunerado apenas pelo cliente. Fonseca diz que da aproximação com o BS2 também há muita sinergia a ser aproveitada pela frente.

Ao se voltar para pequenas e médias empresas, ficou o dilema do BS2 do que fazer com os ativos relacionados à pessoa física. “A demanda por investimentos das empresas é mais simples, ligada à gestão de caixa e liquidez, não precisa de uma DTVM com 250 produtos de investimentos”, afirma Juliana. Debaixo da plataforma destinada ao varejo, com aplicações a partir de R$ 100, tinha a asset que atende um público totalmente diferente, formado por famílias e indivíduos de alto patrimônio.

A combinação de Galapagos e Faros para assumir respectivamente essas operações acabou dando encaixe. “Não foi um erro percorrer o caminho no digital, o banco ficou conhecido. Mas tem horas que se tem que fazer escolhas, se realmente quiser buscar diferenciação.” O plano é ter uma oferta completa e digital para as empresas.Valor Econômico Leia mais em inteligenciafinanceira 07/02/2022