BTG adquire direito de comprar 15% da Quest
A Quest Investimentos, do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, uma das mais antigas gestoras independentes do mercado, fechou parceria com o banco de investimentos BTG Pactual. Pelo acordo, o banco investirá uma parte de seu capital nos fundos da Quest e receberá em troca uma opção para comprar 15% do capital da gestora. As partes não divulgaram detalhes do acordo, como o prazo para o exercício da opção ou o valor investido. “Vão ser alguns anos”, limita-se a dizer Walter Maciel Neto, sócio da Quest.
Maciel deixa claro que não há planos de vender a gestora. O objetivo da parceria é fortalecer a Quest com uma marca reconhecida no Brasil e no exterior, o que facilitará a captação de novos clientes, especialmente fundos estrangeiros internacionais. “Alguns dos maiores fundos soberanos do mundo, como o China Investment Cop (CIC), o de Cingapura (GIC) e o de Abu Dabi (ADIC), já são sócios do BTG, e nossa associação deve permitir um acesso mais fácil aos investidores institucionais de todo o mundo”, afirma.
Outro ponto importante é que os recursos do BTG investidos na Quest são de longo prazo, o que dará mais tranquilidade para o gestor montar suas estratégias e seus planos de negócios. “Teremos também mais recursos para começar novos fundos, o chamado ”seed money””, explica. Outra vantagem é que a Quest poderá trocar experiências com a equipe do BTG, um dos principais bancos de investimento do país, em áreas como tecnologia, estratégias de negócios e visões do mercado. “O BTG acompanha e participa de diversas operações financeiras não só no Brasil como ao redor do mundo, e isso representa um conhecimento importante”, diz Maciel.
Hoje, os principais acionistas da Quest são Mendonça de Barros, com cerca de 20%, o próprio Maciel e Paulo Pereira Miguel, cada um com cerca de 15%. “Continuaremos com uma estrutura equilibrada de acionistas e manteremos nossa independência”, deixa claro Maciel, acrescentando que o BTG não terá representantes no conselho da Quest.
A venda ou associação de gestores brasileiros com instituições estrangeiras é uma tendência, afirma o executivo. Ele cita o exemplo de casas como a Arx, adquirida pelo BNY Mellon, a GAP, que se associou à Prudential, a Gávea com o JP Morgan, e mais recentemente também distribuidores, como a GPS e o grupo suíço Julius Baer. “Essas associações mostram o interesse dos estrangeiros pelo mercado brasileiro de gestão”, diz Maciel.
A expectativa é de que o volume de recursos administrados por esses gestores cresça acentuadamente nos próximos anos. “O volume sob gestão no Brasil é pequeno em relação a outros países e com pouca renda variável para uma economia do tamanho da nossa”, diz Maciel. A queda maior dos juros esperada para os próximos meses tende a acentuar esse processo. “A realidade da economia vai se modificando com o juro real mais baixo e vai forçar a busca por ativos de risco”, afirma Maciel.
Ele admite que não espera ver uma corrida de pessoas físicas e institucionais para colocar grande parte do patrimônio em ações. “Temos um ciclo de aprendizado, mas vamos ver uma maior procura por ativos de risco e por fundos multimercados, além de carteiras ligadas ao setor imobiliário ou de crédito privado”.
Ele observa também que o mercado tem um grande número de gestores novos com patrimônio baixo, em torno de R$ 100 milhões, que podem ter dificuldade em atender às exigências de governança, estrutura, equipes. “E o ano que vem deve ser de consolidação no setor de gestão.”
A Quest também passou por mudanças importantes desde 2008, a começar pela equipe. Neste ano, alguns antigos associados saíram, como Marcelo Villela de Carvalho e o gestor de renda variável, Fábio Spinolla, substituído por Alexandre Silvério, que comandava a asset do Santander. A equipe de ações ganhou importância e hoje tem nove pessoas. Luis Alberto Marques, ex-Banco Boavista e GP, também deixou a gestora.
Ao mesmo tempo, a asset buscou diversificar seus ativos, antes fortemente concentrados em fundos multimercados macro, o que a tornava muito dependente de uma estratégia. A Quest passou de um patrimônio de R$ 300 milhões em 2006 para R$ 3 bilhões em 2007, valor que caiu para R$ 600 milhões em 2008, no auge da crise internacional. “Mas em 2009 já tínhamos atingido R$ 1,4 bilhão, e hoje estamos com R$ 1,5 bilhão”, afirma Maciel.
Esse patrimônio também tem um perfil diferente: em 2007, 95% dos recursos estavam em multimercados macro, enquanto hoje 85% estão em ações e long/short. “Mas ainda usamos uma profunda visão macroeconômica para balizar nossas decisões em renda variável, é o nosso diferencial”, explica Maciel.
O perfil dos investidores da gestora também mudou, com maior presença de grandes clientes institucionais e menos pessoas físicas. De zero em 2008, os fundos de pensão respondem hoje por 60% dos ativos da Quest. “Eles têm um horizonte mais parecido com nossos objetivos, de investimentos de longo prazo”.
Essa mudança levou a Quest a se tornar também mais sólida e institucionalizada. “A gestão é feita por equipes, não é mais em cima de uma pessoa só”, diz. A gestora investiu também em infraestrutura, controles de risco e sistemas, criando um plano de contingência com a IBM de recuperação total de dados das operações e uma sala com 20 lugares para funcionários operarem.
Tudo isso para atrair os investidores institucionais e enfrentar a maior concorrência, que virá de fora. “Os estrangeiros virão para o mercado brasileiro, quer pela compra de gestoras locais, quer por criação de empresas”, acredita Maciel. Por Angelo Pavini
Fonte:Valor25/11/2011